Deparou-se – o garçom – com um chato home; que dessabido o nome; falava-lhe de sua dor; cornuda dor de amor; a qual havia sofrido; e lembrou-se daquele homem pelo ouvido; o chato corno que chorava a mulher no bar travessão; corno maior só mesmo o Tião; que saia pro outro entrar; isso tudo conversa de bar; mas o garçom arredio; olhou o homem num arrepio; e neste hora se zangou; e – sem muitas delongas – ao home falou; na batida do frevo; o que agora transcrevo:
A vida é um ciclo estranho
Ontem eu penico era;
Ouvia tudo; Dispusera
A ser ouvinte, sem ganho!
Vós com Vossas estórias cornudas;
A cachaça a varrer o chão;
E eu vos vendo feito truão,
Chorar dores das mais ossudas;
Hoje não me importa tua desgraça;
Bebe, ô pulha dos infernos,
Estes que são dissabores eternos,
No gole frio e queimante da cachaça;
E digo mais: ô saco de estrume,
Tu és um merda de um corno,
E não há álcool a tal transtorno
Nem que lhe diminua o volume.
E melhor que tenha muito cuidado,
Por que nessas veredas sombrias,
Aos cifres não se deve ter apatias,
Pois quem não é corno, é veado.
E como puta não é vosso fado,
Pois a anatomia não quis assim,
É melhor ser corno, por fim,
Do que lhe condenarem veado.
Sabe mais o quê, ô chumbado,
Grande amor é ter na veia,
O que no mundo tem de areia,
Pra conquistar qualquer olhado.
Agora que tudo está bem falado;
Tua lamuria não é minha obrigação,
Nem farei cera a tua podridão,
Já que a fortuna tua é ser galhado.
Digo-lhe, por fim, ô bebum coitado
Não de ouvido a esta alma pobre
Por que pra garçom ninguém é nobre
E em boteco só dá corno, puta e veado.
Como não havia mais o que falar; o garçom, sem muito cuidado; procurou pelo próximo coitado; a quem iria esculhambar; e, como sorte de pobre dura pouco; o outro foi o maior sufoco; pois não em corno não se fazia; Era, tão só, uma baita de uma tia; com pé de grandalhão; e o menor não foi o supetão; que levou o pobre garçom; e como a sina de pobre não dá arrego; o homem pobre, bêbedo e garçom perdeu o diabo do emprego.