terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O lugar

Poderia estar em qualquer lugar, mas resolveu se instalar numa cidade quase medieval do sul do Brasil. Passava a maior parte de suas horas observando a natureza, escrevendo e lendo poesias francesas do século XVIII. Levava sua vida com recursos parcos. Não dispunha de qualidade de vida, mas se tratava do lugar que escolhera para passar a vida. O lugar porém não retribuiu. Nas poucas horas que ficou ali sofreu tudo o que não sofrera em toda a sua vida. Todos pareciam bem, exceto ele. Não era bem-vindo, mas pretendia ficar. Após pouco mais de seis horas no lugar estava morto. Antes disso, entretanto, sofrera com insetos, frio, calor, terremotos, inundações, etc. Nada o fez sair. Foi uma simples queda que o fez partir. Quedou-se e uma pedra - que apareceu repentinamente - atacou sua cabeça violentamente, sem tempo sequer pra sentir dor. Não era bem-vindo. Realmente não era. Assim que constatada sua morte, começaram a aparecer formigas de todos os cantos. Começaram a agrupar-se em torno do corpo inerte. Eram centenas de milhares de formigas. Elas ergueram o corpo e o carregaram até o limite da cidade. Do corpo não se sabe. As formigas, entretanto, voltaram para o seu lar. Pelo modo como andavam era possível notar que elas sentiam que haviam cumprido a missão.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Inerte

Eu passo pelo tempo. O tempo me permeia. Sempre acho que eu sou o sol desta relação, mas não sou. Sou estagnação!

sábado, 10 de setembro de 2011

Bohemian Rhapsody

Ouvia Bohemian Rhapsody quando alguém bateu a porta. Olhou pelo olho mágico e não viu ninguém. Abriu a porta. Saiu. Andou uns dois metros. Olhou para a direita. Apagou. A trilha sonora terrível. Enquanto Freddy vociferava: Mama, just killed a man. Put a gun against his head. Pulled my trigger, now he's dead o sangue começou a descer fumegante por um buraco na cabeça.

Ninguém soube explicar a morte, mas muitos diziam que ele morreu tentando dar vida à música da sua banda favorita.

Estrada

Há sempre uma estrada a seguir;
Quando nascemos entramos nela,
Percorremos a auto-estrada, a viela;
Em bom estado, em tempo de ruir;
A estrada é sempre cheia de mistério,
seja a que leva ao céu ou ao cemitério.

O movimento da estrada é desigual,
num dia de sol pode ser inundada,
num dia de chuva apenas estrada,
é movimento intenso ou anormal.
A estrada é um caminho crescente,
que carrega o sonho de toda gente.

Nem sempre a estrada é um caminho,
podemos andar por ela e nada ver,
viver por ela sem ao menos perceber,
que a estrada é para estar sozinho.
A estrada é para estar e para ser,
e não para simplesmente entender.

Vejo estradas vazias,
Vejo estradas movimentadas,
Vejo a vida nessas estradas,
Vejo a estrada e não o caminho.
Vejo o meu andar,
Vejo o meu eu sozinho.
Vejo o meu sem lar,
Vejo a estrada sem destino!

Minha estrada é o meu caminho,
quer eu a seja, quer eu sozinho!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Conversas

S - Qual o problemas das pessoas? Será que o novo século mudou alguma coisa na gente? Jogar recém-nascidos indefesos no lixo? Pessoas como essas não podem acreditar em Deus, não podem! Ou simplesmente, e não quero crer nisso, Deus já não crê nas pessoas. Se não existem limites, onde está Deus?

R - Esse tipo de atrocidades sempre aconteceu na história da humanidade. No Egito crianças foram jogadas as feras para serem devoradas. Não é normal, nem aceitável, de fato precisa ser combatido. Acredito eu que com a evolução dos conceitos morais e sociais ao quel tende a humanidade tais atitudes automaticamente irão diminuir, acredite, não tão longe de nossa atualidade tais atitudes eram bem mais frequentes.

R - Sobre acreditar ou não em Deus, acho que propensão em fazer o mal ou o bem vai alem, passa pela capacidade intelectual de entender que como sociedade devemos fortalecer nossas fraquezas através do respeito ao direito que todos temos de viver com dignidade, cada um com seus deveres e liberdades.

S - A diferença é que existiam crenças, mitos, tabus, sacrifícios... Ninguém matava por matar, normalmente! Atualmente essas atrocidades não advém de nenhum ritual, mas simplesmente pela - ao que parece - inexistência de valores morais.

S - Se Deus não existe tudo é permitido, como dizia Dostoiévski. A falta de valores morais transforma a pessoa em qualquer coisa, inclusive em um homem-deus em que tudo é possível.

R - Por mais que existissem um pano de fundo para justificar tais atitudes no resumir ambas ferem o direto a vida, o ataque a um indefeso. O que quero dizer é que na pespectiva histórica hoje se tem uma coopreensão maior sobre o valor da vida, apesar que não o suficiente, mostrando assim que mesmo que não tenhamos chegado a um nível considerado ideal aos poucos (bem aos poucos msm!) estamos melhorando. Se Deus existe de fato ele não desacreditou de nós!

R - ‎"Se Deus não existe tudo é permitido, como dizia Dostoiévski." Acedito que tudo ainda assim é "permitido", com Deus ou não, pois no fim das contas o próprio homem que regula seu convívio social. As bases que direcionam uma sociedade devem estar alem da crença em um ser superior, devem ter como carro chefe a idéia de que juntos cresceremos e evoluiremos, e que se junto a esse crescimento não estabelecermos valores que deem a todos o direito a vida e a dignidade viveremos como animais e caminharemos para a queda.

R - Até mesmo a crença em Deus passa pela capacidade humana de criar significados.

S - A questão não é tão simples. A religião influi muito no pensamento humano, e sempre foi assim. Dias atrás vi um programa no NATGEO em que - em uma aldeia na África - as mães deixa um dos filhos gêmeos pra morrer no mato por que isso é um "agouro" lá, ou seja, traz má sorte para a Aldeia. É crença e ninguém vai conseguir dizer o contrário para eles!

S - Entendo sua posição, e não digo que Deus não existe para todos. O que questiono aqui é a singularidade. A existência de Deus como criador de valores morais e a relação entre Ele e estas pessoas que não conseguem absorver os citador valores.

R - Negar que religião influencia o comportamento humano é burrice, mas sim é possível ensinar o contrário, não é fácil, mas é possível. Através da evolução intelectual de uma sociedade tais atos acabam por diminuir, pois a lógica vence a crença. E como me já disse as bases de uma sociedade justa estará mais segura em conceitos lógicos do quem em conceitos religiosos.

S - O problema é que a religião aproveita as lacunas da lógica para aprisionar seus servos. Ela usa as coisas que não possuem explicação para se explicar. Isso é um paradoxo: como se explica coisas sem explicação, e da qual ninguém quer ou se deixa entrar em debate? Entra a fé em jogo! Se não tiver fé, que é acreditar no "incrível" a religião não tem fundamento.

R - Tbm entendo seu ponto de vista, é que eu quis mostrar que o próprio homem é o criados dos valores morais que o permitirão viver em sociedade e definirão a características da mesma.

S - O difícil é fazer o homem entender isso e usar isso como seu princípio básico. Ainda somos uma sociedade primitiva em que os valores morais, infelizmente, são - para maioria - criados a partir de atos de divindade.

R - De fato a religião por muito tempo preencheu essa necessidade humana de significados e explicações, mas com o evoluir da ciência esses espaços cada vez mais serão preenchidos por informações reais, baseadas em dados e análises croncretas, informações lógicas. Isso leva a sociedade ao progresso, em todos os campos. Compare séculos atrás com o agora, o quanto a Igreja católica manipulou a sociedade, hoje já temos a certeza que o estado deve ser laico, pois a sociedade é composta por diversas cabeças pensantes que se divergem, não seria sensato tal diversidade ser administrada por apenas um segmento ideológico.

R - Acredito em Deus, só acho que se ele nos deu inteligência não devemos ficar na depedencia exarcebada dele assim, como algumas religiões pregam. Ele que nos ver pensar, assim como um pai tem orgulho de ver o filho caminhar com a próprias pernas, mas sem jamais esquecer sua origem.

S - O complicado é fazer o atual homem - que deveria ter muita experiência - pensar assim. Ainda mais com essas novas ordens religiosas, tal qual a evangélica que "prega" a supressão dos valores pessoais em detrimento do divino. Não imagino essa conversa com um evangélico. Dizer o que dissemos, é cuspir na cruz!

R - Sim sim, para a maioria deles sim!

S - Se as pessoas se apegassem à lógica, como dizes, os valores humanos, talvez, já estivessem bem evoluídos. O problema seria encontrar as verdades, dentre as muitas que poderiam surgir.

R - ‎"O problema seria encontrar as verdades, dentre as muitas que poderiam surgir." DE fato, talvez se apegam demasiadamente a crença ao invés da ciência ou por preguiça ou por realmente ter medo de sair dessa onda de comodismo espiritual. Me assusta ver em alguns programa evangélicos pregações que enfatizam o ganho material como prosperidade suprema, esquecem que grandes sábios, propagadores de verdades muitos úteis muita das vezes nadam levavam consigo alem de seu próprio conhecimento e o minimo para sua sobrevivência.

R - Talvez, mais vale a oração por conhecimento do que a oração por dinheiro, pois com conhecimento vc sabe se virá até mesmo sem dinheiro.

R - O "Fiel" que não busca conhecimento/questionamento critíco esta fadado a alienação.

S - As religiões atuais - ou a maioria delas - são capitalistas. Elas aprenderam a ser e usam isso para afundar seus seguidores. O mundo capitalista transformou o pensamento religioso de tal modo, que hoje as pessoas não buscam paz, mas garantias materiais. E a religião capitalista sabe como aprisionar seus seguidores com suas doutrinas e a oratória de seus cabeças.

R - Sim muitas religiõs espelham o modo capitalista, da cultura do lucro e da cultura de massa, onde o senso de escolha critíca desaparece.

S - O ideal seria a lógica, mas fazer o quê?

R - Quem tem sede de conhecimente estuda e aprende a fugir dessas armadilhas...

S - Aprender é fácil. O difícil é ensinar, por que muitos se negam a aprender!

R - de fato!

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Amor ao avesso, Pt. 1

Eu não sei amar, senão aos avessos.
Amar aqueles beijos travessos,
que atravessa o interior o peito.
E depois apenas dormir, sem dizer
nada
– a respeito.
Amar, sozinho na escada!
E não ligar;
desligar - o telefone.
Amar à distância sem complicação,
e ficar - como que durão -
fingindo não ter saudade.
Pareço amar sem piedade,
sem pecado, sem compaixão...
Amar, e não ter medo de sair,
esquecer, relembrar um não.
Só sei amar ao avesso,
por que é o meu jeito
de não esquecer o que finjo que esqueço.

domingo, 13 de março de 2011

Uma música pra não ser cantada.

Acordo sempre igual. E o mundo não muda!
Hoje as coisas parecem normal,
e quem diria que não são?
É tudo um "mal-compreendido".

A realidade já não é (como era).
E eu? Claro. Fingo que acredito.
(o que me resta?) Não sou ninguém,
mas hoje quem é que é alguém?

Sou fruto de uma frutaria esquecida.
O que é ser quando ser e não ser
parece a mesma coisa?
Ah! Já somos muito por nascer!

Não sou o mundo, e ele não é eu.
Sou um criado, que de cria não tem nada.
Vivo, por que viver é o que resta,
o mais (ah! o mais) não me interessa.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Queria...

Queria poder lembrar lembranças,
de quando o mundo era meu e só.
Queria poder voar, como em outrora,
e viver essa vida sem circunstâncias.
Como já fiz, mas que não faço agora.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Quando é tempo de parar!

Sinto uma tristeza. É triste pensar sobre algumas coisas. Costumo pensar que a vida é um conglomerado de experiências, e que estas experiências devem auxiliar a pessoa a manter-se integra e a respeitar-se mais e mais. O que seria da vida se as experiências não nos servissem de nada. Não sei, nem consigo imaginar como seria. É estanho imaginar que existem pessoas que colocam sua cabeça a prêmio a título de nada. Que existem pessoas que se submetem às piores e mais insalubres experiências pessoais a troco de um sentimento que nada valem, que não são e jamais serão algo que nos dará satisfação.

É triste. Sinto pesar ao pensar que algumas experiências da vida possam ser algo tão cruel, e que existem pessoas que gostam de se submeter - por vontade própria - a tais situações sem se darem qualquer valor. Onde fica o auto-respeito, a auto-estima? Quem são essas pessoas? Será que elas algum dia conseguirão ver-se como pessoas?

Só penso então quando será o tempo de parar! Quando será a hora de ser ver como uma pessoa e se dar valor e buscar esse valor como ser humano. Buscar a felicidade ou algo parecido. Alguma satisfação pessoal que possa lhe dar prazer e vida. Sei que algumas opções são difícies, mas o que é mais difícil que não viver? O que mais difícil que sobreviver num ambiente hostil e totalmente inóspito sentimentalmente?

Jamais fui um catedrático nesses assuntos, entretanto quem o é? Quem tem o total controle da vida? Contudo, é preciso conhecer limites e saber quando é tempo de parar. E talvez, para estas pessoas, seja agora a hora.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Vitória...

O que é ser um vencedor num mundo de perdedores? Dentre todas as perguntas que já me fiz é esta a que mais me incomoda. O mundo é feito de perdedores. Os perdedores estão em todas as classes sociais, em todoas as castas e em todas as situações da vida. A perda está em tuda. Vencer é exceção, mas vende. A gente já nasce perdendo e somos perdedores de sangue. Somos fruto de uma vida em que tudo nos é restrito. Vivemos pela metade, e nos sentimos satisfeitos com essa metade. O mais difícil é saber reconhecer-se um perdedor, e aprender com os erros. As pessoas sempre focam na vitória e a cultuam acima de tudo. No fim das contas perder não é tão ruim. É apenas uma etapa da vitória, mas apenas para aqueles que reconhecem a derrota como a verdadeira deusa.