quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Hoje...

Hoje eu queria poder dizer o que não sei;
         Falar aos ouvidos dela
         Coisas que agradam só a ela.
         Dizer que sinto o que sinto,
         Que sou puro amor e minto.

Hoje eu queria poder dizer sem piedade;
         Dizer tudo o que acho que sei;
         Proferir elogios ou só “cansei”;
         Pensar em coisas vãs que vão
         E esquecer que esquecer é tradição.

Hoje eu só queria poder falar sem medo;
         Falar, talvez, do mundo poético,
         Do amante de amores cético;
         Falar que só existe tudo e nada,
         E que já encontrei coisa na estrada.

Hoje eu queria poder falar do desentendido;
         Do infinito: treva ignorada, aquário rico;
         Da ilusão bela, forte e imprudente,
         Que é tudo na vida de muita gente,
         Que sempre vai, enquanto eu fico.

Hoje eu só queria poder falar, e falar, e falar...
         De coisas desconexas, da qual não sei.
         Talvez de sonhos que nunca terei,
         Ou talvez do mundo que desconheço,
         Em que acordo, vivo e sempre padeço.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Hoje não!
Hoje não vou falar de nada.
Talvez esquecer.
Por que o mundo não ouve.
E viver basta, basta viver.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Ninguém é imperfeito por querer!

Ninguém é imperfeito por querer, me disseram. Pensei nisso por horas, dias, semanas... Parecia racional pensar que a imperfeição não é algo voluntário; mas ao mesmo tempo não era tão crível assim. Por que então que a imperfeição é involuntária? Parece-me por que ninguém - em regra - vive para ser imperfeito, ao contrário disso buscamos sempre nos melhorar - e isso, às vezes, não passa de ideologia barata de venda.

A ideologia da perfeição é um mecanismo de controle muito eficaz, por meio dele algumas instituições conseguem obter vários resultados que lhes satisfazem. E quem não deseja ser perfeito? Quem não deseja ser o melhor entre os melhores?

Realmente ninguém é imperfeito por querer, justamente por que ocupa-se todo o tempo buscado o oposto disso: A perfeição. Nos ensinaram que o imperfeito é feio, e que o feio não é bom, e o que não é bom não é coisa de Deus.

Ser imperfeito e querer sê-lo é uma virtude? Admitir a imperfeição é admitir que existem limitações. Entretanto limitações existem para serem quebradas, por que o que se busca - neste mundo humano - é a perfeição. E a perfeição - todos sabem - é uma coisa que sempre está mais longe do que realmente parece, e quando alguém tê-la pego nota que não passava de uma miragem.

No fim das contas descobrimos que realmente "ninguém é imperfeito por querer", justamente por que a idéia de perfeito está ligado ao bem.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Do que se não deve pensar!

[321 DC]
Encontrava-me em um estado em que tudo era mais que imaginável. Qualquer coisa, quer fosse real ou não. As idéias pareciam, a partir desse modelo de pensamento, liquidos em recipientes que eu mesmo criava. Elas - as idéias - tomavam a forma do recipiente e fluiam entre um recipiente e outro tomado vários tipos de forma. Porém, de um tempo pra cá começo a questionar as razões pelas quais a imaginação não parece simples conjuntura, mas situações que tem - se bem pensadas - podem se tornar reais.

Achei-me louco, não louco-louco. Entretanto um tanto quanto insensato. Até por que tudo quanto eu aprendo e aprendi refuta essa idéia. Será que invadiu-me um demônio maligno capaz de fazer com que perca minha sanidade? É bem provável, os demônios são bem disso. Eles consomem a mente das pessoas fazendo-as ficarem loucas com os pensamentos disconexos. No entanto, isso tudo de imaginação me parece tão real.

Abandonei todos os pensamentos, porém eles não me abandonaram. Neste instante estou sentado - encostado à parede da catedral -, pois a hora não me permite entrar e pedir a Deus que me oriente.

Um pensamento mais maligno, porém, também me recorre nesta hora. Penso que preciso açoitar-me até que a vida me seja escassa. Foi isso que aprendemos, e só assim posso expurgar qualquer mal.

Nesse instante, porém, começo a pensar: será que o mal é uma força identica à do bem? Com sentido inverso? Será que o mal é injusto e o bem justo? Será que açoitar-me é justo e bom? Enquanto divagar é injusto e mal? Será que foi o demônio maligno que me fez imaginar? Ou será que foi Deus quem me fez assim? Será o castigo bom? Será o castigo uma forma de volver-me aos preceitos dívinos? Serei eu uma criatura de Deus? Se não for devo me importar com a bondade? O que sou, senão isso que sou? Para que servem estes pensamentos? Os pensamentos, que não em Deus, são injustos e malignos?

Abandonei-me por dias aos questionamentos, mas não movi-me um centímetro de onde houvera sentado. Fiquei lá, com os olhos fixos em nada apenas pensando. Foi então que a guarda imperial me viu - imundo e mal-cheiroso. Tentou contato, mas - ainda compenetrado nos pensamentos - não falei-lhes uma palavra sequer que tivesse sentido. Tido fui por endemoniado, e antes que pudesse justificar qualquer estado encontrei-me com a morte num último banho.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Castelando.

Eu sou um castelo recolhido na areia. O sol que aquece o castelo é minha vaidade. Eu sou castelar, e vou castelando. Sou saudade! Enquanto a areia se transforma em mim sou eterno. Enquanto o sou me castiga sou sol interno. Enquanto me vingo sou austero. Sou castelo, sou invisível, sou sol e sou torto. Enquanto vivo, enquanto morto.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Bang!

Ouvia the drugs don't work do verve por dias a fio. Sentia-se como se a música o pedisse. Dizia: Eu espero que você pense em mim quando você deita no seu lado da cama. Era triste ouvir. Triste sentir o orvalho brotar daquela rosa face. O coração rachava como o sertão agreste. A vida rachava. A dor... consumia. As drogas não faziam efeito. O céu do quarto era absoluto. O teto antropófago. Chão vermelho. Um buraco no estômago cauterizado pela dor. Um som: Bang! Um fio vermelho chorado pelo ouvido!!!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Está tudo errado...

Não, não. Está tudo errado.
Tudo se perdendo nas areias.
Os canais fechando-se céu,
revelando-se estão as teias.

Está tudo mais que perdido,
e tudo mais-que-perfeito...
É tudo, então, resto parte
esquecido no mal desfeito.

Está tudo, tudo, tudo falido!
A ermida caida na solidão
do povo que vive de amor
imprestável e de adoração.

Está presente a chama viril,
o fogo-fátuo da impavidez;
A garra dos maus pecadores,
o silêncio do que nada fez.

Está criada a nova ordem,
a vida em sua nova imagem,
o laurear da vicissitudes,
o regozijar da vassalagem.

Está! Sim, está tudo perdido;
Já não existe instituição,
é tudo carência, desordem...
é tudo pendência, degradação.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Existência

Num átimo tornei-me teu; Cativou-me o olhar, cegou-me os sentidos; Fez-me novo, entre a explosão. Senti-me renascido; vencido; perdido... Caído em teus enleios de amor. Eu quem sou? Eu quem? Sou o fogo que arde em tua voz, e a voz que ecoa em tua alma. Tua alma ardente, e a ardência que és tu. Sou tudo que tu és, e sem ti nada sou. Sem ti nada é, sem ti nada existe!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

As horas

Eram as horas que o incomodavam. Eram aqueles ponteiros e aqueles barulhos. Era o tempo e as lunações. O grande e imaterial tempo, principalmente. Ele - mais do que qualquer outra pessoa - se sentia um prisioneiro do tempo. Sentia medo daquele sentimento do movimento de um corpo em relação a outro. Era como se a quarta dimensão fosse um monstro, e para ele não deixava de ser. Pavoroso! Pensou em fugir para uma quinta dimensão ou, simplesmente, anular a quarta e ficar com as três que tanto apreciava. Era impossível. O tic-tac eram duas marteladas consecutivas em sua existência. Resolveu, porém, entender o tempo como uma ilusão, assim o fez. Continuava sendo medonho, porém o medo advinha do fictício. A única coisa que ele desconhecia era que os seus batimentos cardíacos desafiavam a ilusão, pois batiam um silêncioso e mortal tic-tac.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Pedaços

Por quê não podemos, simplesmente, guardar uns sentimentos no bolso para usá-los quando quisermos? Usá-los de forma desmedida e desmoderada? Ter o poder, por exemplo, de dar amor a quem temos ódio mortal. Dar carinho a quem precisa de carinho. Oferecer, a quem sempre pede, orgulho. Ternura... Seria bom? Ruim? Essa miscelânea de sentimentos é o que nos faz humanos? Será? Eu, no fim das contas, queria ter um bolso. Dobraria cada sentimento e guardaria nele para usá-los de forma mais racional. Para testar cada sentimento! Por que, sendo humano, a única coisa que aprendi foi a deteriorar. Hoje faço isso bem, deterioro tudo, inclusive sentimentos!

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Curiosidade!

A curiosidade é um defeito. Um péssimo defeito, cujo maior atributo é a ânsia de matar a própria curiosidade. Esse era o mal de Carlos. Homem demasiadamente virtuoso, contudo de uma curiosidade estratosférica. Daqueles que não se aquietava enquanto não matava a curiosidade. Tão curioso, que ao lhe sussurrarem sobre um acidente terrivelmente trágico, foi em sua procura. Para a supresa de Carlos o acidente - trágico, terrível e letal - da qual foi a procura era o seu próprio.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

As cortinas

Era como descortinar um passado sombrio, e enterrar as memórias faustas. Ele só queria um pouco de terror em sua vida, já que a felicidade era tudo que tinha desde que tinha vida. Felicidade era um mal necessário, dizia. E para quê? Ninguém é feliz sendo feliz sempre. Queria terror a todo custo. Decidiu que faria algo terrivelmente terrível. E fez! Depois disso a única lembrança que teve foi das cortinas do quarto se fechando para sempre.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Universos

O universo é vasto. Tão imenso e grandioso que estes olhos, que a ti veem, não podem vê-lo por completo. O universo é tão completo que não podemos imaginar o que não há nele, pois nossa imaginação não é tão completa quanto ele. O universo é um gigante solitário por natureza, pois, no alto de sua grandeza, não a outro igual a si. Poderiamos imaginar várias e variantes coisas, poderiamos... porém nenhuma tal qual o universo. O universo é o que há de mais lindo e mais infinito dentro do que conhecemos. Ainda assim, esse gigante que vaga solitário pela imensidão não é do tamanho, nem da grandeza, do sentimento que tenho dentro de mim.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Das configurações

Num dia em que se sentia extremamente estafado, enquanto delirava sobre tudo o que não vivera, resolveu desconfigurar-se e apagar o próprio disco rígido. Nenhuma informação restou. Tornou-se outro na esperança de fazer o que não havia feito. Aconteceu, porém, que ao reinstalar-se, mesmo sem saber, continuou sendo o que era, pois o sistema era o mesmo. A diferença é que as "novas" informações eram mais doridas.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Esquecimento

Era d'um esquecimento sem precedentes, esquecia tudo. Tão esquecido que ao se afogar precisou pelo empuxo ser lembrado de que deveria boiar.

Um tal arrepio...

Andava pela rua deserta à meia-noite. Era lugubre. Tudo muito calmo, a luz serenando sobre o asfalto frígido. A lua escondida no tempo. Contornou a esquina, viu um vulto. Sintiu um calafrio percorrer os poros. Era a solidão. O medo lhe contorceu os cabelos. Correu até se encontrar com sua própria sombra!

terça-feira, 13 de abril de 2010

O que não se pode ver...

Abri meus olhos para mundo, e era tudo marrom. Como minhas iris eram. Eram castanhos, quase apagados. Um dia os fechei. Prometi abrí-los no dia em que uma luz pudesse atravessá-los enquanto encorbertos por minhas pálpebras. Os olhos continuaram fechados por um longo tempo. Quando a luz apareceu eles não se abriam. As pálpebras haviam consumido os globos.

sábado, 3 de abril de 2010

Momentos

Há momentos da nossa vida que ficam para a eternidade, por que nos fazem extremamente felizes. Há momento da nossa vida que nos ensinam quem são nossos amigos. Há momentos da nossa vida que nos ensinam em quem confiar. Há momentos na qual descobrimos quem realmente se importa com a gente. Há momentos que nos fazem querer parar no tempo. Há momentos em que pedimos a Deus que o tempo passe mais rápido. Há momentos em que tudo o que precisamos é ficarmos sozinhos, com uma boa companhia. Há momentos da nossa vida em que nada importa. Há momentos em que podemos facilmente chorar e sorrir, sem motivos. Há momentos em que a vida é mais que uma simples Vida, e ainda assim não nos sentimos satisfeitos. Há momentos em que a perfeição isola, e as coisas parecem boas demais para acreditarmos. Há momentos que ninguém entende, que ninguém vive plenamente. Há momentos que só a adrenalina explica, e só o vento no rosto ruborizado pelo sol importa. Há momentos em que as estrelas no céu, e cheiro quente do mar enternece a alma. Há momentos em nossa vida que não precisamos do perfeito, pois é no imperfeito que está o que mais desejamos. Há momentos que um sorriso muda o mundo, e mundo se torna um lugar habitável. Há momentos em que lutar não importa, só importa se importar. Há momentos na qual só o silêncio sabe nos dizer o que precisamos ouvir. Há momentos em que um abraço nos faz voltar à vida. Há momentos inexplicáveis de pura intensidade. Há momentos simplesmente inexplicáveis. Há momentos e momentos. E, em todos eles, há pessoas com a qual planejamos estar. Para todos os momentos, todos, há sempre um alguém. Há sempre um lugar. Há sempre um momento que o próprio momento não quer explicar.

domingo, 21 de março de 2010

A vida complexa dos azulejos

Sentado no canto inóspito e hermético de um quarto vazio e sombrio, enquanto subtraia das sombras os raios mais fulgidos, perguntava ao azulejos encardidos se era isso o que eles queriam ser. Ante a ausência de resposta, entendia-se que eles eram indiferentes à natureza de sua existência. Eles faziam, e apenas faziam, o que tinham sido programados pra fazer. Era tão estranho ver que eles não podiam ser mais nada, que não tentavam ser mais nada. Como se entregavam àquela natureza obscura e trágica da qual lhes haviam dito ser suas. Os azulejos se conformaram com a vida que tinham. Talvez não tenha sido sempre assim, talvez, e apenas talvez, já tenham tido vontade de lutar para serem outras coisas, todavia hoje eram só azulejos encardidos. E pareciam não se importar, por que só essa natureza, forçada e morta, lhes fazia sentir como que confortáveis. E ele, que não sabia quem era, se perguntava por que ser azulejo era tão difícil, tão complicado. Ele percebeu que os azulejos não respondem. Eles apenas mostram o que são, e os outros que copiem, caso queiram, sua esquadria.

sábado, 20 de março de 2010

Daquilo que se perde sem querer...

Sem querer, a gente perde coisas da qual demoramos muito tempo para conquistar, adquirir ou construir. Por quê? Parece-me, geralmente, que ao darmos muito valor à própria coisa, esquecemos de valorizar o que a envolve. Tudo que envolve a coisa é tão [ou mais] importante que a própria coisa. Dessa forma, olvidamos o contexto e as relações transitórias de relevância para a coisa, e [por nossa total e exclusiva culpa] perdemos essa coisa; Lamentar nessa situação não me parece ser de grande alívio, nem tampouco uma distração para a nossa infelicidade. Ao perder a coisa ela parece que se intensifica em nós, porém não é coisa em si que está nós. É, apenas, uma lembrança dela. É como que reescrever o que se apagou, e imaginar que é a mesma coisa que se havia escrito antes. Não é. Jamais será!

quarta-feira, 17 de março de 2010

Daquilo que não se conquista

Há ideais que nascem fadados ao engano. Nascem, apenas nascem. Germinam ninguém sabe como e prevalecem nos mais inóspitos ambientes jamais vistos. Como se - de uma forma totalmente alheia à sua própria natureza - tivesse que sobreviver do que não se sobrevive. Tirando alimento do silêncio, da falta, do que se não tem... Eis o próprio Silêncio e Ausência interior! Há coisas que não se conquista, por mais que se lute uma vida toda por ela, e tudo aquilo que não se pode conquistar deve ser apenas mais um degrau de uma escada sem degrais.

Antecedentes

Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?
— O que eu vejo é o beco.
[Manoel Bandeira]

Eu que já tanto disse, hoje, contudo, engulo minhas amargas palavras. Elas possuem o gosto do fel! Falo, mas tu não me ouve. Não me escreve. Não me lê. O que foi que eu fiz? O que foi que não fiz?

Não é como antes que não me ouvia, apenas para não se lembrar que minhas palavras não tinham importância alguma. Agora é tudo diferente, indiferente. Faço-me em rasgados verbos, mas nenhuma conjugação te impressiona. Nada te impulsiona, nada te agrada, nada!

O que foi que eu fiz?
Hoje sei. Quis conhecer-te, quando um alguém não mais quisera!

terça-feira, 2 de março de 2010

Cortinas

Acordo, pela manhã.
Levanto-me, com cuidado.
Deslizo até a janela,
descortino-a, e vejo.
Vejo o sobejo rio,
e rio.
Solitário,
a vasta ingênuadade
que me escapa,
quando se fecham
as cortinas.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Ninguém!

Ninguém me ouve!
Falo, ouço, perturbo,
ninguém, ninguém.

Toco a campainha,
ouço passos no sótão,
ouço gritos, e grito.

Ninguém me ouve!
A percepção de mim
não é audível!

Passo os passos,
volto e revolto,
sigo e contorço.

Ninguém me ouve!
Ninguém ouve.
Ninguém.

Fico, e sacrifico,
vejo os ninguéns,
ninguém olha!

Ninguém me ouve!
Os ninguéns tomam
conta de tudo.

Por todo canto há
ninguém calado e
ninguém surdo.

Ninguém me ouve!
Ainda assim eu
ouço, e aboreço.

Ando os sete cantos,
apedrejo ninguém,
ninguém se importa.

Ninguém me ouve!
Tudo transcorre
como se no vertíce.

No vertíce de ninguém,
e ninguém se preocupa,
e o nada toma conta.

Ninguém me ouve!
Entristeço e clamo
por rendição.

Outro engano,
ninguém quer ver,
e os olhos ardem.

Ninguém me ouve!
Desmorona o céu,
e rogo pragas.

A vida acaba,
e ninguém me ouve,
e me amargo.

Ninguém me ouve!
Não ouve ninguém,
não houve.

Restam os ecos,
do ninguém disse,
e ninguém ouviu.

Ninguém me ouve!
Me calo, sou ninguém.
Já não me ouço.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

O ser.

Pensei saber quem sou,
porém - e há um porém -
a gente é tudo que vem
de tudo que não ficou.

É deveras importante,
pois, ser-se alguém
do preço de um vintém,
do valor d'um diamante.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Insistência

Este é o amor meu,
fruto da irônia!
Amor que cresceu
da pura solidão,
Amor que não se via.
Que jurou eternidade
nas flores da saudade!
Amor que se encontrava
Amor que se perdia!
Que mais me recusava,
e mais eu insistia.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Castelo de areia.

O sol respingava pelas frestas do céu, enquanto a vida flutuava no horinzonte espesso. O mar ressoava em ondas tênues, de tênues passos de uma dança irregular. A areia da praia - desabitada - era marcada por pensamentos que se arrastavam para dentro da angústia construída pela solidão intacta das sombras. Dessas sombras se eregiu o castelo de areia. Um castelo de areia de sombras.

E se fez o forte e as torres. Os muros e as alas. Os corredores e as passagens. Fez-se janelas por onde a sombra perpassava. Portas, porém, não se construiu. Os castelos de areia de sombras não tinham espaço para portas, tampouco para as pontes arquitetadas.

O forte e as torres eram ocos. Os muros e as alas sinuosos. Os corredores e as passagens esburacados. As janelas continham cortinas de sombra. Das portas houveram só o desejo rabiscado nos muros areia de sombra.

O Castelo estava pronto. Por fora um lindo castelo de areia. Por dentro um singelo castelo de sombras.

Chegou o vento. Soprou o castelo de areia de sombras. Tirou lascas e lascas do exterior, mas o castelo mostrava-se imponente. A intensidade aumentava, mas as sombras não cediam. O vento se foi, e o castelo de areia continuou em pé sem rechadura alguma.

Veio então o mar. Uma onda corpulenta fora cuspida do mar. O castelo de areia cedeu. Tornou-se novamente apenas areia. Areia molhada e fria. Fria como a angústia que era escrita pelas marcas de outrora.

Era só olhar...


Era só olhar naqueles olhares, 
 naquela imensidão de passagem. 
Era só olhar! 
Só olhar a vista tênue e simplória
 que corria os desníveis do mundo,
 que aliviava as sensações...
Era só olhar,
e ver o mundo...
Aquele mundo cheio de grandeza e sutileza.
Ouvir os olhares falando dos mares
 de arrebóis perdidos na imensidão
 da fraqueza. Da falta de fraqueza!
Era só olhar!
Ver que aqueles olhos viam muito mais
 que simples aromas sem cores.
Ver as cores dos olhares a criar
 ranhuras na impoluta paisagem cinza.
Era só olhar.
Era olhar, e ver o todo num copo
 quebrado de nada e vento seco.
Era o olhar.
O olhar em que tudo se perdia,
 e em que tudo se encontrava.
Era só olhar!
Olhar e fenecer,
 sem perceber que jamais houve olhar
 mais brando e acre que aquele
 que soube vislumbrar a tristeza
 d'um horizonte pecaminozo e pesado.
Era só olhar
 a se perder, e se deixar.
 a viver e deixar-se esquecer!

Incompreensível.

Há nada que explique alguns sentimentos, nada. E ainda assim, mesmo sem explicação, pode-se entendê-los num momento de esquecimento total. Nessa ausência, nessa frequência concebida pelas janelas da solidão é que tudo acontece, conquanto seja impossível saber que aconteceu.

Que importa saber o que aconteceu? Que importa? Existem coisas não foram criadas para serem não entendidas, e estas, normalmente, foram as coisas criadas pelos homens, no seu ímpeto de serem maiores que a natureza.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

The drugs don't work

All this talk of getting old
It's getting me down my love
Like a cat in a bag, waiting to drown
This time I'm comin' down
[...]
But I know I'm on a losing streak
'Cause I passed down my old street
And if you wanna show, then just let me know
And I'll sing in your ear again

De onde vem este querer,
Tão útil quanto o não ter.
Desolador, vil e imenso,
jovem, senil e propenso
a matar e deixar viver.

De onde vem este querer,
Que não sabe enriquecer.
Desonesto e humano;
Crente, vívido, profano,
A pétala do perder.

De onde vem este querer,
A razão pura do abster.
Querer, e não palpar!
Eis a vida a ironizar
o sonho do não poder.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Diferente


É tudo diferente agora.
Nada é mais como era. 
As coisas parecem ter mudado de rumo,
os rumos parecem ter mudado. 
Os olhos já não brilham, 
a face já não se enrubece.
Lembra-se tudo, e se esquece!

Nada é mais como era.
A mesma boca que negou,
agora, ávida de amor, anseia.
É tudo diferente agora.
Já não se sente mais o querer,
o brilho, o ardor, o pejo...
A outra boca já não tem desejo.

Tudo é diferente.
Nada é igual.
Passou-se o tempo e a paixão.
Os amores se foram, foram em vão.
Tudo se foi, e foram-se os prantos.
Tudo é diferente agora,
pois o sentimento,
aquele de outrora,
perdeu o portento, 
e foi embora.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Questionamentos

Como se mede um desejo?
Pela intensidade da boca,
que cala-se, quase rouca,
ou pelo calor do beijo?