quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Flogose LXXVI

Shekespeare disse:
" Amor não é amor que se altera quando encontra alteração ou uma marca rígida que aparece numa tempestade e nunca se abala. Amor não se transforma de hora em hora. Mas surge mesmo à beira da morte."
Lembrei-me de Olavo Bilac e uma poesia sua de extrema beleza. Contudo, o que me atriu na poesia não foram apenas as palavras belas e significativas, mas o amor profundo que parece atravessar as fronteiras. O amor, aparentemente, é assim! Ou melhor, o amor não abala e suporta as piores tempestades sejam elas quais forem.
A Alvorada do Amor por Olavo Bilac Um horror grande e mudo, um silêncio profundo No dia do Pecado amortalhava o mundo. E Adão, vendo fechar-se a porta do Éden, vendo Que Eva olhava o deserto e hesitava tremendo, Disse: "Chega-te a mim! entra no meu amor, E à minha carne entrega a tua carne em flor! Preme contra o meu peito o teu seio agitado, E aprende a amar o Amor, renovando o pecado! Abençôo o teu crime, acolho o teu desgosto, Bebo-te, de uma em uma, as lágrimas do rosto! Vê! tudo nos repele! a toda a criação Sacode o mesmo horror e a mesma indignação... A cólera de Deus torce as árvores, cresta Como um tufão de fogo o seio da floresta, Abre a terra em vulcões, encrespa a água dos rios; As estrelas estão cheias de calefrios; Ruge soturno o mar; turva-se hediondo o céu... Vamos! que importa Deus? Desata, como um véu, Sobre a tua nudez a cabeleira! Vamos! Arda em chamas o chão; rasguem-te a pele os ramos; Morda-te o corpo o sol; injuriem-te os ninhos; Surjam feras a uivar de todos os caminhos; E, vendo-te a sangrar das urzes através, Se emaranhem no chão as serpes aos teus pés... Que importa? o Amor, botão apenas entreaberto, Ilumina o degredo e perfuma o deserto! Amo-te! sou feliz! porque, do Éden perdido, Levo tudo, levando o teu corpo querido! Pode, em redor de ti, tudo se aniquilar: - Tudo renascerá cantando ao teu olhar, Tudo, mares e céus, árvores e montanhas, Porque a Vida perpétua arde em tuas entranhas! Rosas te brotarão da boca, se cantares! Rios te correrão dos olhos, se chorares! E se, em torno ao teu corpo encantador e nu, Tudo morrer, que importa? A Natureza és tu, Agora que és mulher, agora que pecaste! Ah! bendito o momento em que me revelaste O amor com o teu pecado, e a vida com o teu crime! Porque, livre de Deus, redimido e sublime, Homem fico, na terra, à luz dos olhos teus, - Terra, melhor que o céu! homem, maior que Deus!"
O ato de errar é humano! E quando existe amor, um amor profundo, o errar é irrelevante, pois é mais facilmente reconhecível e o errar se torna mais humano ainda. O que seria do amor se as pessoas não pudessem perdoar umas às outras? Um veleidade, creio.

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