terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O lugar

Poderia estar em qualquer lugar, mas resolveu se instalar numa cidade quase medieval do sul do Brasil. Passava a maior parte de suas horas observando a natureza, escrevendo e lendo poesias francesas do século XVIII. Levava sua vida com recursos parcos. Não dispunha de qualidade de vida, mas se tratava do lugar que escolhera para passar a vida. O lugar porém não retribuiu. Nas poucas horas que ficou ali sofreu tudo o que não sofrera em toda a sua vida. Todos pareciam bem, exceto ele. Não era bem-vindo, mas pretendia ficar. Após pouco mais de seis horas no lugar estava morto. Antes disso, entretanto, sofrera com insetos, frio, calor, terremotos, inundações, etc. Nada o fez sair. Foi uma simples queda que o fez partir. Quedou-se e uma pedra - que apareceu repentinamente - atacou sua cabeça violentamente, sem tempo sequer pra sentir dor. Não era bem-vindo. Realmente não era. Assim que constatada sua morte, começaram a aparecer formigas de todos os cantos. Começaram a agrupar-se em torno do corpo inerte. Eram centenas de milhares de formigas. Elas ergueram o corpo e o carregaram até o limite da cidade. Do corpo não se sabe. As formigas, entretanto, voltaram para o seu lar. Pelo modo como andavam era possível notar que elas sentiam que haviam cumprido a missão.