domingo, 17 de agosto de 2008

Flogose XXI

Arrenhei alguns papéis. Os arranhei já fazia muito tempo. Eu tinha um final de poesia, mas me faltava o começo. Um insight surgiu em minha cabeça iluminando-a de forma inesperada. Sentei em frente a tela do computador e me dispus a terminar o que havia escrito. Já não era sem tempo fazer isso. Tentei imaginar o que já lhe havia escrito sobre o vento e sobre beijo. E consegui, talvez sem muito sucesso, mas consegui tirar algo da mente para fazer o prelúdio daquela poesia que estava perdida entre as muitas folhas de papeis no meu quarto. Me concentrei o máximo que pude e então esperei que o próprio vento personificasse as palavras que precisavam sair para completar aquilo que minha mente recusava criar. Na sacada do meu quarto o vento começou a fazer pequenos barulho e senti que era hora de começar a escrever. Deixe-me por alguns segundos na sacada para que pudesse melhor ouvir o que este vento nobre e leal tinha a dizer e ele falou, como nunca havia feito antes. É impressionante o que ouvimos quando nos concentramos na natureza. As vezes não sei se isso que me ocorre é real ou se imagino. Uma coisa ou outra sempre me sinto satisfeito quando isso me abastece. Não só o vento ou as noites estreladas, mas tudo. O conjunto é que me faz querer estar na sacada. O vento frio cantando, as árvores dançando e a lua iluminando, nesta pista que estou e é aí que permaneço a maior parte do tempo. E mesmo que tudo esteja distante ou que tudo seja apenas uma perspectiva da minha mente, sei que isso é real. Que isso é parte do que faz as coisas serem como são. Algumas pessoas acreditam na fé, eu gosto de acreditar nas estrelas e no potencial delas iluminarem a vida da gente, como faz o sol com as plantas. Como quando de manhã bem cedo acordo e vejo as abelhas pousadas sobre as plantas e há nelas, naquelas plantinhas, pequenas gotas de orvalho que o sol evapora dando a vida que a planta tanto precisa. O vento para mim é como o sol para as plantas e por isso confio a ele o destino dos meus beijos. E foi assim que surgiu a inspiração para criar algo sobre saudade. Sabe o que é saudade? Sempre me pergunto o que é quando fico perdido na sacada olhando o céu ou quando acordo cedo fico olhando a natureza. Já cheguei a pensar se as abelhas sentem saudades das plantas que beijam. Para mim é certo que elas sentem saudades, pois do contrário não voltariam a beijar as plantas no outro dia. Todavia, é um tipo de saudade que consome, que faz sempre querer mais, querer ir além para satisfazer-se e satisfazer ao outro. Esse sentimento que deveria ser preservado num mausoléu ou nas profundezas do mar. O querer satisfazer ao outro é o sentimento que dignifica as pessoas, pois enobreçe ambas almas. Assim surge a saudade. A saudade poderia ser explicada pela perda ou afastamento de alguma coisa que muito gostamos. Essa perda gera um sentimento de querer lembrar aquilo e querer fazer aquilo estar presente a qualquer preço. A saudade é um sentimento intenso e puramente emocional. Foi assim que surgiu beijos de saudade, qual agora transcrevo. Beijos de saudade Oh! sereno vento que no céu é feito, e que em meus aposentos me acalma faça um favor a esta pobre alma que não descansa sobre este leito. Socorre este homem que vive perdido... Procure sua amada que vaga na vida e lhe entregue, onde estiver acolhida, os versos que há tempo anda esquecido. 'Por este vento de pura ingenuidade, Qual foi confidente de amor, mandei meus beijos secretos de paixão e lealdade... Para que guardes, amor, como guardei os teus lábios molhados de saudade... Nos beijos de amor que lhe agora enviei.' Obs.: O vento ainda não entregou meu beijo, mas sei que o fará. Como sempre o faz quando lhe peço. O vento é leal e antes de você receber o meu beijo eu recebi o vosso por ele. As palavras que compõem o poema vão junto ao beijo, como se fossem únicos. Quanto de pensamento tenho depositado neste poema e há quanto tempo tenho isso feito. Contudo, escrever sobre saudade e beijo é relembrar o passado molhado e adulcicado que meus lábios não podem esquecer. Não podem.

2 comentários:

  1. Nossa! Você foi ao meu blog, me elogiou e eu vim aqui agradecer, mas aí me deparo com seu texto e vejo que quem tem que elogiar sou eu!
    Fiquei admirada com esse texto, e isso antes de ler a poesia. Quando terminei de ler tudo, pensei na sinceridade e emoção que foram passadas com aquelas palavras. E que lindo receber um poema do vento, acompanhado de um beijo de saudade.
    Agora vou terminar de ler seus textos dessa página pra me admirar um pouco mais. Saiba que pelo que pude ler até agora é certo que haverá uma volta minha por aqui. E você é que deve ser parabenizado pelos escritos.
    Fico feliz que tenha me encontrado.

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  2. Só pra constar... eu tava certa, me impressionei mais e mais com cada texto.

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