segunda-feira, 23 de abril de 2012

Noites

Suspeito dessas noites de calmaria. Elas costumam esconder o que há de mais profundo no mundo. Um tic-tac soa levemente, mas ninguém percebe. A lua passeia. A vento sopra gélido. As trevas cobrem as camas daqueles que pensam dormir ilesos. Os corvos pousam nos ipês amarelos. Os sonhos desaparecem, e por algumas horas a vida também.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Schopenhauer, amor e Los Hermanos


Enquanto ouço Los Hermanos (Bloco do eu sozinho) leio Schopenhauer, em sua tarefa de falar sobre o amor. O tema, como é sabido, não é muito explorado pela filosofia, normalmente a música, os poetas e os romancistas são dados a essa tarefa. Schopenhauer, contudo, explorou o que chamamos de amor, e o fez com muita propriedade. Para ele o amor era a natureza agindo para perpetuar a espécie. (Bem diferente desse amor que conhecemos, né?). Para ele o amor era o  “impulso de vida”. Ele teorizou que “nada na vida é mais importante que o amor, porque o que está em jogo é a sobrevivência da espécie”. Isso por que o amor é uma tática da natureza para nos levar a ter filhos.

Não é difícil acreditar nisso, até por que não sabemos muito bem como surge esse tal amor. As pessoas se apaixonas umas pelas outras, mas não entendem o porquê de terem se apaixonado especificamente por aquela pessoa, dentre tantas outras opções. Schopenhauer pensou nisso: a paixão nasce por uma pessoa quando sentimos, de forma inconscientemente, que ela pode nos dar herdeiros saudáveis.

Seria o amor esse tal "impulso de vida" da qual falava Schopenhauer? Ou simplesmente não existe amor e o que temos é a natureza agindo para contribuir com o perpetuamento saudável da espécie? Não há dúvidas de que essa teoria se aplica aos outros animais, isso por que, ao que sabemos, eles sempre buscam os mais aptos a darem crias saudáveis e fortes.

Evidências existem de que essa teoria se aplica a nós. Podemos considerar, principalmente, o fato de que a paixão e o interesse sexual estão intimamente ligados. A paixão, normalmente, nasce de impulsos ligados à sexualidade. Não seria, nesse caso, a natureza nos dizendo que aquela pessoa poderia nos dar herdeiros saudáveis? Parece-me que o instinto de subsistência tem sim participação profunda nessa questão apresentada por Schopenhauer. Nessa situação o amor seria apenas uma armadilha que a natureza criar para as espécies humanas buscarem parceiros com características ideais para procriarem herdeiros saudáveis.

Por fim, ele diz que a felicidade não está em questão. A natureza age com intuito de perpetuar a espécie, nada além disso.

Continuo ouvindo Los Hermanos, e tentando entender por que o amor moderno é um fruto tão precioso do capitalismo. Sim, capitalismo. Embora pareçam ideias tão distantes. O capitalismo, penso eu, tem utilizado do amor para construir um império de enriquecimento. Vende-se muito, simplesmente isso. A partir do momento que perceberam que o amor vendia, eles simplesmente transforam-no em algo irreal e inalcançável. Transformaram-no em felicidade plena, embora no mundo real nada disse seja verdadeiro.

O que é o amor, afinal? Ele existe? É uma brincadeira da natureza ou simplesmente um produto? Enquanto não consigo responder essas perguntas, vou continuar ouvindo Los Hermanos.