sexta-feira, 2 de março de 2012

Era uma vez na ditadura...

No primeiro, e talvez o único, dia da ditadura de um pequeno país, cuja localização não se sabe ao certo. Um homem anda assustado pelas ruas. Há um negrume fundo no lugar dos olhos esbugalhados. Os lábios tremem. As mãos suam. O sangue circula pelas pernas, e ele quer correr violentamente até a solidão, mas se retém. Não olha pra ninguém, porém impõe-se atenção a todo custo. Anda apressado e sem se preocupar com coisa alguma. Um homem de terno preto e óculos escuros parece lhe seguir. A vontade de correr é insuportável. Olha de soslaio para verificar se está sendo seguido, e parece estar. O homem de terno preto e óculo grita alguma coisa. Ele simplesmente começa a correr verificando, com frequência, se continua sendo seguido, e não consegue ouvir nada. O homem de terno preto e óculos corre também – e grita –, mas é tarde. O homem foi atropelado por um caminhão, e a última coisa que ouviu foi o homem de terno preto e óculos dizendo, enquanto segurava um objeto preto na mão:
- Senhor, o Senhor deixou cair sua carteira!