domingo, 24 de janeiro de 2010

Insistência

Este é o amor meu,
fruto da irônia!
Amor que cresceu
da pura solidão,
Amor que não se via.
Que jurou eternidade
nas flores da saudade!
Amor que se encontrava
Amor que se perdia!
Que mais me recusava,
e mais eu insistia.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Castelo de areia.

O sol respingava pelas frestas do céu, enquanto a vida flutuava no horinzonte espesso. O mar ressoava em ondas tênues, de tênues passos de uma dança irregular. A areia da praia - desabitada - era marcada por pensamentos que se arrastavam para dentro da angústia construída pela solidão intacta das sombras. Dessas sombras se eregiu o castelo de areia. Um castelo de areia de sombras.

E se fez o forte e as torres. Os muros e as alas. Os corredores e as passagens. Fez-se janelas por onde a sombra perpassava. Portas, porém, não se construiu. Os castelos de areia de sombras não tinham espaço para portas, tampouco para as pontes arquitetadas.

O forte e as torres eram ocos. Os muros e as alas sinuosos. Os corredores e as passagens esburacados. As janelas continham cortinas de sombra. Das portas houveram só o desejo rabiscado nos muros areia de sombra.

O Castelo estava pronto. Por fora um lindo castelo de areia. Por dentro um singelo castelo de sombras.

Chegou o vento. Soprou o castelo de areia de sombras. Tirou lascas e lascas do exterior, mas o castelo mostrava-se imponente. A intensidade aumentava, mas as sombras não cediam. O vento se foi, e o castelo de areia continuou em pé sem rechadura alguma.

Veio então o mar. Uma onda corpulenta fora cuspida do mar. O castelo de areia cedeu. Tornou-se novamente apenas areia. Areia molhada e fria. Fria como a angústia que era escrita pelas marcas de outrora.

Era só olhar...


Era só olhar naqueles olhares, 
 naquela imensidão de passagem. 
Era só olhar! 
Só olhar a vista tênue e simplória
 que corria os desníveis do mundo,
 que aliviava as sensações...
Era só olhar,
e ver o mundo...
Aquele mundo cheio de grandeza e sutileza.
Ouvir os olhares falando dos mares
 de arrebóis perdidos na imensidão
 da fraqueza. Da falta de fraqueza!
Era só olhar!
Ver que aqueles olhos viam muito mais
 que simples aromas sem cores.
Ver as cores dos olhares a criar
 ranhuras na impoluta paisagem cinza.
Era só olhar.
Era olhar, e ver o todo num copo
 quebrado de nada e vento seco.
Era o olhar.
O olhar em que tudo se perdia,
 e em que tudo se encontrava.
Era só olhar!
Olhar e fenecer,
 sem perceber que jamais houve olhar
 mais brando e acre que aquele
 que soube vislumbrar a tristeza
 d'um horizonte pecaminozo e pesado.
Era só olhar
 a se perder, e se deixar.
 a viver e deixar-se esquecer!

Incompreensível.

Há nada que explique alguns sentimentos, nada. E ainda assim, mesmo sem explicação, pode-se entendê-los num momento de esquecimento total. Nessa ausência, nessa frequência concebida pelas janelas da solidão é que tudo acontece, conquanto seja impossível saber que aconteceu.

Que importa saber o que aconteceu? Que importa? Existem coisas não foram criadas para serem não entendidas, e estas, normalmente, foram as coisas criadas pelos homens, no seu ímpeto de serem maiores que a natureza.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

The drugs don't work

All this talk of getting old
It's getting me down my love
Like a cat in a bag, waiting to drown
This time I'm comin' down
[...]
But I know I'm on a losing streak
'Cause I passed down my old street
And if you wanna show, then just let me know
And I'll sing in your ear again

De onde vem este querer,
Tão útil quanto o não ter.
Desolador, vil e imenso,
jovem, senil e propenso
a matar e deixar viver.

De onde vem este querer,
Que não sabe enriquecer.
Desonesto e humano;
Crente, vívido, profano,
A pétala do perder.

De onde vem este querer,
A razão pura do abster.
Querer, e não palpar!
Eis a vida a ironizar
o sonho do não poder.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Diferente


É tudo diferente agora.
Nada é mais como era. 
As coisas parecem ter mudado de rumo,
os rumos parecem ter mudado. 
Os olhos já não brilham, 
a face já não se enrubece.
Lembra-se tudo, e se esquece!

Nada é mais como era.
A mesma boca que negou,
agora, ávida de amor, anseia.
É tudo diferente agora.
Já não se sente mais o querer,
o brilho, o ardor, o pejo...
A outra boca já não tem desejo.

Tudo é diferente.
Nada é igual.
Passou-se o tempo e a paixão.
Os amores se foram, foram em vão.
Tudo se foi, e foram-se os prantos.
Tudo é diferente agora,
pois o sentimento,
aquele de outrora,
perdeu o portento, 
e foi embora.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Questionamentos

Como se mede um desejo?
Pela intensidade da boca,
que cala-se, quase rouca,
ou pelo calor do beijo?