sábado, 30 de agosto de 2008

Flogose XXXIV

Se vivessemos num lugar onde cada um fizesse o que bem entendesse, tudo seria da lei (Este seria o lugar pra onde eu com certeza me mudaria rapidamente) o mundo seria, talvez, caótico. Ou não! O silêncio que habita este receptáculo nas noites me embriaga de tal forma que poderia enamorar-me desta solidão povoada por anos e anos, sem que sentisse falta de uma palavra sequer. Contudo, se não existissem palavras, penso eu, talvez não existisse silêncio - ao menos o conceito não existiria - já que ninguém pensaria em ruidos. A noite é um lugar sobrio, as vezes, mas é um lugar onde as coisas parecem menos tediosas. A sombra faz isso! Contorna cada coisa de modo a dar à noite um sentido de beleza e de singularidade. Nestas noites é que as coisas que voam e rastejam fazem sentido, assim como os pensamentos ignóbeis que passam pelas cabeças menos privilegiadas da terra. Quando o silêncio está para a noite na mesma proporção que a noite está para o silêncio as coisas fluem, pois tudo parece encaixar-se, como peças de dois diferentes quebra-cabeças. Este é o lugar ou o tempo onde a lei encontra sua finalidade. Costumo pensar que a lei não é proibitiva, mas, ao contrário, é apenas orientativa, uma vez que direciona os serem a manterem determinadas condutas. Se tais condutas não forem seguidas a lei nada poderá fazer, embora exista a coerção estatal, pois o caráter punitivo da lei visa repreender as pessoas de cometerem infrações ou condutas anti-juridicas e não puni-las pelo cometimento de uma conduta anti-legal (é o que penso ao menos). A lei prevê determinada conduta para repreendê-la. A punição, contudo, é um meio social de forçar as pessoas a não tomarem certos caminhos. Agora se a finalidade da lei é orientar, em tese, e repreender as condutas sociais a punição realmente tem efeito? Depois que determinada conduta foi tomada o caráter da lei perde seu objeto? Realmente não sei qual a utilidade da lei, quando seu objetivo não é atingido e suas raizes não são mudadas de acordo com a degradação do meio social. É por isso que se existisse um lugar onde as pessoas pudessem fazer o que bem entendesse, tudo seria da lei. Por quê a Lei seria fazer e não deixar de fazer, que é a mensagem das leis contemporâneas. Aí volto a pensar no silêncio, neste que cobre a noite e dá a ela um ar ameno e apoteótico. Pois é no silêncio da noite que a lei encontra seu habitat, quando o ruído é pecaminoso e as palavras carrascos.

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