sábado, 5 de janeiro de 2013

João e Maria

Numa noite estranha de carnaval, João bebe além da conta. Embriagou-se completamente. Estivera tão embriagado que mal saberia soletrar seu próprio nome. A noite desenrola-se pra ele em flash. Acorda no dia seguinte – numa ressaca infernal – e vê-se deitado numa cama ao lado de uma mulher que desconhece. A mulher está amarrada à cama, e ele não se lembra dela. Ele percebe que a mulher está dormindo e decide ir embora, sem se fazer notar. 

Após o carnaval por um infortúnio da vida, reencontra a tal mulher e, no mesmo instante, reconhece-a. Tenta evitá-la, mas ela vai ao seu encontro. A mulher apresenta-se. Chamava-se Maria. Ela diz a João que tinha sido estuprada por ele e que se ele não se casasse com ela, o futuro dele seria mais incerto que o do ganhador da sena.

João está, então, num beco sem saída. Não se recorda de nada daquela noite, exceto o fato de ter realmente acordado ao lado daquela mulher que agora lhe propunha algo estranhíssimo. Ele tenta descobrir os motivos da mulher. Ela apenas diz que não é mulher de dois homens, e dá o cheque-mate. Ou casa, ou cana. 

Três meses após o fatídico dia de porre, casam João e Maria. Desde então João é um miserável, um homem sem ambições, que vive para a mulher e para a cachaça. Maria, ao contrário, é uma mulher feliz, que contenta-se em ser casada e ter um bom marido, que a respeita. 

Passam-se os anos, e a angústia de João aumenta exponencialmente. Somam-se mais de dois anos de casamento e João só tem uma única companhia fiel, a infelicidade. O casamento era uma fraude e ele era um criminoso que estuprara a mulher com a qual se casara. A vida do miserável era um eterno conflito das desgraças que carregava. Maria era uma mulher fantástica. Uma ótima dona de casa. Um mulher de muitas virtudes, e além disso nutria por João um amor incomum, tão incomum quanto o fato de casada com seu próprio abusador. 

Pensava João que Maria, talvez, fosse doente. Como ela poderia ter feito proposta de casamento ao criminoso que a poluiu? João jamais entendeu, e jamais questionava Maria sobre o passado. 

No auge da infelicidade João resolve se matar. Depois de fazer sexo violentíssimo com sua esposa, empunha o revolver que guardava no criado e aponta-o para sua própria cabeça. Maria desespera-se ao ver João diante da morte, e – num átimo de arrependimento - conta para João que a nunca existiu estupro. Conta que inventara a história para João consentisse em se casar com ela. 

Maria conta todo o enredo da noite de carnaval para João. Declara-se para ele, dizendo que ele é e sempre será o único amor da vida dela. E que se ele se matar, a matará. João então aponta o revolver para Maria, que não o teme. Maria ainda diz que se pudesse escolher, desejaria morrer pelas mãos de seu único e grande amor. João desfere um safanão na cara de Maria, que cai sobre a cama do casal. Maria se levanta e abraça João. 

João diz barbaridades a Maria, que só consegue chorar. João empurra Maria e desfere-lhe outro safanão na cara. Esta caí novamente sobre a cama. João então se senta na cama, e fica em silêncio, enquanto Maria chora. Após longos minutos, João puxa Maria para os seus braços, e diz que ela arruinou sua vida. Diz, entretanto, que apesar de tudo aquela era a maior prova de amor que alguém poderia dar a outra pessoa e que aquele amor só poderia ser o mais puro amor já concebido. João, então, beija Maria longamente, e eles então fazem amor pela primeira vez depois de muitos anos de casados. Só então foram realmente felizes como um verdadeiro e apaixonado casal.

Um comentário:

  1. "E pela minha lei, a gente era obrigado a ser feliz".

    De outro "João e Maria" que combina muito bem com esse.

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