quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Cobiça

Manoel é um homem que - pode-se dizer - é muito feio, porém um feio elegante. Andava sempre em boas roupas e falava bem. Era um comediante, contava os mais notáveis causos sobre todas as coisas. Não era um homem de muitas mulheres, até por que sua beleza não ajudava muito. Entretanto era cercado de amigos que gostavam de suas incríveis estórias.

No bairro em que mora conheceu um tal de Sebastiana. Mulher de gênio forte, e assim como Manoel sem qualquer gene de beldade. Juntaram-se e foram viver num casebre que haviam comprado. Manoel continuava a ser o mesmo de sempre. Continuava com seus hábitos de contator de causos. Vivia rodeado de gente. Nenhuma das mulheres que o cercava tinha qualquer apetite por ele, é verdade, mas Sebastiana, ciumenta como era, não gostava da situação.

Após mais de ano de convivência, Sebastiana expulsou Manoel da casa. Ele, contudo, não fez questão de nada, saiu da casa, embora na hora da raiva tivesse falado coisas e mais coisas que muitos vizinhos ouviram. Voltaram algumas vezes após o episódio, mas o relacionamento acabou não dando certo.

Um dia, ao ver Manoel de conversa com algumas mulheres numa mesa de bar, Sebastiana enfurecida - e possessa de ciumes de Manoel que aparentemente a havia esquecido - jogou um copo de cerveja na cara dele, e disse que se ele não fosse dela não seria de mais ninguém. E disse mais: acabaria com a vida de qualquer uma que ousasse tomar ele dela. Nenhuma das mulheres ousou falar qualquer coisa naquela hora, o medo que sentiam mal deixava que parassem em pé. Ocorre, porém, que o efeito das palavras nas mulheres do bairro foi devastador. Manoel tornou-se, a partir de então, o homem mais cobiçado do bairro. Recebia cantadas. Era chamado para festas, e até cartas recebeu. Todas as mulheres desejavam-no, mas apenas por que ele havia se tornado proibido e um risco calculado.

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