Quero viver meus desenganos,
chorar na chuva tarde ensolarada.
Quero sobrar-me em quase nada,
renascer dos dias mais profanos.
Quero deitar sobre a coisa morta,
aliviar-me do mal que me conjuga.
Prevaricar aquilo que me suga,
reinventar tudo que me exorta.
Quero rezar o medo do além-mundo,
revigorar os pecados dos mortais.
Estender-me até o mais alto cais,
e dilacerar-me no caos mais profundo.
Quero incitar todo o ledo engano,
punir a bondade dos malevolentes.
Regozijar dos regozijos inocentes,
num riso forte, valente e insano!
Quero naufragar no mar de gente,
sumir na contradição da natureza.
Acontecer-me abrupto da riqueza,
do que não é, sequer, descontente.
Quero vingar-me da minha fortuna,
emboscá-la em sua própria vaidade.
Destruir-me na pureza da piedade,
para conceber-me vigoroso e turuna.
Nenhum comentário:
Postar um comentário