sábado, 26 de julho de 2008

Primeiro Contato...

Acabo de acender meu primeiro-último cigarro ou último-primeiro (já que a ordem dos produtos não altera os fatores) e nessa magma cinza que flutua - cinzenta em frente aos meus olhos - castos - e marrons, senti vontade de lhe responder... Daqui [desse mundo fechado... como as conveniências desta cidade amarga e trágica] doente os pensamentos são meros produtos de um meio verde e verde claro, escuro e triste e bom... As andanças - quem dera tê-las ao meu poder para melhor lhes dar importância - são aquelas de sempre... Aquelas, qual não me recordo... Aquelas que são cores paralelas, a qual deveríamos chamar listras ou escalas... Continuo (ou Contínuo) neste estado de querer voar sem asas e ir tão distante e velozmente como se em uma Ferrari desta fórmula televisiva... Meu primeiro-último cigarro acaba e ainda penso... - O que devo escrever (e a interrogação não sai) assim como não saem os pensamentos presos nesse cubículo... Quando dou por mim, minhas interrogações me transferem o olhar ao teto... Este teto branco – de uma madidez sórdida – cujo ventilador, acostado nele, é meu único sectário... Nesses meus acessos de loucura, mantenho um dialogo com o ventilador, que sopra com as mesmas palavras... Como se repetisse mantras, por toda a noite. Todavia, é nele que me apego e no teto! As vezes me pego olhando ao teto esperando que nele apareça uma boca vermelha, de vermelho batom, com palavras vermelhas a proferir-me. E quando me dou conta de que o teto ainda esta mádido, sinto que podemos ser novamente confidentes, de modo que o ouço através do sopro apoteótico do ventilador de teto, que, com suas rotações por minuto, repete inúmeras vezes, a mesma palavra... Envolve-me, neste instante, a vontade insuportável de queimar o meu segundo-último cigarro, e como a vontade fumígera outras veleidades protuberam... Começo a queimar o cigarro, que lentamente descarrega sua morte em meus lábios e é esta o tipo de morte que gosto de observar, que é uma morte natural, lenta e torpe... E como o enregelado fumo, de ponta laranja e cinza, são os pensamentos em minha mente, pois eles deleitam-se quando se queimam e queimam-se no teto mádido do ventilador de teto conversador. Essa névoa cinzenta ronda o ambiente frio e aquele cheiro de morte, que lhe disse, entope as narinas minhas como um bálsamo Frances de qualidades notáveis... Esquecer o teto é fácil quando acompanho a morte de meu produto fumígero, uma vez que somos – eu e ele – homogêneos, contudo diferimos por ser eu o carrasco. Quem dera ter eu uma mente poluta ou casta. Meus pensamentos são a mim, agora, como remédios paliativos que me melhoram, mas não curam. Pensamentos confusos vão e vem e vão, como ondas de um mar revolto, numa noite de maremoto. E em vão me tento dispersar nas ondas deste mar, cujas ondas eu mesmo produzo – e outra morte acontece. Há já outro mádido corpo depositado neste circulo de bronze, junto a suas cinzas – que eu mesmo encerro. Tudo transforma-se novamente em cinzas e o que me vem a mente é Camões, como uma antítese ao quadro de atividades neurais. Camões fala alto em minha mente, fechada, e grita: Quero achar paz em um confuso Inferno; na noite, do Sol puro a claridade; e o suave Verão no duro Inverno. Busco em luzente Olimpo escuridade e o desejado bem no mal eterno, buscando amor em vossa crueldade. E me pergunto, ainda sem interrogação, por que o Nobre Camões haveria de depositar seu inferno em minha mente, porque haveria de depositar a crueldade que deram a ele em mim... E não sei responder a mim mesmo, nem o ventilador eloqüente o sabe, tampouco o mádido e mudo teto. Um último-último cigarro me resta, mas não resta nada além do cinza. E, por fim, as perguntas sem interrogações começam a serem respondidas, com uma única resposta... Não há compreensão, não há... Só fumaça.

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