domingo, 19 de julho de 2020

Decomposição

Quis, quando ainda perdido, encontrar
o que em mim não perdido estava,
mas desencontrado desmanchava,
perecendo o que havia de acabar.

Um tanto fracionado e desconcebido,
era tanto mais estéril e desmembrado
que nada desconcertava concentrado,
desaparecendo o que havia perdido.

Quanto mais revolvia, mais danificava,
mais concebia, mais notava purificação
mais perecia, mais perdia, mais fatiava,

e mais, e mais, e mais... decomposição.
Perdendo tudo, e tudo já se extraviava,
pois não há que se perder a perdição.

Mundo de Possibilidades

Sob a escuridão fulgente
que o imo dorido sustenta
[e a imagem pueril afugenta
a vida se esvai (docemente).

Tudo quanto pode é decadente,
e o mundo de possibilidades
é estéril. É dor. Fatalidades
que mais adoecem o doente.

Eis a enfadonha adversidade
que é viver em dois santuários,
[além da tormentosa realidade...

onde o gozo da possibilidade
é contido pelos mortuários...
dos sonhos antirefratários.

Joie de vivre

Espalha-se pela relva o odor,
a opulência, a inanimação
do que jamais fez-se ação,
no relativismo vil e incolor.

Há-de se falar em gustação,
da servil juventude decaída,
cuja morte é serva da vida,
e a vida é retalho-extinção!

Gustação que não há, Adão!
É tudo perversão indevida,
castigo ao bondoso-coração,

pretérito verbo sem saída,
para além da mera negação
do “não-deve” viver a vida!