sexta-feira, 21 de junho de 2019

A promessa

Devora-me, ó pecado lascivo
que perpetua minha maldade.
Devorar-te-ei toda dignidade,
em cada sonho permissivo.

Toma-me, se o puder, por bandido,
louco, vadio, réu ou truão.
Toma-me além da própria razão,
pois por nada serei impedido.

Se a promessa hei cumprido,
cumprirei também meu fado,
pois tanto mais for exigido,

mais esgotarei meu pecado
de viver bem e bem-vivido,
enquanto na terra cultivado.

Quis do amor ardores

Quis do amor ardores,
e fostes tu pura ilusão.
Amar por quê, amor?
Se amor não é lição.

Revigorei viris plumas
de sentimentos vãos,
encontrando escumas
em lírios-mares sãos.

Eis-me em libélulas,
pueris tempestades,
castos sonhos [piedades!]

altivo em todas células,
e represado em vaidades...
pois navego já sem velas.