quarta-feira, 11 de junho de 2025

Amor

Resgatei todos os invernos
do meu íntimo, todas as
condescendências, todas
as loucuras. Resgatei a
vida e a anti-vida, a
luxúria e a verdade
absolutíssima. Sonhos,
e torrentes de imaginação.
Rasguei todas as palavras,
abri seus órgãos e vísceras
olhei profundamente em cada
parte da língua, do tom,
da entonação... tudo isso
para encontrar, escrito
com sangue puro, o amor
que me rasga e te veste.

domingo, 25 de maio de 2025

CAPITALISMO

Eu te odeio, e odeio, e odeio!
Eu te odeio, e odeio e tanto
que esse meu ódio é acalanto
ao amor radical que semeio.

E te odeio, com muita razão,
porque te odiar é o fim...
porque te odiar é jardim
de flores da justa revolução.

Eu te odeio, e odeio, enfim...
Eu te odeio, porque o ódio
é tudo que basta em mim.

Eu te odeio, porque é o ódio
a única arte, a única perfeição,
que radicaliza meu lasso coração.

quarta-feira, 19 de março de 2025

Paz & Liberdade

Não há paz,
nem liberdade...
em qualquer mundo
em que meus irmãos
dependam de caridade
para não morrer de
FOME
e ter direito a moradia,
trabalho e alimentação.

Não há paz,
nem liberdade...
em qualquer mundo
em que todos nós
não sejamos donos de tudo,
e tudo não seja nosso
e para nós.

Não há paz,
nem liberdade...
em qualquer mundo
cujo valor principal
não seja a emancipação
de todos e cada um
todo dia, e até sempre.

Não há paz,
nem liberdade...
em qualquer mundo
que trata nossa existência
todo santo dia
como mercadoria.

Não há paz,
nem liberdade...
em qualquer mundo
cujo princípio essencial
seja a exploração
do homem pelo homem
até final.

União

Ah! angústia e tédio e medo,
Até ontem quem éramos?
Até ontem quem fomos?
Por que guardamos segredo?

Fugia do céu, do inferno
da ambição e da desgraça...
Dir-te-ei: apenas disfarça...
Disfarça esse teu terno.

Qual o porquê? Ninguém via!
Ninguém ouvia a lamentação,
nem o rogo. Ninguém sabia

dessa refletida sofreguidão
de viver a dormente e tardia
vontade de igualdade e união.

Poluição

Desconcertei-me ilhado em mim.
Sinto restos, dejetos e desejos,
falhas e  fragmentos, como azulejos
caídos do teto do meu jardim.

Coberto de desvario e completo.
Incompleto. Incompleto de dor...
Incompleto das poeiras do rancor!
Incompleto, e dos sentidos repleto.

Cego e com os olhos em dimensão.
Cego de tudo! Cego de atrocidade;
Do cheiro que reluz a iluminação

no ralo da escuridão de puridade,
onde busco amor em cada novidade,
e só encontro vasta e tenra poluição.