segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Flogose XCV

Tão fácil dizer algumas coisas, enquanto que outras encontramos dificuldade tamanha em proferí-las. Existem inúmeros subterfúgios e todos eles cabem exatamente na boca, quando outra coisa, mais necessária a ser dita, não sopra dos pulmões. Eu poderia facilmente dizer inúmeros pensamentos aqui, contudo não conseguiria proferir um que fosse tão íntimo a ponto de me trazer algo tipo de vergonha. Muitas vezes nos encontramos nestes becos. Nesses poços escuros e lamaçentos, e não há voz nenhuma que sopre de canto nenhum do mundo que nos fará pensar ou ajudar-nos-á a tomar uma decisão sensata sobre o que deveríamos realmente dizer. No contexto geral quanto mais importante é o que temos que dizer, menos facilidade tempos em dizer. Esses muros sem janelas já são meus recantos há tempos. Muros e muros. Nenhuma ponte, nenhum castelo, apenas um muro altíssimo! Tão alto quanto é profundo o oceano e tão vasto quanto o deserto do Saara. Cercar-me-ia de água, caso houvesse opção de fazê-lo. Devo falar, sim realmente devo, mas não falo. Se falo minto, se não falo minto. Tudo é mentira! A verdade está guardada dentro de um minúsculo átomo no cérebro e tão pequeno quanto este é o desejo de expor tal verdade, enquanto que tão grande quanto o universo é o desejo de ver-se livre deste átomo corrosivo. Importa-me dizer que algumas coisas inventadas, as vezes, soam com melhor timbre que a própria verdade. Os sinceros, convenhamos que não há benefícios em sê-lo, estão rotineiramente acometidos de algum mal que provém de sua boca, de sua fala. Falam e falam, costumeiramente, o que acham, pensam, o que lhes é verdade. Todavia ninguém bebe um copo de verdade por dia, pois o sabor é muito amargo, tanto para que cospe, quanto para quem engole! O sincero é todo aquele que ninguém gosta de tê-lo perto, a não ser que haja um benefício em tê-lo perto, ainda assim não gosta! Falaram-me, certa vez, que não convém omitir quando a postergação de um ato possa trazer prejuízos maiores, se forem derramados num futuro próximo. Vejo, contudo, que independente do momento em que bebamos da verdade o gosto será o mesmo e a dor estomacal será a mesma. É bem verdade que fatores externos podem intensificar as percepções e deixá-las muito maiores do que são, mas isso é relevante? Ser-nos-emos menos "malvados" se falarmos algo, não hoje, mas amanhã ou depois? Não, creio que independente do momento haverá sempre alguém para falar: - Agiste precipitada e nefastamente! É melhor não dizer. Sim, é sempre melhor não dizer! Em algumas coisas as pessoas não acreditarão quando a verdade for exposta e em outras se omitir uma mentira insistirão que você realmente fez, o que absolutamente não fez. Não há remédio para isso. E quando houver necessidade de promover justiça com a verdade, ainda assim é melhor omitir algumas coisas, pois haverá alguém que se sentirá lesado. Há meses que em minha cabeça habita um monstro sem face! E todos os dias esse monstro diz que tenho que fazer algumas coisas, mas tais coisas não parecem sensatas. Quer dizer, sensatas até que são, mas não seriam justas se eu indicasse alguns pressupostos que constituem os atos da peça inteira. Normalmente um personagem faz algumas coisas tentando não machucar as pessoas, mas sabemos bem que sempre machucam, ainda que não tenham intensão de fazê-lo. Eu não sou esse personagem! Sou o vilão. O lado negro da força. Hesito diante das conjunturas visando estruturar o terreno para a plantação e planto! E nascem muitas coisas, mas nada do que queria eu que nascessem. Aqui entra o segundo ato, ato este que constutiu acabar com a plantação (sou mesmo o vilão, não?). Creio que não há solução outra que não esta. Ser sincero é um vício que não tenho! Ademais não poderia ser sincero, pois isso é um defeito que traz problemas significantes para o contexto geral das relações. - Isso meu amigo, vá em frente e faça o que tem que fazer. Alguém sempre irá sofrer, talvez esse alguém seja você, tudo é possível! Gostaria de poder dizer isso sem que tais palavras causassem um certo temor ou ressentimento. Impossível, sinceridade e falta de temor são produtos que quase nunca se misturam e quando misturam coisa boa não sai. {Pensamentos e exemplos omitidos} Não minta, mas omita! A verdade é valiosa demais para ser a causa de sua ruína. {...}

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