terça-feira, 30 de setembro de 2008

Flogose LXXV

Haverão, num futuro próximo, pessoas que conseguirão gerir melhor o mundo. Pessoas que consertarão os erros que hoje cometemos. Espero poder assistir a ascensão dos seres humanos a um estágio humano de vida. Sei que haverão, pois estas pessoas já existem! Só ainda não estão preparadas para melhor o mundo, ainda... Eu realmente espero fazer parte disso! Do mundo humano. Pois assim como os pássaros, que dia após dia, com sol, chuva ou neve, cantam seu canto de doçura existem pessoas que lutam. Conheço algumas dessas pessoas que mudarão o mundo um dia!

Flogose LXXIV

Acabei de me lembrar de um livro que li, ou talvez apenas tenha começado, chamado Desventuras em Série. Lembro-me perfeitamente de como começava:
Se vocês se interessam por histórias com final feliz, é melhor ler algum outro livro. Vou avisando, porque este é um livro que não tem de jeito nenhum um final feliz, como também não tem de jeito nenhum um começo feliz, e em que os acontecimentos felizes no miolo da história são pouquíssimos. LEMONY SNICKET
Adoro este início, talvez por parecer bem mais verdadeiro que os contos de fada propriamente ditos. E realmente o livro tem muito pouco de coisas felizes. A estória desenrolá-se sobre cenários dos mais nefastos e impetuosos para com os três jovens Baudelaire, contudo a gênialidade com que eles lidam com os problemas é que é uma lição grandiosa. É por isso que gosto mais deste conto do que de muitos outros em que os começos são felizes e o desenrolar da estória favorece sempre o protagonista. Este livro mostrar claramente por que a união e o amor fazem a diferença. Um dia, quem sabe, eu conte uma estória, um conto que não tem também um começo feliz...

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Flogose LXXIII

Que tristeza é esta que aparece as vezes do nada? Que sentimento é este? Poderia até dizer que é fraqueza, mas não acredito nisso piamente. Sei que nesses dias me sinto assolado e de tal forma triste que não me sinto a vontade de fazer muita coisa. Ruim? Talvez! Já falei sobre esse vazio algumas vezes, contudo ele é sempre recorrente e é desconfortante não soltá-lo! É como uma prisão de si mesmo em seus próprios pensamentos. Sempre falta alguma coisa, ainda que não saibamos o que é! O espírito do vazio parece-me ter o dom de instalar-se facilmente nesses espaços e trazer-nos um tipo nada concreto de dor. Uma dor irracional, talvez. Entretanto é tristeza! Uma tristeza prolongada e silênciosa.

domingo, 28 de setembro de 2008

Flogose LXXII

Não parece-nos nada ou, quem sabe, nem um pouco saudável. Todavia quem tem essa companhia tem certeza de que, em algumas horas, é uma das melhores que se pode existir. Acede-se um cigarro (como os vários que acendo durante as noites) e a solidão não parece tão grande quanto seria sem ele. Sei que é um mau hábito, mas o que fazer? As noites quentes, frias ou solitárias são sempres as mesmas e é ele que me faz companhia a algum tempo. Quando há noites tristes e não há ninguém pra conversar, o cigarro ajuda a não se sentir tão sozinho, ainda que não recomende.

sábado, 27 de setembro de 2008

Flogose LXXI

Nossas necessidades são incríveis. A vunerabilidade das pessoas parece ser bem maior do que eu penso que seja. (Eu 1)- Hei, como vai? (Eu 2)- Vou bem! Sem outras palavras, a conversa terminaria nisso. Enquanto que a pessoa que pergunta também precisa ser, mas como é uma única não se sente confortável em falar para si mesmo coisa que supostamente sabe. As vezes só queremos ser ouvidos! É um gesto simples, embora signifique muito para quem fala, para quem chora, para quem sorri. Sentir-te reconfortado pelo afeto, pela disposição e interesse é algo impagável. Deveríamos ouvir mais, para isso, acredito, que temos duas orelha e não duas bocas.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Flogose LXX

Não é apenas estar ali que faz o momento. Não é a presença que faz a hora, mas todo o desejo que se esconde por traz. O desejo forte e ardente de querer compartilhar o momento e a hora! Gostaria, às vezes, de ouvir um "oi" apenas. Ou ouvi-la suspirar. Deitar-me junto a sua cama novamente e durmirmos, ambos, como anjo, sem medos, sem dores e sem lamentações. Só gostaria de sentir mais uma vez aquele doce e carinhoso gesto de ser afagado nos cabelos, mais uma vez. De poder olha-la de perto e dizer o quanto sinto sua falta. Ou apenas vê-la sentada naquele sofá vendo as novelas que tanto gostava. Chorar no seu colo, enquanto ela me falava palavras carinhosas. Comer um de seus suculentos almoços. Esses foram bons momentos. Momentos que estarão em minha memória para sempre, mas eu gostaria de ter aproveitado mais. Gostaria de poder ter dito que a amava mais vezes e que a vida era boa demais quando estavamos juntos. Que não havia coração maior que o dela. Que sempre foi e será linda! Que seu sorriso modificava meu dia e me dava serenidade. Que suas broncas me faziam ir em frente e ser uma pessoa melhor. Hoje digo, apenas, que sinto sua falta e cada dia que passa sua lembrança só aumenta, mas não estou triste. Estou feliz por que sei que um dia nos reencontraremos novamente e poderei novamente sentir todo o amor que um dia me deu.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Flogose LIX

Durmi tão docemente... E em sonho estive longe... Nos mais remotos lagos azuis do mundo, onde não havia terra só pensamentos! Não tardei a encontrar os sublimados recantos dos jardins suspensos da babilônia, onde pude sentir os libidinosos sentimentos exalados pela grama.... Meditei no Templo de Ártemis em Éfeso, sentindo meu corpo dispersar neutro, sem inferência do mundo, sem sentimentos, sem virtudes, sem obrigações, já quase sem corpo... No Mausoléu de Halicarnasso dediquei dias aos espíritos, ao meu próprio, e aos que já se encontravam n'outro plano ou n'outras parcelas do mundo.... Colosso de Rodes, óh Colosso, quão esplendoroso foi estar lá... Pude sentir-me mais perto dos Deuses, mais perto do liame entre alma e corpo, sentir-me vivo... Por fim, fui ao Farol de Alexandria, onde pude gritar tão alto que senti o vibrar dos pulmões... Gritar ao mundo, onde ninguém poderia ouvir-me... Onde tudo era eu, e eu fui tudo, por um momento....

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Flogose LVIII

Lembrei-me recentemente desta estória que é, de modo simples, um extrado de como as pessoas devem agir e se comportar diantes de certas ocasiões. Certa vez, um sultão sonhou que havia perdido todos os dentes. Ele acordou assustado e mandou chamar um sábio para que interpretasse o sonho. - Que desgraça, Senhor! - exclamou o sábio - Cada dente caído representa a perda de um parente de Vossa Majestade! - Mas que insolente - gritou o sultão - Como se atreve a dizer tal coisa? Então, chamou os guardas e mandou que lhe dessem cem chicotadas. Mandou também que chamassem outro sábio para interpretar o mesmo sonho. O outro sábio disse: - Senhor, uma grande felicidade vos está reservada! O sonho indica que ireis viver mais que todos os vossos parentes! A fisionomia do sultão se iluminou, e ele mandou dar cem moedas de ouro ao sábio. Quando este saía do palácio, um cortesão perguntou ao sábio: - Como é possível? A interpretação que você fez foi a mesma do seu colega. No entanto, ele levou chicotadas, e você, moedas de ouro! - Lembre-se sempre - respondeu o sábio - tudo depende da maneira de dizer as coisas. E esse é um dos grandes desafios da Humanidade. É daí que vem a felicidade ou a desgraça, a paz ou a guerra. A verdade deve ser dita sempre, não resta a menor dúvida, mas a forma como ela é dita é que faz a diferença. A verdade deve imperar sempre, temos, contudo, que aprender a utilizá-la de forma a não machucar ninguém;

Flogose LVII

Essa é, com toda certeza, uma das melhores estórias que já li na minha vida. A verdade - Luís Fernando Verissímo. Uma donzela estava um dia sentada à beira de um riacho, deixando a água do riacho passar por entre os seus dedos muito brancos, quando sentiu o seu anel de diamante ser levado pelas águas. Temendo o castigo do pai, a donzela contou em casa que fora assaltada por um homem no bosque e que ele arrancara o anel de diamante do seu dedo e a deixara desfalecida sobre um canteiro de margaridas. O pai e os irmãos da donzela foram atrás do assaltante e encontraram um homem dormindo no bosque, e o mataram, mas não encontraram o anel de diamante. E a donzela disse: - Agora me lembro, não era um homem, mas dois. E o pai e os irmãos da donzela saíram atrás do segundo homem, e o encontraram, e o mataram, mas ele também não tinha o anel. E a donzela disse: - Então está com o terceiro! Pois se lembrara que havia um terceiro assaltante. E o pai e os irmãos da donzela saíram no encalço do terceiro assaltante, e o encontraram no bosque. Mas não o mataram, pois estavam fartos de sangue. E trouxeram o homem para a aldeia, e o revistaram, e encontraram no seu bolso o anel de diamante da donzela, para espanto dela. - Foi ele que assaltou a donzela, e arrancou o anel de seu dedo e a deixou desfalecida – gritaram os aldeões. – Matem-no! - Esperem! – gritou o homem, no momento em que passavam a corda da forca pelo seu pescoço. – Eu não roubei o anel. Foi ela que me deu! E apontou a donzela, diante do escândalo de todos. O homem contou que estava sentado à beira do riacho, pescando, quando a donzela se aproximou e pediu um beijo. Ele deu o beijo. Depois a donzela tirara a roupa e pedira que ele a possuísse, pois queria saber o que era o amor. Mas como ele era um homem honrado, ele resistira, e dissera que a donzela devia ter paciência, pois conheceria o amor do marido no seu leito de núpcias. Então a donzela lhe oferecera o anel, dizendo: “Já que meus encantos não o seduzem, este anel comprará o seu amor.” E ele sucumbira, pois era pobre, e a necessidade é o algoz da honra. Todos se viraram contra a donzela e gritaram: “Rameira! Impura! Diaba!” e exigiram seu sacrifício. E o próprio pai da donzela passou a forca para o seu pescoço. Antes de morrer, a donzela disse para o pescador: - A sua mentira era maior que a minha. Eles mataram pela minha mentira, e vão matar pela sua. Onde está, afinal, a verdade? O pescador deu de ombros e disse: - A verdade é que eu achei este anel na barriga de um peixe. Mas quem acreditaria nisso? O pessoal quer violência e sexo, não histórias de pescador. E não é a mais pura verdade que o sexo e a violência tem imperado com mais frequência que a verdade na vida contidiana. Os programas de tevê fazem questão de serem o mais sanguinários possíveis e a medida que é mais sanguinário mais audiência conquistam, ainda que a realidade não seja tão drástica assim, as vezes.

domingo, 21 de setembro de 2008

Flogose LVI

A paixão, tal como a arte, vive só para si: a arte para a arte, a proeza para a proeza, a coragem para a coragem, o amor para o amor, a embriaguês para a embriaguez, o prazer para o prazer. Quem disse que a vida é um sonho ? A vida é um jogo. "O Livro Secreto". Gabriele D'Annunzio. E a paixão os dados.

sábado, 20 de setembro de 2008

Flogose LV

Complementando, Nietzsche disse: A Igreja é a pedra colocada sobre a sepultura de um homem-deus, e procura, à viva força, impedi-lo de ressuscitar. E impede também as pessoas de serem melhores. A fé pode fazer as pessoas melhores, a igreja creio que não, pois acredito que quanto mais próximo se está destas entidades mais longe estão do verdadeiro Deus. Acrescento também que se um dia o Homem-Deus ressuscitar a igreja não servirá pra nada, por isso é que não possuem eles interesses nenhum que essa ressureição exista. O interesse, ao contrário, está nessa promessa de ressureição, pois aí está o dinheiro.

Flogose LIV

Deveria ser algo engraçado, caso não fosse tão funesto e ignóbil. Recentemente me deparei com uma situação totalmente nefasta duma igreja. E isso me lembrou, no mesmo momento, de Nietzsche. Nietzsche dizia que: "A Igreja é exactamente aquilo contra o qual Jesus pregou e contra aquilo pelo qual ensinou os discípulos a lutarem". O que ocorreu foi o ato mais sujo e "pecaminoso" que já vi. Mudava eu sem orientação os canais da minha pobre televisão aberta quando um canal religioso, na alta hora da noite, me chamou a atenção e como chamou. Um pastor, numa filmagem de dentro de uma igreja evangélica, vendia lâmpadas dizendo ele que elas traziam salvação (isso é um absurdo, mas enfim...). Muita gente comprou essa lâmpada. Uma senhora, já idosa, comprou uma destas lâmpadas e esta sua lâmpada estava com algum tipo de defeito, pois a mulher reclamou de a lâmpada não acender. Para resumir e melhorar a canalhice deste inescrupuloso homem, conto que ele falou para a mulher que a lâmpada defeitursa não acendeu por quê a fé desta idosa estava pouca. A mulher, provavelmente, está rezando até hoje para melhorar sua fé e ver sua lâmpada então acesa. Eu já não gostava destas entidades, hoje gosto menos ainda ou nada. E com certeza (eu que não sou tão religioso, como Nietzsche também não foi) sei que esta não é a Lição que Deus ou Jesus quis ensinar... Sei de uma coisa, Deus com certeza não está dentro destes lugares sujos e nefastos. Espero que as pessoas acordem o mais cedo possível desta ignorância em que vivem e começem a ter fé nelas mesmas e não nestas casas de mentira. Jesus, creio, se vivo, combateria essa corja de hipocrisia e canalhice.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Flogose LIII

Não há prazer que dure se não for reanimado pela variedade. Públio Siro O que seria da nossa vida se ela fosse apenas uma rotina? Seria um algo sem prazer algum.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Flogose LII

O que determina o comportamento das pessoas? Será pré-disposição genética? Influência do meio? A natureza da pessoa é realmente má? As pessoas nascem más e deixam de sê-lo na medida em que vão adquirindo personalidade e cultura, por influência ou por auto-conhecimento? Perguntas e mais perguntas... Seja por pré-disposição genética, embora eu não creia piamente nisso, seja pela natureza má dos seres humanos, as pessoas são controladas pela natureza instintivas, em dados momentos da vida... Agem normalmente visando sua proteção e ferem, sim ferem, os outros. E creio haver motivos, talvez não tão relevantes ao que é ferido, mas há. Eu creio que haja um tipo de necessidade em cada ato praticado por cada ser, seja um ato de defesa própria ou qualquer outra causa, por mais injusta que seja. A necessidade faz o momento, ainda que seja duvidoso o motivo pelo qual tal ser praticou determinado ato.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Flogose LI

As coisas sempre se apresentam horríveis no momento exato (ou pouco depois) em que foram executadas... O ato aparenta ser mais cruel do que foi ou poderia ter sido, já que quem é afetado diretamente sente-se totalmente ferido e/ou traído. Em vezes queremos ver só o nosso lado do espelho e esquecemos que há reflexo. Que há um outro lado e que, mesmo havendo outro sorriso ou lágrima, a nossa é mais pesada. Dizem que há pessoas que nascem com determinada disposição para ser alguma coisa, mas não quero crer que isso é real. Creio, todavia, que há momentos e que tais momentos interferem nos atos dos seres humanos. Todos choram, mas poucos lembram das lágrimas alheias enquanto as suas descem.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Flogose L

Por acaso existe um lado negro do lado negro? Caso exista o lado negro do lado negro seria este algo pior que o lado negro ou um lado menos pior que o lado negro? Se existir um lado negro do lado negro quero conhecê-lo, a título de informação. Esse negócio de pensar em paradoxos tem me ocorrido cada vez mais. Os paradoxos são fantásticos, embora não sejam algo com a qual devamos perdem tempo, e eu como tenho tempo de sobre no caixa, não perco, mas aproveitos tirando proveito dos pensamentos sem qualquer compromisso. Ainda encontro o paradoxo do paradoxo! E nesse mesmo dia talvez eu veja o peixe pescar a isca...

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Flogose XLIX

Sêneca disse certa vez que é preciso tomar cuidado com a tristeza, pois ela é viciante. E toda razão a ele assiste. Assim como acostuma-se com a alegria, acontece com a tristeza. Não por querer acostumar-se, pois parece algo abominável acomodar-se perante a tristeza, mas por acontecer simplesmente. Começa-se a gostar de ser triste, pois, de algum modo, aquilo de estar triste nos faz querer permanecer nesse estado ou não, mas permanecemos assim mesmo. Contudo, não digo que seja algo que se deva querer sempre. Não entendo bem o que vem a ser tristeza, ainda que sinta-lha presente agora, enquanto meus dedos percorrem incessantes inúmeras teclas desse febril plástico. Entretanto, consigo pensar bastante quando uma tristeza mórbida me acomete. E não é nada sobre morte ou sobre as deficiências do mundo, mas em tudo, ainda que em um prisma totalmente diferenciado. A tristeza é viciante! Meu eu triste gosta de se aproximar da natureza, desta quase invisível aos olhos humanos... Esta que cobre o mundo enquanto o dinheiro corre as agências bancárias dos continentes. Admirar o sol e sua escalada. A tristeza é um vício que me faz "bem"... Ouvindo: One hundred years - The Cure.

domingo, 14 de setembro de 2008

Flogose XLVIII

Sinto uma estranheza nos ambientes, para não falar em todos! Uma estranheza sutil, mas desconfortante. Como ondas macilentas de alguma coisa invisível e devastadora. Sinto-me como numa máquina de lavar, rodando e rodando. O mais estranho de tudo é aparentemente não existe um motivo nisso tudo, as coisas estão acontecendo e a gravidade esmagando como um pé a uma lata de cerveja velha e vazia. Neste exato momento eu sinto que poderia escrever sobre qualquer coisa, qualquer mesmo, mas contraditoriamente nada me vem à cabeça. Poderia plantar sentimentos e creio que não nasceriam nem daninhas ali ou cá, embora o momento fosse perfeito para o cultivo e crescimento de tais sentimentos. Estar-me-ia forjando um sentimento de bem-aventurança, neste exato momento, um crescer mais que crescer. Um estado de estar sem estar. Uma viagem para dentro dos glóbulos e nódulos dos meus instintos mais vorazes. Estou, talvez, para além da cúpula do nada. É isso. Ouços os tiques e taques de uns tiques nervosos que não tenho. Os cucos da aurora brilham no escuro, como se profanassem contra a escuridão numa batalha de insolventes. Uma contrastação de nada, vento e inspiração da falta de inspiração. De noite e quedas de arrebóis, num mar de chamas derretidas e neve ardente. O colapso dos sentimentos não nascidos. O transbordar de inflamações mentais. Uma noite seca e sem alma. O resto de um resto!

sábado, 13 de setembro de 2008

Flogose XLVII

Continuando a falar sobre "amor", lembrei-me de Michel Houellebecq e de sua obra As Partículas Elementares. É interessante a forma como ele assevera que os homens não sabem o que é o amor, ainda que eu já houvesse me convencido disso antes, quando, novo, meu pai dizia que o amor foi feito para as mulheres. As mulheres sabem amar, dizia, pois elas possuem o dom dívino de gerar frutos, os homens, continuava, são meros objetos do mundo. Ah! o texto: Os Homens não Sabem o que é o Amor De forma geral, os homens não sabem o que é amor, é um sentimento que lhes é totalmente estranho. Conhecem o desejo, o desejo sexual em estado bruto e a competição entre machos; e depois, muito mais tarde, já casados, chegam, chegavam antigamente, a sentir um certo reconhecimento pela companheira quando ela lhes tinha dado filhos, tinha mantido bem a casa e era boa cozinheira e boa amante - então chegavam a ter prazer por dormirem na mesma cama. Não era talvez o que as mulheres desejavam, talvez houvesse aí um mal-entendido, mas era um sentimento que podia ser muito forte - e mesmo quando eles sentiam uma excitação, aliás cada vez mais fraca, por esta ou aquela mulher, já não conseguiam literalmente viver sem a mulher e, se acontecia ela morrer, eles desatavam a beber e acabavam rapidamente, em geral uns meses bastavam. Os filhos, esses, representavam a transmissão de uma condição, de regras e de um património. Era evidentemente o que acontecia nas classes feudais, mas igualmente com os comerciantes, camponeses, artesãos, de forma geral com todos os grupos da sociedade. Hoje, nada disso existe. As pessoas são assalariadas, locatárias, não têm nada para deixar aos filhos. Não têm nada para lhes ensinar, nem sequer sabem o que eles poderão vir a fazer; as regras que conheceram não serão de todo aplicáveis a eles, porque eles viverão num mundo completamente diferente. Aceitar a ideologia da mudança permanente significa aceitar que a vida de um homem está reduzida estritamente à sua existência individual e que as gerações passadas e futuras não têm, aos seus olhos, nenhuma importância. É assim que nós vivemos, e ter um filho, hoje, para um homem, já não faz qualquer sentido. O caso das mulheres é diferente, porque elas continuam a sentir a necessidade de terem um ser que amem – o que não é, nem nunca foi, o caso dos homens. É um disparate acreditar que os homens também têm necessidade de acarinhar e de brincar com os filhos, de lhes fazer festinhas. Por mais que no-lo digam, é um disparate. Depois de nos termos divorciado e de o quadro familiar se ter desfeito, as relações com os filhos perdem o sentido. Um filho é uma armadilha que se fechou, é o inimigo que temos de continuar a manter e que vai acabar por nos enterrar. [...] Os homens não sabem amar e não houve ou haverá escola para ensinar-lhes isso. Por isso é que sinto uma admiração inexplicável por cada mulher deste nosso planeta. Por isso que sinto uma paixão por todas elas, por que só elas sabem amar! Eu gosto de apreciar este amor delas.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Flogose XLVI

Soren Kierkegaard, in "O Banquete" (Discurso do Mancebo, sem experiência no amor) Nenhum Amor é Menos Ridículo que Outro! Temos, pois, que ao amor corresponde o amável, e que este é inexplicável. Concebe-se a coisa, mas dela não se pode dar razão; assim também é que de maneira incompreensível o amor se apodera da sua presa. Se, de tempos a tempos, os homens caíssem por terra e morressem subitamente, ou entrassem em convulsões violentas mas inexplicáveis, quem é que não sofreria a angústia? No entanto, é assim que o amor intervém na vida, com a diferença de que ninguém receia por isso, visto que os amantes encaram tal acontecimento como se esperassem a suprema felicidade. Ninguém receia por isso, toda a gente ri afinal, porque o trágico e o cómico estão em perpétua correspondência. Conversais hoje com um homem; parece-vos que ele se encontra em estado normal; mas amanhã ouvi-lo-eis falar uma linguagem metafórica, vê-lo-eis exprimir-se com gestos muito singulares: é sabido, está apaixonado. Se o amor tivesse por expressão equivalente «amar qualquer pessoa, a primeira que se encontra», compreender-se-ia a impossibilidade de apresentar melhor definição; mas já que a fórmula é muito diferente, «amar uma só pessoa, a única no mundo», parece que tal acto de diferenciação deve provir de motivos profundos. Sim, deve necessariamente implicar uma dialética de razões, e quem não as quisesse ouvir ou não as quisesse expor, ganharia mais em desculpar-se com a inoportuna extensão do discurso do que em alegar a falência total de explicações. Ora a verdade é que o amante não pode explicar nada, não sabe explicar nada. Viu centenas de mulheres; deixou talvez passar muitos anos sem experimentar o amor; e um dia, de repente, vê a sua mulher, a única, a Catarina. Isto é ridículo. Sim, é cómico que tão grande força que há-de transformar e embelezar a vida inteira - o amor - nem sequer seja como o grão de mostarda donde deverá surgir uma grande árvore, que seja menos do que isso, que, em última análise, se reduza a um quase nada. Sim, é cómico que do amor não se possa apresentar um só critério prévio, por exemplo a idade em que se produz tal fenômeno, que da escolha da única mulher no mundo não se possa dar a mínima razão, que se haja escrito que «Adão não elegeu Eva, porque não teve possibilidade de a distinguir entre as mulheres». Não será igualmente cómica a explicação apresentada pelos amantes? Ou melhor, essa explicação não servirá para acentuar ainda mais o aspecto cómico? Os amantes dizem que o amor os cega, e depois de dizerem isso é que tentam iluminar o fenómeno. Se um homem entrasse numa câmara escura para ir lá buscar um objecto qualquer, e se respondesse «não vale a pena, a coisa não tem importãncia», a quem lhe dissesse que procuraria melhor se levasse consigo uma luz, eu compreenderia muito bem a atitude desse homem. Mas se esse mesmo homem me chamasse à parte para em grande mistério me confiar que ia buscar uma coisa importantíssima, e que por isso mesmo tinha de a procurar às cegas - como poderia a minha pobre cabeça de mortal seguir a subtileza de tão desconcertante linguagem! Evidentemente que não lhe riria na cara, para não ofender; mas, assim que ele voltasse as costas, não poderia mais conter a vontade de rir. (...) Se me entrego à hilaridade, estou muito longe de querer ofender alguém. Desprezo, porém, esses loucos, persuadidos de que o amor deles está tão completamente justificado que podem de bom grado mofar dos outros amantes; pois, uma vez que o amor se furta a qualquer explicação, todos os amantes se tornam igualmente ridículos. [...] O texto não carece comentário, pois nenhum amor é menos ridículo que o outro. Mesmo assim todos nós, estes tolos, queremos encontrá-lo, pois, de algum modo, acreditamos que há nele a tal felicidade que procuramos desde o primeiro suspiro.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Flogose XLV

Jeder Leser, wenn er hat einen starken Geist, liest sich in dem Buch, und amalgamates seine Gedanken mit denen der Autor. Goethe. Talvez, e apenas talvez, este tenha sido o motivo pelo qual os jovens se matavam quando liam "Os sofrimentos do jovem Werther". Eles sentiam as dores de Werther e como ele viviam seus desabores amorosos. O amor foi cruel com Werther e quanto mais amava, mais sabia que não devia amar. O sofrimento, dizem, é opcional. Eu não sei bem se isso é verdade e não quero crer que seja, pois o sofrer, cuja a dor arrasta o corpo e a mente, acaba com qualquer alma sã. E Werther conseguiu passar essa idéia.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Flogose XLIV

Tudo o que não faz barulho merece grande cautela! Assim como, o que faz barulho demasiado.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Flogose XLIII

O céu pode esperar! O céu deveria ter esperado. Só deveria ter esperado. As vezes coisas acontecem sem que saibamos o porquê. E essas coisas, inexplicáveis, diga-se de passagem, não serão descubertar tão cedo ou talvez nunca serão descubertas, ainda que eu ache nunca uma palavra muito forte. Só sei que o céu poderia ter esperado um pouco mais! A chuva poderia ter esperado! As núvens poderiam ter esperado... Como sempre fazem!

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Flogose XLII

Não são as lágrimas, mas as coisas por trás delas que fazem a diferença! Hoje, enquanto o frio consome a noite, lembrei de algumas poucas lágrimas que cairam do céu. Aquelas lágrimas boas que lavam a face do mundo. Aquelas que devem ser lembradas e esquecidas para que a cada nova lágrima deixemos nos surpreender. As lágrimas do céu, as do mundo ou as das pessoas são lágrimas que exalam um sentimento... E eu as lembro. As guardo na memória para sempre esquecê-las, pois só assim me surpreendo com as novas.

sábado, 6 de setembro de 2008

Flogose XLI

Essa vida de gente grande é foda. Eu que só quero continuar a ser criança. Pois muitos amigos meus ainda são crianças. E sempre os quero acompanhar ao parque e comer algodão-doce, enquando descemos o escorregador ou brincamos no balanço... Não quero crescer, apenas não quero. Por quê crescer me trouxe insônia! E eu, diferente, talvez, de muitos outros, gosto de ser criança, de poder me sujar de lama e levar bronca da mamãe quando chego em casa... É pecado querer ficar deitado na cama, enquanto a minha mãe me cuida de uma enfermidade? De poder chorar sem motivo aparente. De poder ficar de castigo, por não ter feito algo corretamente? E digo que só e apenas só quando sou criança é que eu fico momentânea e idiotamente feliz! E esta é uma felicidade tão doce e simples que deixa tudo a sua volta lindo. Sabe quando você acorda com um aperto no peito? Eu acordei assim hoje, pois descobri que já tenho barba e insônia.

Flogose XL

Andava pela rua, inabitada, quando um som começou a soar pelo vento. Uma música. Um concerto. Desconcertantes os passos seguiram involuntáriamente a fim de encontrar aquilo que era um paraíso para os ouvidos. Quanto mais próximo da origem do som, mais deleitosa era a experiência... A música, que possuía um tom melancólico, vinha de um piano. Aquele instrumento! Aquele colosso de musicalidade e romântismo. Aquele vibrar de alma e coração... Houvera chuva, houvera sol... Houvera constelações e arco-íris, Auroras Boreais e Luas... Houvera vida e morte... Sempre houvera... Nada se comparava à brisa fina e tibiosa. À solidão. À beleza dos jardins de inverno. E principalmente a melodia que ressoava daquele instrumento dívino... Anos se passaram... Não era pastoril o clima que consumia a música, nem romântico... Era uma alma em claves de sol e claves de sol em sons refinados e magníficos. Era Mozart deitado sobre o vasto campo, que cercava-se de montanhas, uma neblina fina e fria, arvoredos e flores, olhando o céu e contemplanto as contelações enquanto em sua mente o réquiem era tocado no piano da sua alma... Enquanto encontrava, andando dentro de si, a perfeição dos sons.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Flogose XXXIX

Um galante soprado pelas chamas frias do deserto da emoção e da paixão, jaz florecido entre os cálidos espinhos do vosso menosprezo e o veneno vosso de amargura. E com pesar a indignação corre os prados do desejo consumível, quando em noites quentes, o ser apaixonado chora lágrimas lúgubres sobre os botões que lhe cercam a vista e chora sem lágrimas a saudade de nunca lhe ter tocado, sutilmente, a face. Com que desejo o sol consome a escuridão na aurora? Este, talvez, é o mesmo desejo sentido pelo coração amante no ato de consumir-se no sentimento edificado em favor do ser amado à distância e à sombra sua... Não menos triste são os cantos de lamento e devoção entoados pelas vozes tristes e tristes versos de amor. Há uma realidade entre o desejo e o bem desejado, mas as vezes essa realidade não se comunica, e nem a seta passional consegue unir as pontas deste sentimento que deveria ter a forma circular... Consumir-se-ão os amantes às coisas amadas e assim, em separado ou não, os sentimentos tomarão seus cursos, seja noite, seja dia...

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Flogose XXXVIII

Como as coisas são estranhas, pensava o homem parado num ponto de onibus da rua Sete, enquanto sentia a garoa extremamente fria e dolorosa. É estranho como as coisas mudam e não se nota. Como as pessoas vão e vem, aparentemente, sem destino pela garoa e pela tempestade de frio que cobre as luzes alaranjadas dos postes sem fios. Os carros parados esperando as luzes vermelhas transformarem-se em verdes, pouco atentos às ocorrências no exterior do carro. No interior, contudo, o som selvagens do Muse eleva a ânsia de carregar o acelerador e sentir o pneu queimar a sorumbática e fria rua sete. Sete também foram os minutos que o homem pensou sobre todas estas estranhezas antes de o onibus aparecer. Como tudo o mais na rua sete, o homem estava desatento. Dirigiu-se ao ônibus, e por coincidência talvez ou não, foi no primeiro degraus do ônibus que o sétimo passo foi dado... O ônibus possuia os degrais de um ferro, que estavam sujos e lamacentos, assim como boa parte do ônibus... Soprou um vento forte e no mesmo intante ouviu o homem um trecho de "hysteria" e nesse momento de desatenção o homem tentou apoiar o pé para colocar o outro por sobre o sétimo passo e primeiro degrau. O sétimo passageiro, que pela fila indiana se via, havia corrido para embarcar. O homem, descuidade, escorregou e caiu do ônibus batento com a cabeça numa das pedras-base do ponto-de-ônibus, onde ao lado estava o sétimo passageiro. Conseguiu sussurar sete palavras e sete também foram as vezes que os olhos dele piscou. No sétimo minuto após o infeliz tombo o homem perdeu o vigor. Era o sétimo dia do mês, do sétimo ano, após o segundo milênio. Ouviu-se sete pessoas dizerem a palavras estranho. Não mais estranho é o fato de que o homem após sete dias voltava ao mesmo ponto-de-ônibus, às sete horas da noite e embarcava o ônibus número sete. E foi, precisamente, após sete minutos, de que havia entrado no ônibus, que um aneurisma lhe ceifou a vida, no sétimo banco...

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Flogose XXXVII

Nada. O que é nada? A ausência de tudo? As vezes sinto esse nada e o nada preenche muito espaço e assim acaba por se tornar muito... E, outras vezes, esse nada é apenas nada. Quero entender o nada, mas o sentimento que compõe este nada não me deixa falar. As palavras apenas não diriam o que o nada representa dentro do contexto... Mas aí a chuva volta e o nada é apenas nada. Nada!

Flogose XXXVI

Sabe quando o céu tem aqueles insights que o clareiam todo de forma a proporcionar uma religião nova nas coisas comuns. É destes dias que vivo. São eles a quem espero e a eles que procuro incessantemente. Quando os encontro, e Deus sabe, as coisas fluem, pois aquele líquido lava qualquer mácula que possa existir em qualquer parte do exterior ou interior... Hoje foi um desses dias... Os insights estavam em todas as partes e embora a beleza estivesse além deles não havia necessidade de estagnar, pois tudo foi um conjunto que dava liberdade a cada beleza e as unia num só tom. Eu quis estar lá, mas as estrelas, que hoje não aparecem, infelizmente, já ocupam este espaço e o ocupam muito bem... A natureza que está acima é magnífica. É uma música que poucos apreciam. Talvez Bach soubesse bem o que esse céu tanto canta... Continuarei com o céu, lá sou livre quando cá me esqueço.