sábado, 11 de outubro de 2008

Flogose LXXXVI

- Oi. - Oi. - Eu estava te olhando de longe... Você vem sempre aqui? - Só quando eu estou com vontade de fazer xixi. Quem te deixou entrar no banheiro das mulheres? - Entrei escondido queria falar com você. - Não podia esperar eu terminar primeiro? - É que eu sou muito ansioso... Não é sempre que se encontra a mulher da nossa vida numa festa de formatura. - Mulher da vida de quem? - Da minha vida. - Que espécie de maluco é você? - O homem da sua vida! - Como é que é? - Sou o cara que nasceu pra casar e ter filhos com você. - Essa é a sua melhor cantada? - É sério...vamos conversar. - Quer fazer o favor de fechar essa porta? Eu ainda não terminei. - Desculpe. Um homem sabe quando avistou a mulher ideal. Geralmente ela é bonita, sexy, tem gostos refinados e inteligência suficiente para ignorar suas gracinhas. É fina, detesta vulgaridades. - Me deixa vomitar em paz? - Achei que você só estivesse apertada. - O que eu faço no banheiro não é da sua conta.. - Eu me importo com você. - Socorro, tem um homem aqui dentro. - Psiuuuuu, não grita, eu só quero saber seu nome. - Eu tô bêbada demais pra saber meu nome. - Também estou um pouco tonto, confesso. Viu como a gente combina? - Sai daqui e fecha essa porta antes que eu te jogue esse balde de lixo na cabeça. - Algumas pessoas passam a vida toda procurando por um amor perfeito. Alguém que te complete e ajude no que for preciso, faça companhia em todos os momentos. - Cara, como você é chato. - Melhorou? - Não acredito que você me assistiu fazendo aquilo. - Foi a coisa mais linda que eu já vi. - Acorda, seu idiota. Eu botei um pão de batata pra fora. - Eu também adoro pão de batata com tequila. - Espirrou em você, seu porco. - Eu não ligo. Seu vômito é o meu vômito. - O que eu fiz pra merecer um maluco desses atrás de mim? - Tem coisas que só o destino pode explicar. - De que planeta você veio? Larga do meu pé, chulé. - Só você não percebeu que isso tudo não foi por acaso. - Você me seguiu, eu pedi ajuda, ninguém te tirou do banheiro, eu te dei um banho de bolo de chocolate e cerveja. - Nosso primeiro encontro... - Nada disso é um encontro. Sai da minha frente. - Não posso abandonar a mulher da minha vida. - Que papo é esse? Deixa-me ver o que colocaram no seu whisky? - É sério, nunca ouviu falar nisso? - Whisky com bolinha alucinógena? É claro que sim. Nunca aceite o copo de um estranho. - Nós somos o casal ideal. Nascemos um pro outro. Sabe quais são as chances disso acontecer numa festa de formatura? Uma em cada 150 milhões. - Bem menores do que as chances de eu te dar uma porrada. - Você não faria isso com seu futuro marido. - Vamos do começo... Um: eu já tenho namorado. Dois: você não faz meu tipo. Três: isso não é uma festa de formatura. É a festa de 15 anos da Maria de Fátima. - O segredo da relação perfeita está na identificação de sua alma gêmea. Geralmente ela é loira, alta e tem um piercing no nariz. Pode também não ser nada disso. Não importa. O grande lance é perceber se essa alma combina com a sua, tem gostos iguais, beijo bom e, de preferência, um cabelo sem gel. Quer apostar que nós nascemos um pro outro? - Ridículo... vou ficar com peso na consciência. - Por que não tenta? Fala uma cor. - Preto. - A ausência de todas as cores... A minha preferida também. - Que bobagem. - Um filme. - "101 Dálmatas". - O mesmo que o meu... Quer prova mais definitiva? - Ah! Eu nunca vi esse filme na minha vida. - Roubar não vale. - Que papinho mais furado... Se toca, eu não fui com a sua cara. - Última chance. Fala uma música. - Ai que saco... Qualquer uma do Daniel. - Daniel? Tem certeza? - Absoluta. - Então você tem razão... minha mulher ideal não gosta de música sertaneja. - É mesmo? E que som ela curte? - Rock, alguma coisa de Jazz... dependendo do dia, MPB. - O que tem de errado com Leandro e Leonardo, KLB, É o Tchan? - Nada, só que você não é mulher pra mim. De qualquer forma, foi um prazer. Todo mundo erra. Quem nunca pensou ter encontrado o grande amor e depois descobriu que ele roncava, tinha caspa e não era muito chegado a banho no inverno? Se fosse fácil não teria graça. O importante é não desanimar, e se não foi dessa vez, partir pra outra. Tente declamar seu poema predileto em praça pública e espere alguém completá-lo. Se ninguém se manifestar, saia correndo. Podem ter chamado a polícia. - Espera. - O que foi? - Eu também gosto de MPB. Minha mãe ouve Chico Buarque o dia inteiro.Tecnicamente, se eu estou em casa, também ouço. - Não sei.... Acho que foi um engano. - Como você pode saber? - Olhando bem... você é mais alta do que eu imaginava. A mulher da minha vida tem 1, 60 de altura. Foi um prazer. - Espera, eu estou de salto. Olha só... fiquei mais baixa. - Você não tem nada a ver comigo. - Tenho sim. - Que interesse repentino pela minha pessoa... Até um minuto atrás você queria que eu fosse embora. - Também não sei o que me deu. - Você tomou do meu whisky, foi isso? - Não... quer dizer, não lembro. - Cadê seu namorado? - Está na minha frente, com uma coisa esquisita na camisa... - Que nojo... o que mais você comeu, hein? - Miojo, antes de sair de casa. - Eu não posso ser seu namorado, você já tem um. - Eu menti. - Só pra me dar o fora? Conseguiu. Tchau. - Volta aqui, meu amor. Pega uma vodka pra mim. - Sai de perto de mim, sua louca. - Só saio daqui casada. - Socorro. - Achei o homem da minha vida!!! (L. F. Veríssimo)

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