terça-feira, 25 de setembro de 2012

Ab imo pectore

Quero viver meus desenganos,
chorar na chuva tarde ensolarada.
Quero sobrar-me em quase nada,
renascer dos dias mais profanos.

Quero deitar sobre a coisa morta,
aliviar-me do mal que me conjuga.
Prevaricar aquilo que me suga,
reinventar tudo que me exorta.

Quero rezar o medo do além-mundo,
revigorar os pecados dos mortais.
Estender-me até o mais alto cais,
e dilacerar-me no caos mais profundo.

Quero incitar todo o ledo engano,
punir a bondade dos malevolentes.
Regozijar dos regozijos inocentes,
num riso forte, valente e insano!

Quero naufragar no mar de gente,
sumir na contradição da natureza.
Acontecer-me abrupto da riqueza,
do que não é, sequer, descontente.

Quero vingar-me da minha fortuna,
emboscá-la em sua própria vaidade.
Destruir-me na pureza da piedade,
para conceber-me vigoroso e turuna.

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