domingo, 27 de maio de 2012

Dias estranhos

Abri a porta do quarto. Senti o cheiro de coisas velhas entoxicar meu cérebro. É uma sensação estranha e gostosa ao mesmo tempo. Deixei a mala sobre a cama, e sentei-me sem qualquer ideia do que fazer. Distrai-me com uma formiga que subia pela parede da frente, desorientada. Ela dava voltas, talvez em busca de algo da qual não tinha ideia do que era. Talvez apenas estivesse dando um tempo de sua vida comum e cansada de procurar comida. Não sei ao certo, apenas me perdi ali vendo-a subir e descer sem qualquer objetivo. Pensei nela e me vi ali. Eu também estava dando voltas. Estava perdido e sem destino. Olhei a mala sobre a cama. Dentro delas várias roupas empilhadas de forma desorganiza, além de outros objetos, também desorganizados. Era sempre assim. Organizar a vida não é algo que a gente faz com frequência. Por que organizar-se? Das sociedades mais organizadas, nenhuma é humana. Estranho esse fato de as pessoas não se organizarem para viver bem, ou viver bem para se organizarem melhor. Eram apenas pensamentos esparsos. Eu era esparso. A formiga na parede ainda estava lá. Perdida e solitária. Eu também. A mala me dava uma opção, mas para onde eu iria? Sair de mim mesmo era uma opção muito melhor. Eu nunca quis tanto ser uma formiga quanto naquele momento. Eu e a formiga éramos como dois indivíduos solitários em buscas das perguntas certas. Perguntas sem respostas. A formiga foi embora, talvez tenha voltado para sua sociedade ou apenas foi embora viver em uma sociedade que não era a sua por natureza. Talvez eu devesse fazer isso também, mas eu sempre tive medo disso que é novo. Quem sabe ela também. Eu queria fazer uma metamorfose, queria me tornar outro, ou apenas ser alguém que se encaixasse. Quis me tornar uma formiga, e viver para me alimentar e alimentar a minha sociedade. Quis ser livre e viver, mas só desfiz minha mala e dormi até a segunda-feira de manhã quando eu teria que trabalhar novamente.