segunda-feira, 28 de julho de 2008

Flogose II

Entre 27 e 28 de junho de 2008. Volto ao antigo papel. Volto ao hábito antigo na esperança de encontrar nele as palavras que hei perdendo. Aquelas que vinham perdendo na constância do tempo, junto ao formato das minhas letras de rabisco. Outro hábito que venho perdendo é o que querer escrever, talvez pela falta de prática, talvez pela falta do que escrever. Minhas perspectivas nas atuais conjunturas já não são as melhores... Nem o céu, que coadunava com as palavras de outrora, tem ajudado a inspiração. Se fosse eu pintor, não haveria quadros há tempos. Saiu do meu quarto e vou brincar de jogar estrelas no céu, felizmente está dando certo, pois elas voltam a aparecer. E melhor que brincar de jogá-las, é vê-las brilhar com intensidade tal de um sol gigantesco. Continuo a brincadeira, saudoso dos tempos em que elas me eram inspirações. Sinto um frio sair do solo e percorrer meu corpo. Esse frio que atravessa as costas e chega ao estomago é solicito e bondoso, permanecendo por um tempo valioso dentro do meu corpo, tempo que me faz lembrar dedos paralisados e cólicas neurais... Volto a brincar de jogar estrelas no céu. Brincando milhões de estrelas aparecem naquele céu negro de antes. E continuar brincando é um mal, e sem dúvida, um prejuízo para as memórias das navegações em alto espaço, de quando as estrelas eram meus guias pelas correntes espaciais e pelas nebulosas explosivas. Oh! como fazem falta aqueles buracos de verme. A metafísica era uma companheira inseparável de aventuras mil e de viagens pitorescas pelo universo em expansão. Navegar naquele mar negro era com o andar por labaredas frias, e nadar no mar gélido de fogo, pois achava ali uns sentidos nunca antes experimentados, cujos olhos não descreveriam com pericia e autenticidade. Hoje o céu – que aparenta ser de gelo – atravessa o vidro da janela e os ferros que sustentam a janela suspensa da porta, que se encontra aberta, e junto ao céu um arrefecido vento se anexa ao quarto sorumbático, da qual me aposento. Tudo, que jamais foi cáustico, é agora mais frígido. Meus olhos fisgam a friagem e dá a ela minhas pupilas como sectárias, crente de que assim terá fechado os olhos para um mundo e aberto para um microcosmo mais audacioso e mais produtivo, ledo engano. Já faltam poucos minutos para o próximo dia e a noite não tem nada de soporífera, ao contrário, é anti-soporífera. E é nesta noite que o sono resiste, e é tal a resistência que vejo inutilidade na tentativa precocemente fracassada de lutar contra ele. O outro dia chega com uma suavidade mortífera e amável. A suavidade é tamanha que não restam lembranças do dia anterior, senão aquelas enfadonhas palavras. A letalidade do dia é tão simpática que, ainda que carrasco, seria um privilégio beijar-lhe a mão, como honra por desferir-me um dolente soco na face. E não haveria no dorido hematoma sinais de contrição pelo beijo dado. Outro dia. Outra hora. A lua aparece ligeiramente alegre e estampa uma sorridente alvo-negrura (combinadas e arredadas, por uma linha curva) que contrasta com o negrume do céu, assolando todo o espaço sideral, juntamente aos pontos cintilantes que circundam a alvo-negrura. Este sim é um céu! O infinito dentro de uns pontos longínquos que hoje cabem nos olhos marrons meus. A quarta hora está prestes a badalar num quadrado e antes que ela protagonize este dia por três mil e seiscentos segundos, meus pesadelos já protagonizarão minha mente, meus sonhos... mas não por muito tempo, pois um peça preta protuberante falará em meus sonhos, pois é promessa. E falará!

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