domingo, 31 de agosto de 2008

Flogose XXXV

A vida é tão frágil, as vezes, mas é nesse compasso que as coisas chovem, molham e regam as aventuras. Hoje no céu amanhã no fundo do mar e assim as coisas fluem, como se fossem uma torrente de água que desce calçada abaixo a procura do primeiro bureiro para se esconder... Toca no som Tunnel of Love, enquanto o pneu come a estrada e a estrada fria passa enquanto já esquecemos que nela estivemos. Tudo que há em volta é verde. Os vales, morros e montanhas, normalmente frias, dão um ar gracioso ao isolamento costumeiro destes paraísos terrenos. Como seria bom! Como seria bom andar na chuva sem se preocupar com a vida conturbada do ambiente urbano, sem lembrar que existem outras coisas além desta seiva que hidrata a mente e faz com que tudo seja tão mais ameno e fausto... Como seria bom...

sábado, 30 de agosto de 2008

Flogose XXXIV

Se vivessemos num lugar onde cada um fizesse o que bem entendesse, tudo seria da lei (Este seria o lugar pra onde eu com certeza me mudaria rapidamente) o mundo seria, talvez, caótico. Ou não! O silêncio que habita este receptáculo nas noites me embriaga de tal forma que poderia enamorar-me desta solidão povoada por anos e anos, sem que sentisse falta de uma palavra sequer. Contudo, se não existissem palavras, penso eu, talvez não existisse silêncio - ao menos o conceito não existiria - já que ninguém pensaria em ruidos. A noite é um lugar sobrio, as vezes, mas é um lugar onde as coisas parecem menos tediosas. A sombra faz isso! Contorna cada coisa de modo a dar à noite um sentido de beleza e de singularidade. Nestas noites é que as coisas que voam e rastejam fazem sentido, assim como os pensamentos ignóbeis que passam pelas cabeças menos privilegiadas da terra. Quando o silêncio está para a noite na mesma proporção que a noite está para o silêncio as coisas fluem, pois tudo parece encaixar-se, como peças de dois diferentes quebra-cabeças. Este é o lugar ou o tempo onde a lei encontra sua finalidade. Costumo pensar que a lei não é proibitiva, mas, ao contrário, é apenas orientativa, uma vez que direciona os serem a manterem determinadas condutas. Se tais condutas não forem seguidas a lei nada poderá fazer, embora exista a coerção estatal, pois o caráter punitivo da lei visa repreender as pessoas de cometerem infrações ou condutas anti-juridicas e não puni-las pelo cometimento de uma conduta anti-legal (é o que penso ao menos). A lei prevê determinada conduta para repreendê-la. A punição, contudo, é um meio social de forçar as pessoas a não tomarem certos caminhos. Agora se a finalidade da lei é orientar, em tese, e repreender as condutas sociais a punição realmente tem efeito? Depois que determinada conduta foi tomada o caráter da lei perde seu objeto? Realmente não sei qual a utilidade da lei, quando seu objetivo não é atingido e suas raizes não são mudadas de acordo com a degradação do meio social. É por isso que se existisse um lugar onde as pessoas pudessem fazer o que bem entendesse, tudo seria da lei. Por quê a Lei seria fazer e não deixar de fazer, que é a mensagem das leis contemporâneas. Aí volto a pensar no silêncio, neste que cobre a noite e dá a ela um ar ameno e apoteótico. Pois é no silêncio da noite que a lei encontra seu habitat, quando o ruído é pecaminoso e as palavras carrascos.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Flogose XXXIII

Conversando: — Olha, rapaz... A minha mulher é uma tremenda mentirosa. — A Gabriela? — surpreende-se o amigo — Então, o que aconteceu? Porque estás a dizer isso? — Ah, ontem não dormiu em casa e inventou que passou a noite com a irmã. — E não passou? — Claro que não! Quem passou a noite com a irmã dela fui eu!

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Flogose XXXII

Queria eu falar sobre a morte, mas me faltam as palavras certas para descrever com precisão o que me passa a mente. Por outro lado, minha mente está coberta de pensamentos, muitos dos quais não poderia decifrar neste momento. Gosto de pensar na morte temporal, ou seja, aquela que se deve ao uso total da matéria corporal até que os orgãos não funcionem mais e tudo esteja decrépito e preparado para deixar de funcionar. Aquela onde nossos células já viveram o tempo máximo e já não mais conseguem se recompor. Aquela morte, qual a das flores, que murcham ao passar do tempo. A por desgaste natural. A morte não "natural", matada ou acidental. É esta que me causa indignação. Ouço muita gente falar em destino, outras pessoas falarem em Deus, e isso é um tipo de rito ou forma de amenizar a situação. Entretanto, nada me é bastante. Não é, apenas não é. Pensar nessa separação é inevitável, todavia ninguém espera que esta separação se dê antes do prazo. Do tempo que nossos corpos naturalmente resistem à natureza. A vida, talvez, seja a preparação para a morte. Mas, ao contrário, a morte nunca preparará a vida. E quando pessoas partem sem estarem preparadas ou terem vivido o bastante isto causa indignação, muita indignação. Esse interromper prematuro da vida é... Ainda me faltam palavras, mas voltarei a isso. Aqui ou acolá.

Flogose XXXI

"O excesso de estudo provoca erro, confusão, melancolia, cólera e fastio" Pietro Aretino. Estudar hoje é mais uma arte que um dever social ou moral. O excesso de estudo, todavia, provoca uma vontade de se afastar dos estudos tanto pelo cançaso, quanto pelo melancolia, como é a vontade dos que lutam pela paz de acabar com todas as guerras. Que digam os pacifistas. Gostaria de estudar, as vezes, por dias e dias, mas, ao contrário disso, não consigo sequer ficar horas pregado nos livros. A verdade é que o excesso faz com que perdamos o entusiasmo, o mesmo entusiasmo que temos num parque de diversão com inumumeros brinquedos novos. A porção que é interessante no estudo está justamente no fato de existirem muitos campos a serem pesquisados e assimilados, assim, para quem gosta, é fácil não sentir-se sem vontade. Por fim, o excesso, em qualquer coisa, faz mal. Que o digo os cigarros, o alcool e o jogo!

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Flogose XXX

Era uma longa e pomposa noite. O marido e a esposa chegam em casa dirigem-se ao aposento e deitam-se na cama. O dia foi formidável. O varão fez tudo para agradar sua esposa. Foram ao melhor restaurante da cidade. Deu flores e dedicou uma romântica música à amada que os violinistas tocaram docemente enquanto o marido entregava uma jóia à mulher. Quando chegaram em seu aposento, ambos deitados na cama o marido começou: - Não farei amor contigo, antes saber tudo sobre você. - Não quer fazar amor? Querido, como não quer? - Sinto que temos muito o que conversar. Quero saber dos seus anseios, seus objetivos, seus projetos, enfim, quero que me conte sobre você. - Por quê isso? - Olha amor, sei que depois de muitos anos os casais tendem a esquecer as necessidades um do outro e não quero isso pra nós, por isso quero ouvir-te, como faziamos quando nos aventurávamos pelo mundo, lembra-se? - Amor, eu te amo e isso é o que basta. Quero que saiba que tudo o que tenho feito e que farei, desde que seja ao seu lado, é o que importa. - Bem, você precisa me falar. Eu quero estar sempre perto de você, quero sentir o que você sente. Quero ouvir o que você pensa, pois você é o que vale a pena na minha vida e sem você minha vida não seria nada. - Tudo bem, querido, já que deseja saber eu falarei. Eu sempre quis viajar o mundo. O primeiro ponto seria veneza, a cidade do amor. Quero escrever um livro e pintar quadros. - Continue, meu amor. - Velejar pelo pacífico. Escalar os alpes. Nadar nua no mar morto. Visitar a torre de pisa. Ah! eu quero tudo o que a vida pode proporcionar. - Amor, tantos anos juntos e você nunca me disse que tinha tudo isso em mente. - É, mas você nunca se importou em perguntar. - É verdade, o tempo vai passando e nós vamos perdendo o entusiasmo. As coisas parecem perder a vida, mas isso não acontecerá conosco. Amo-te, querida, e por isso farei tudo para que realize cada desejo seu. - Oh! meu amor, como eu te amo. Eu já sou muito feliz com tudo o que tenho, pois tenho você ao meu lado. - Mas isso não é suficiente. Quero que sua vida seja completa. Então abraçaram-se, beijaram-se e fizeram amor como nunca haviam feito antes. A noite passou sem que os amantes notassem. Era a segunda lua-de-mel. E o amor foi intenso, durando uma eternindade dentro das poucas horas. O marido, depois de fazer amor, sentou-se na cama e continuou a prosa. - Agradeço, a cada segundo, por ter você meu amor. Você é a mulher mais linda e fantástica que existe na terra. Eu não... Antes de a frase ser terminada ela acordou. O marido roncava intensamente. Então ela percebeu que a realidade havia voltado e era profusamente diferente da que gostaria que fosse. O sonho refletia o desejo de ser amada e lembrada como uma mulher com vontades e objetivos, mas isso ficou apenas no sonho.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Flogose XXIX

Blaise Pascal disse: "Se o homem fosse feliz, sê-lo-ia tanto mais quanto menos divertido, como os Santos e Deus. - Sim; mas não sendo feliz pode animar-se pelo divertimento? - Não; porque vem doutro sítio e de fora; e assim é dependente e, portanto, sujeito a ser perturbado por mil acidentes que tornam as aflições inevitáveis. (...) A única coisa que nos consola das nossas misérias é o divertimento, e contudo é a maior das nossas misérias. Porque é isto que nos impede principalmente de pensar em nós, e que nos faz perder insensivelmente. Sem isso, estaríamos no tédio, e este tédio levava-nos a procurar um meio mais sólido de sair dele. Mas o divertimento distrai-nos e faz-nos chegar insensivelmente à morte." Isidore de Lautréamont disse: Os homens, tendo podido curar-se da morte, da miséria, da ignorância, lembraram-se, para se tornarem felizes, de não pensar nisso. Foi tudo quanto inventaram para se consolarem de tão poucos males. Consolação riquíssima. Não se dirige a curar o mal. Esconde-o por um pouco. Escondendo-o, faz com que se pense em curá-lo. Por uma legítima desordem da natureza do homem, não se acha que o tédio, que é o seu mal mais sensível, seja o seu maior bem. Pode contribuir mais do que qualquer outra coisa para lhe fazer procurar a sua cura. Eis tudo. O divertimento, que ele olha como o seu maior bem, é o seu ínfimo mal. Aproxima-o, mais do que todas as outras coisas, de procurar o remédio para os seus males. Um e outro são contraprova da miséria, da corrupção do homem, excepto da sua grandeza. O homem aborrece-se, procura aquela multidão de ocupações. Tem a ideia da felicidade que conquistou; felicidade que, encontrando em si, procura nas coisas exteriores. Contenta-se. Será o divertimento um mal tão nefasto assim? E será que o divertimento, embora nefasto, seja necessário para que os homens vivam? O divertimento, de certo modo, parece mesmo um mal que abranda males "maiores". Hoje, todavia, há uma gama de coisas que criam liame entre vícios e diversão e isso é o que torna o divertimento algo, não só por ser paliativo, interessante. Pois o divertimento vende. Divertimento é hoje um produto que abastece todas as regiões do mundo. O homem sempre arruma um meio de extravasar suas dores, mas será que é o divertimento um meio hábil de se conseguir extirpar dores da alma? Certamente não hei concordar com tal afirmativa, embora na atualidade o divertimento tenha essa propaganda. O divertimento continuará sendo, talvez, a nossa maior miséria, pois é nele que todas as outras misérias encontram guarida.

domingo, 24 de agosto de 2008

Flogose XXVIII

A fim de não quebrar o simplório regozijar noturno, aonde os passos marcam o solo, já enegrecido pela vermelhidão celeste, continuo das vossas as minhas ofuscadas palavras. E na imensidão do lusco-fusco, que brilha na imaginação, jovial e terna, sob o escárnio do alaranjamento que propaga pela retina e toca, em ondas macilentas, o pudor virginal, onde se escondem as valquírias, acompanhadas do fulgaz fugaz perdimento da consciência. Neste estágio é que o metabolismo léxico e literário urge forte e venturoso. É onde as falanges encontram o plástico. Onde sente-se a união cadavérica do sepulcro ao corpo mádido. É onde os laços tomam forma, e as formas tornam-se rimas ou edificações prosaicas. E para que tenhas tu perspectivas deste nobre soar da relva pura que, neste instante, se exalta e sublima com o tanger do vosso vento, ou sopro gélido e ardente, de beleza e música, sinto o suspiro deste cinzento e tibíoso céu, e lhe transfiro sob forma de intactáveis colóquios, tristes e solitários. No entanto, quanto mais profundo é o céu fumaça, nos seus recôncavos é possível sentir o tango tilintar nas transpirações naturais. Tango este que sabe tão bem as verdes folhas tristemente dançar. Soubera os enleios metafísicos, que a natureza é brilhante e supremamente cultuável. Suas abstrações caóticas precedem uma elaborada e magnífica adoração aos ritos que justapostos aos desejos infames dos olhos famintos por beleza rara e surrealista compõe uma sinfonia naturalística e embriagadora. Assim é o vento a nota mais aguda do acorde perfeito criado pelo lúbrico pirobetume, pelas pétalas escarlates e pelo lume venturoso. Queixosa a retina se perde e perde-se profusamente na inconstância da imaturidade das conjunturas naturais, pois quão mais natural é o desejo com maior eficácia ele sucumbe. Todavia o vento-ventania ainda sopra sob a verde árvore que a luz solar permeia, e o desejo de vê-lo balouçar e roçagar as saudosas células verdes que caídas e inertes se ficam no negrume solo, se esvai com a música produzida pela harmônica e variável tangência dos deuses mitológicos Éolo e Gaia. Estagnado está este corpo frente ao espetáculo, que não dura mais de um segundo, nem menos que um milênio. Os olhos enfermos prestigiam a cólera da natureza que insere na alma - dos que podem observar tais peculiaridades -, uma venturosa desventura de estranhas sensações. E o papel ainda, depois de horas a fio, bebe às letras, como se elas fossem o líquido dos deuses. E já nas descomposturas da união, o tempo se perde nos dedos, cuja sujeira da tinta e dormência do frio, não o fazem render-se. Exaurida a tinta sobram os pincéis e os dedos, que mecanicamente não suportam a dor de uma separação, e embora não possa descrever a singularidade das formas únicas e inigualáveis criadas pelos compassos harmoniosos d'uma dança universal, prefere permanecer a esquecer o episódio, como tantos sem esperança. Resta, tão só, o olente asfalto-"pista" que palco é para a valsa da chama transparente que a tudo, com seu gélido sopro, revive. Tão inevitável quanto a dor é o auspicioso pensamento da reclusão da beleza aos seus recantos recônditos. E lá é onde tudo que ausenta se transforma em angústia e ternura. Lá onde o distante é precioso e confortável, onde o retrato dos sorrisos se abastece de luz. Onde a beleza é olvidada. Restam ainda alguns poucos passos, humildes e tímidos, a serem dançados. O sussurrar do planeta, à essa altura, pode ser ouvido, se prestardes atenção. Alvorece. E o que foi trevas, silêncio e amenidade, se perdeu no primeiro feixe luminoso. É impossível não querer desprezar este descompassado adágio. Que de barulhos caóticos é digno dos mais nobres ruminantes, ou talvez nem deles. Nobre, quiçá, seja este diviso tempo entre o portento e o insuportável. Entretanto, o nobre não é apenas aquele qual faz nobreza, nem, contudo, é o belo aquele qual faz beleza, de modo que as conjecturas constroem e deformam, alinham e distorcem, e cabe aos olhos mais polidos enxergarem através das pedras. Assim como o outono regressará, a esperança adormecerá, mas com premente intenção de acordar-se forrada por flores a desabrochar e pétalas a cair. Como o outono, regressará também o vento boêmio. E preencherá de ósculo as faces desmemoriadas dos que se perderam estagnados quando esperavam lembrarem-se do motivo pela qual ainda permaneciam ali olhando pela janela da vida as folhas caírem, numa triste tarde, fria de inverno, sem que tivessem propósito verdadeiro de dali saírem. Juntamente com o café, saboreei o vento, como jamais fiz antes. Embriagado com o café e entorpecido com o mundo, traduzi meus arroubos à ti, como fazem as plantas na fotossíntese. Se o vento há de ser tão mágico, então que se faça valer a verdade imponente do universo sobre os seres, assim como nas mentes decapitadas pelo instinto vulgar, que sejam elas ensopadas pelas rispidezes das evoluções físico-naturais e que o universo seja paralelo para todos os que permanecem de olhos cegos à torpidez e que seja belo o luar enquanto não somos acometidos pelo infame sono. Já se fez tarde e tudo parece não passar de uma quimérica viagem ao centro da consciência ou da memória. Onde tudo é claro, depois escuro. Agora cinza depois laranja-vermelho. Assim será o resto do dia. Um frio cauteloso e confortante que ainda acolhe as mãos. E sob as influências pungentes e caudalosos pensamentos tudo quanto foi robusto agora é breve e sutil. E nas mãos restam apenas resquícios de tinta velha e enferrujada. Lágrimas azuis em páginas brancas e contíguas lembranças de letras já perdidas. E como se veneno fosse, as palavras entram na mente e dilaceram o fluxo neural. Há bloqueios e infinitudes de cores e imagens agora, não só o pudor transparente carregado pelo mar invisível que, com suas ondas, carrega as verdes folhas do negro asfalto. E ali em meios às flores dança o deus. Deus gentil e gracioso que com sua seta roda a terra sentado sobre as correntes invisíveis e desconcertantes do universo. Sinto-o suspirar a mim. Sinto-o debochar de minhas lamúrias e tibiosidade. O opíparo sentimento floresce e na alma desabrocha com apenas uma gota vermelha e tênue que, como filete, escorre na face. - Me trouxeste - óh detentor da seta passional -, à presença uma Valquíria? - Deves, em sua nefasta glória, qual carregava Lord byron em suas alças e Don Juan em tuas costas, subjugar meus préstimos e meus anseios, sob circunstâncias tão desvirtuadas? - Como me atrevo a conjugar uma palavra à este ser, que qual às estrelas brilha intensamente e qual ao oceano é profundo e singelo e qual um anjo é cruelmente belo? Como? -Tanto aproximas e tanto foges. Quanta inconstância me abate, me afaga e me afoga. Sou assolado pelas insípidas auroras solitárias e consolado pelas brumadas encostas da mente esquecida na janela vazia que dá para rua fria e ignóbil do sertão dos pensamentos. E nela ainda posso sentir o vento boêmio. Sempre haveríeis o que dizer após lançarmos correspondências. Contudo, não há mais tempo, tampouco pensamento para terminar este discurso ineloqüente e conspurcado pelas menos belas interações léxicas. Resta o vento e a ventura. O café e o vinho. As palavras e a leitura. No fim, apenas nós e os pensamentos em palavras. E outra vez o vento... Gélido vento. E eu o peço: - Oh! Vento prazeroso e gentil carregue em teu colo meus sussurros de gratidão. Leve contigo minhas cantigas de solidão a esta dama que tanto ouve e tanto colhe de meus pensamentos. - Diga-lha, oh! Vento, que o dia finda, mas a noite, calma e serena, já apresenta sua face para dar-me as mãos e comigo acompanhar todo o erudito som emitido pelo silêncio desta pseudo-celulose. E quanto às mãos elas trabalham incansavelmente na confecção de pensamentos, palavras, conexões, junções e verbos, no entanto, ainda não produziram flores olentes, quais possam ser lidas. Criaram elas flores olentes crescidas na sombra, cuja beleza ainda não é própria para a luz. Porém, flores frutíferas... que germinam e fornecem pólen às outras flores. Regá-las-ei com sofreguidão e desvelo, certo de que logo estarão prontas para observação. E neste interstício de espaços e caracteres os pensamentos voam e voam junto com as palavras que agora lhe ofereço, em algumas páginas, que logo, em breve, serão perdidas no mundo. E assim como todo o resto, voou junto minhas horas, que já passam de muitas, e ainda não tenho pretensão findar o trabalho, entretanto, acredito que seja esta a hora exata para me desvencilhar deste escrito, sob pena de cometer um erro insanável. O erro de começar outro capitulo dentro deste. Enfim... É hora de um ponto final.

sábado, 23 de agosto de 2008

Flogose XXVII

Antes de mais nada apresento o "Infinito dentro de mim", cuja elaboração ainda não está terminada. Infinito dentro de mim. Parte 1: Confusão Encabruado sentimento, qual razão inodora de sentir. Constante inconstância de leves brisas e andanças. Vendaval cósmico, sensações insensatas de lembranças. Perdição por ódio que se permite sem querer permitir. Constelações de saudade e lagos de solidão. Tristezas de alegrias, paradoxos de alegorias. Lágrimas fantasmas de falsas olarias. Concretas imagens de abstrações na funda imensidão. Negrume abismal se forma neste canto terno, sob forma de luzes e cores, num espaço sem fim. Teatros em chamas, quais queimam no inferno. Coquetel místico ofertado por um serafim, Tudo não passa de um dia longo de inverno. Tudo não passa de um infinito dentro de mim. Infinito dentro de mim. Parte 2: Castigo. Enquanto durável é este breu que consome, Tudo é pálido no indecifrável código de dor. Corredores vermelhos, azuis e verdes sem cor, Sentimentos famintos numa mente sem fome. Dilacerado pelos martírios do olente fervor, Qual derreteu as saudosas cirandas juvenis; Disse ciclorama – nos palácios flores anis –, - Alma inumerável se abastece no livor. Ao ouvinte lobrigável: Das palavras bebeu? Sentiste da fúria incendiaria? Pobre arlequim. Dizia-lhe o castigo, que devidamente recebeu. Lancinante dor – pelo o castigo – recebe, enfim. E toma-te de juízo, saboreia da dor que escolheu, Pois este é seu glorioso infinito dentro de mim. Infinito dentro de mim. Parte 3: Cólera. Ferido – o arlequim – subjugava a dolência. Chovia daqueles olhos lágrimas escarlates, Cuja alma dominava a dor, nos embates, Mas não a cólera da ruinosa permanência. Fugiu e no caminho lindeiro da ira e torpor, Sentira a mágoa, no sentimento de perdição, Embora dormente estivesse ao caos-solidão, Embora continuasse vivo seu lívido ardor. Atirou-se – o arlequim – sobre o érebo seu. Não lhe havia Arcádia – pensou ad amusim, Soçobrado o pilar, qual ruiu e frágil cedeu, À toda sua maldição abastecida de mordexim, Cuja obra – aos berros delirantes – se rendeu, Aos insanáveis danos do infinito dentro de mim. Infinito dentro de mim. Parte 4: Conformação. Espalhou-se, por sobre a sina, um nítido rancor. Houvera quimeras de vivência em liberdade, Soubera sentir, oportunamente, alguma saudade, Das porções de sentimentos que lhe teve valor. Verdes pastos por onde – o arlequim – andou, Serviu de bolsa para o suco de suas perversidades. Pois, quão mais nefastas tornaram as habilidades, Mais nefastas eram as barbaridades que causou. Lutou contra – este impiedoso ser – a solidão. Derrotado foi onde a força encontrou o jasmim, Porquanto, tinha medo absurdo em seu coração, De perder-se enterrado num belíssimo jardim, Onde se cultiva deslembranças, perdas e ilusão, Onde não teria seu secreto infinito dentro de mim. Infinito dentro de mim. Parte 5: Curare. Eis – disse o pierrot – que surge a temeridade! Naquela alma sem vício, coberta pela solidão, O agreste compadecer germinou a retratação, Representante – dizia o biltre – da mediocridade. Dava-se por conformado, gerindo a alma à dor. Condenou-se – sorria o pierrot – à infelicidade, Concebida nos campos estéreis da maldade, Consumida – lembrou o superego – no pavor. Satisfeito por ter-se dado ao curare paliativo, Cuja formula ofereceu-lhe ares de benjamim, Requestou sua própria – num furor esquivo, Solidão, que lho desejou num clamor sem fim! Curando-o e conformando-o, num viver altivo, Cujo veneno nasceu do infinito dentro de mim. Infinito dentro de mim. Parte 6: Contentamento. Sobreveio o sorriso pouco sincero à boca. Nos olhos uma funda percepção de alegria, Como se um beijo aquecedor em noite fria, Como se um grito alto e forte na voz roca. Proeminente, na face alheia, boa-venturança, Carregada nas costas do castigado moribundo, Atributo – arlequim indiferente – dum mundo, Atributo – arlequim prudente – duma matança. Cadentes passos na solidão sustentavam a mente, Castrando-a do pudor caquético, efêmero e ruim. Constâncias na escuridão tornaram-na presente, No caminho conducente ao sublimável varandim, Vista aos lagos do rir e aos morros do contente, Onde – perdida – achou o infinito dentro de mim. Não há muito o que ser dito, pois o infinito dentro de mim fala por si. De qualquer forma outro momento surgirá para que eu deixe as palavras falarem o que é ou pode ser o infinito dentro de mim. Hora que não é essa!

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Flogose XXVI

Já se passa da quinta hora da madrugada e o meu refúgio celeste já vai perdendo sua negra beleza. E eu – esquecido do mundo – continuo aqui perdido sobre os papéis, pensando em como posso – querendo não incitar a ira dos deuses – mandar-te beijos, sem que estes sejam identificados. O silêncio. O vento é loquaz, já o silêncio é um túmulo. Os beijos lhe vão pelo silêncio, para que nem vós saibais deles antes que eles lhe toquem a face. Estes ósculos lhes vão silentes, contudo, carregado do mais apropriado enrubescer e do menos tímido sussurrar de boa noite aos ouvidos. Segundo duo do bíduo. Acordei. O primeiro pensamento, logo após isso, que me veio à mente – impressionante – foi de Salvador Dali. Lembrei-me de uma tela dele. Uma tela de onde saía o sol de dentro de um ovo. O sol é a gema do ovo ou, talvez, a gema fosse o sol. O surrealismo descreve bem o alvorecer. E tão bem descreve que consegue transmitir o sentimento percebido no interior do cérebro quando os raios solares tocam o globo ocular e secam as lágrimas nos olhos. Em tal sentimento a contradição se instala, uma vez que o sol não é bem-vindo. Desejo de ver o sol enegrecido é igual ao desejo de ver a luz solar convertida em minúsculas partículas que geram auroras boreais e austrais, assim os olhos tanto fecham quanto abrem para perder e assistir os eventos recorrentes. Nada mais domina o cenário, que agora é incendiado pelas luzes amarelo-alaranjado. Nem o véu de outrora se apresentara. Aquele véu fosco e catalisador de invenções, das mais às menos notáveis. Tamanha falta me faz aquele tempo, tempo de inspirações e navegações imprecisas. Tempo de infinito. E, então, inerte está apenas o cabotino, cujas pilhérias não fazem, nem a si, rir. E a folha verde ou branca que cai da mente sob forma de caducas palavras, são deslembradas, como as piadas, que, ainda que tenham sido ouvida, ninguém, absolutamente ninguém, converte este fato para memória de longo prazo. Esse sentimento causa uma reação assemelhada a hematidrose, contudo nas páginas. Elas se sangram e o sangramento corrói o produtor, às vezes, o leitor. É como viver em meio a uma súcia, sendo um ser de conduta ilibada e índole imaculada. Contudo, ainda restam os olhos e o vento. Vento este que tem sido o mais nobre, juntamente com o silêncio, dos amigos e mensageiro. Esbanjar destes deuses seria abuso. Contudo, sê-los-ei pelos favores que me prestam agradecido, por toda a vida.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Flogose XXV

Num bíduo de Agosto. Primeiro duo do bíduo. É difícil começar uma coisa já antes começada. A mesma dificuldade é encontrada em terminar algo infinito. Razões existem para que tentemos começar ou terminar algo, respectivamente, começado ou sem fim (infinito)! Existem maneiras, embora com efeitos diversos, para que queiramos propor algo totalmente inovador, sem que um costumeiro desanimo nos abata. Contumaz é o desejo, encantador, de querer descobrir coisas, da qual é melhor que não saibamos. Algo começado – com referência ao dito acima – se propõe a uma restrição em repetir um começo idêntico ao que teve outrora, tendo em vista que a teoria do caos – isso hipoteticamente – falaria que teríamos um começo paralelo e não um re-começo igual – que seria ideal ao caso –, mas um totalmente diferente, tendo em vistas as novas conjunturas que englobam o fato. Assim “descobrir” este sentimento, que pelo sol é consumido e pela lua é arrebatado, far-nos-ía perdidos e logo retidos numa melancolia por ter descoberto algo que não precisaríamos desvendar, pois é mais belo acobertado. É por isso que o beijo é mais bem sentido com os olhos fechados. Tenho pra mim que, ao invés de desabrochá-lo, devamos deixá-lo (o beijo) escondido sobre o manto de nossas curiosidades, pois só assim ele se transfigurará em muitos outros e nos dará tanto a pensar, quanto a imaginar sobre sua essência aforme. Não hei de dar nome a este sentimento, pois quero que ele se converta em tantos quantos forem possíveis e úteis ao bom desenvolvimento desta inebriante e valvulada comunhão de sensações e delírios. Como as flores que nascem nas profundezas, numa condição adversa, num ambiente escuro, lamacento e aforme, tão inadequada e oposto à sua futura forma é este sentimento, cuja efígie é mais bela que o solo onde nasceu, cujo imo é mais puro que leito que o alimentou. É tudo um campo pastoril e vasto. Quanta boêmia contém os versos e as prosas que alhures são recitadas, mas ainda podem ser ouvidas na aurora campestre. Ostentar-lhe-ei, com meus olhos, o que posso ver no “infinito dentro de mim”. Ofertar-lhe-ei minhas falanges para que presencie o pomposo sentimento que me castigou – e não se trata de eufemismo, antítese ou hipérbole – quando da composição destes nefastos poemas. Na leitura – que vossos belos olhos conduzirão com magnificente e notória sapiência – sentirá o desencadear das enfermidades causadas pela queimante lava do vulcão, cuja erupção durou mais que muitos anos. O infinito está decrépito. O infinito dentro de mim é um conjugar de verbos no pretérito mais-que-perfeito, pela própria imperfeição. Ao final terás conhecimento da Confusão, do Castigo, da Cólera e da Conformação. É o infinito, um bater de asas num lugar da qual o espaço está completo por vácuo. E o tempo – nesta complexidade metafórica – é um ser que, aos gritos, tenta chamar um cego-surdo à atenção. Crônico é o padecer das idéias, como que o ciclo do padecer ou esvair humano. Porém um respirar noturno já desencadeia uma amenidade na alma. E este colapso, que só não é perceptível aos que preferem olhar para o chão, enquanto outros lhe pisam as costas, não aparenta ser tão funesto. Enquanto isso, a sacada do meu quarto é utilizada como janela para o mundo. As cambiantes [qual vejo no céu de nuvens, trovões e raios] de cinza são tão magnífica quanto as cores do arco-íris. Como que numa orquestra assaz sincronizada vejo o sol apagar-se e – numa fração milionésima de milésimos - deixar a fumaça cinza no céu com vários matizes. Antes disso há uma beleza miraculosa na fusão de cores emitidas pelo sol, céu, nuvens, raios e trovões. O alaranjado emitido pelo sol suga as cores do azul celeste – que já antes estava unida ao cinza chuva – e do argênteo produzido pelos trovões, que se ficam escondidos. E neste conluio de cores todas são muitas e ao mesmo tempo apenas uma, cuja identificação é imprópria para um cérebro, da qual as sinapses trabalham incansavelmente a mando da dopamina. Entretanto o espetáculo chega a lacrimejar os olhos de tão belo. E foi justamente neste memorável dia que me senti como Gato de Schrödinger. [Gato de Schrödinger é uma experiência mental inventada que procura ilustrar a teoria da mecânica quântica do sistema macroscópico ao subatômico. O gato é colocado numa caixa selada. Então, no interior da caixa, existe um dispositivo que contém um núcleo radioativo e um frasco de gás venenoso. Quando o núcleo decai, emite uma partícula que aciona o dispositivo, que parte o frasco e mata o gato. De acordo com a mecânica quântica, o núcleo é descrito como uma mistura de "núcleo decaído" e de "núcleo não decaído". No entanto, quando a caixa é aberta o experimentador vê só um "gato morto/núcleo decaído" ou um "núcleo não decaído/gato vivo". Contudo, como o núcleo é descrito como uma mistura de "núcleo decaído" e de "núcleo não decaído” – para física quântica – o estado do gato só poderá ser descoberto caso o observador olhe a caixa, do contrário o gato estará morto e vivo, porque o núcleo – na física quântica – será tanto decaído, quanto não decaído.]. Sei que a física quântica é complexa, contudo, isso explica a sensação das pessoas de compartilharem de dois sentimentos – inconcebíveis – ao mesmo tempo. Quando me perdi dentro das nuances, naquele céu confuso e impoluto, senti-me absorto numa abstração feérica, da qual juraria que não estive apenas no meu corpo naquele instante, mas sim perdido no universo inteiro. Assim eu seria aquele singelo gato que tem o núcleo decaído – está no céu – quanto não decaído – está na terra. Essa estranha ou gloriosa dispersão melancólica é uma droga paliativa para meus delírios, constantes e perenes, e para minhas divagações irreais. Atribuir ao céu esta viagem quimérica seria ingenuidade. No entanto, sei que a epinefrina me ajuda a sentir todos estes enleios do mundo físico e sensorial, como sentem as flores com o orvalho matutino ou os hematófagos quando sugam sangue. Sê-la-ia injusto se não comentasse sobre o preexcelso contemplar da lua em que me pus. Instintivamente fui atraído a olhar para ela. A lua tinha uma coloração prata amarelada e aparentava estar sendo puxada para perto da terra a cada TIC e a cada TAC. O diâmetro da lua grande fora maior que a metade do diâmetro da lua menor. Quão lindo foi poder admirar o romance da lua e da terra. Senti que a lua conseguiu sussurrar algo para a terra, e logo após, envergonhada, retornou ao seu posto. O brilho lunar tinha uma cor champanhe e uma cativante lembrança de faustosidade.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Flogose XXIV

- Oi. Quer teclar comigo? - E porquê eu deveria? - E não deveria? - Não sei se sua companhia me faria sentir melhor do que já não sinto. - Então o que justifica sua vida virtual? Alias o que justifica suas investidas neste mundo sem imagens e sons? - Nada justifica. - Realmente você não é interessante. Achei que poderia ter mais em comum, mas pelo pouco que conheci já não sinto afinidade nenhuma. - Porquê? Sou tão pouco assim? - Deixa pra lá. Estou certo de que não quer minha companhia. - É claro que quero. Você parece uma pessoa interessante. - Não, não sou. Até logo. - Ei! Não me deixe. Eu estava esperando alguém como você. - Desculpe tê-la incomodado. Não sou disso, mas de qualquer forma já está decidido que não temos nada em comum. - Como não? - Até logo. - Por favor, fala comigo. Ei! Ei! Volta. É você quem eu sempre esperei. Volta...

Flogose XXIII

Vem aqui Alex. Em um mundo onde só continua vivo, robóticos assim todos os dias, é a maior emoção, ela ainda existe, noturnas da televisão. Todo mundo vive muitíssimo bem, como um computador programado. Não existe, no entanto, os combates, apenas a alguns jovens frustrados. Se o céu ou sol vai para baixo, Droogs começam para o dia. Em pequenos bandos recolhem-se, juntos para ir caçar. Ei, Alex vem aqui! Cortina-se - para mostrar o seu horror. Ei, Alex vem aqui! Cortina-se - para mostrar um pouco de horror. Sobre a cruzada contra a ordem e aparentemente o mundo ideal celebra-se a destruição, Violência e brutalidade. Só quando eles têm as suas vítimas sofrendo dor, eles se sentem satisfeitos. Não há nada mais daquilo que eles já estão ficando implacável na sua fúria. Ei, Alex vem aqui! Cortina-se - para mostrar o seu horror. Ei, Alex vem aqui! Cortina-se - para mostrar um pouco de horror. Vinte contra um até que o sangue vem à luz. Quer com paus ou pedras, eventualmente rajadas cada cabeça. A próxima vítima já está desativada se você tem amor a Deus pergunte: "Por que você tenha feito nada, nada foi feito?" Ei, Alex vem aqui! Cortina-se - para mostrar o seu horror. Ei, Alex vem aqui! Cortina-se - para mostrar um pouco de horror. Lembrei-me vagamente de Alex, o homem da ultra-violência. O chefe dos Droogs. Que futuro é este? Será que o futuro que nos é reservado está muito distante do que foi imaginado em laranja mecânica? Não sei responder, mas as estatisticas dizem que a violência é, talvez, hoje uma cultura que deve ser preservada a bem do capitalismo. O que é o capitalismo senão a violência? E digo da violência tecnológica, violência religiosa e todas as demais que maltratam os serem fazendo-os se sentirem menores do que poderiam ter sido, caso abandonassem as crenças primitivas. Um pouco de horror é sempre visto e bem-vindo! Mesmo quando a sociedade não é tão selvagem. Quer dizer, a sociedade nunca será selvagem, pois os selvagens são os povos, os seres portadores de inteligência (inteligência inútil) deste planeta azul-cinzento. De mais a mais, não devemos antever os fatos para que não sejamos destruídos pelos remorsos antecipados, embora a vida esteja antecipando o ressentimento de qualquer forma. Seja no sangue, seja no suor... Seja no sertão, seja no espaço... A violência está presente. Há quem diga o contrário e sustente que sempre haverão belezas mesmo na violência, e não serei eu quem vai contestar.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Flogose XXII

"What do I do to make you want me What do I got to do to be heard what do I say when it's all over And sorry seems to be the hardest word" É triste. A aurora é triste. Quando nos deparamos com a aurora e só temos a solidão para sentir o que devemos fazer? Há coisas que não podemos consertar e por isso é tão difícil pensar no que devemos fazer, na hora em que devemos fazer. Projeto-me sobre as cordas envelhecidas e oxidadas dum violão sem som. E nele componho algo que diz sobre a tristeza, que tão bem a aurora revela. As cores cintilam e o som é inaudível, como o alto-mar de quem nunca navegou no asfalto do risco das palavras. A sutileza das coisas está na importância que ela poderia ter tido, quando não mais a temos. É assim que as cordas choram. Elas falam e lacrimejam sobre os dedos feridos do pesaroso destino, quando o destino não mais é essêncial para o deslinde das coisas da vida. Ouço-as - as cordas - ressoarem cantigas sobre o ressentimento, enquanto a aurora serpenteia o céu, já sem cor: Plantam em meu rosal amor-perfeito-bravo... Orquídeas e jasmins... Plantam flor, plantam cravo... Para oferecer pro meu amor! De quem sou escravo. 'Ninhos cantando! Em flor a terra toda! O vento despencando os rosais, sacudindo o arvoredo...' Chora-me, amor, um meu segredo. Diz-me: sua dor é meu desejo, como o açucar de seu beijo. "O que eu tenho que fazer para você se importar?" "O que eu tenho que fazer para que você me queira?" Duas perguntas. Duas adagas nascidas em minh'alma. Regadas a auroras. Aurora! Que mais me resta? Somos apenas eu e o ... Ah! quem dera o som tibioso das cordas chorosas pudessem me cantar cada pensamento, cada sofrimento. Quem dera! - Oh! sol. Oh! lua. Quem dera se minha fosse a boca sua. Este é último verso da canção que as cordas sem som tocaram. Ouvi-o e para quê? Minhas perguntas continuarão a se perpetuarem nos rosais onde meus amores-perfeitos-bravos estão plantados.

domingo, 17 de agosto de 2008

Flogose XXI

Arrenhei alguns papéis. Os arranhei já fazia muito tempo. Eu tinha um final de poesia, mas me faltava o começo. Um insight surgiu em minha cabeça iluminando-a de forma inesperada. Sentei em frente a tela do computador e me dispus a terminar o que havia escrito. Já não era sem tempo fazer isso. Tentei imaginar o que já lhe havia escrito sobre o vento e sobre beijo. E consegui, talvez sem muito sucesso, mas consegui tirar algo da mente para fazer o prelúdio daquela poesia que estava perdida entre as muitas folhas de papeis no meu quarto. Me concentrei o máximo que pude e então esperei que o próprio vento personificasse as palavras que precisavam sair para completar aquilo que minha mente recusava criar. Na sacada do meu quarto o vento começou a fazer pequenos barulho e senti que era hora de começar a escrever. Deixe-me por alguns segundos na sacada para que pudesse melhor ouvir o que este vento nobre e leal tinha a dizer e ele falou, como nunca havia feito antes. É impressionante o que ouvimos quando nos concentramos na natureza. As vezes não sei se isso que me ocorre é real ou se imagino. Uma coisa ou outra sempre me sinto satisfeito quando isso me abastece. Não só o vento ou as noites estreladas, mas tudo. O conjunto é que me faz querer estar na sacada. O vento frio cantando, as árvores dançando e a lua iluminando, nesta pista que estou e é aí que permaneço a maior parte do tempo. E mesmo que tudo esteja distante ou que tudo seja apenas uma perspectiva da minha mente, sei que isso é real. Que isso é parte do que faz as coisas serem como são. Algumas pessoas acreditam na fé, eu gosto de acreditar nas estrelas e no potencial delas iluminarem a vida da gente, como faz o sol com as plantas. Como quando de manhã bem cedo acordo e vejo as abelhas pousadas sobre as plantas e há nelas, naquelas plantinhas, pequenas gotas de orvalho que o sol evapora dando a vida que a planta tanto precisa. O vento para mim é como o sol para as plantas e por isso confio a ele o destino dos meus beijos. E foi assim que surgiu a inspiração para criar algo sobre saudade. Sabe o que é saudade? Sempre me pergunto o que é quando fico perdido na sacada olhando o céu ou quando acordo cedo fico olhando a natureza. Já cheguei a pensar se as abelhas sentem saudades das plantas que beijam. Para mim é certo que elas sentem saudades, pois do contrário não voltariam a beijar as plantas no outro dia. Todavia, é um tipo de saudade que consome, que faz sempre querer mais, querer ir além para satisfazer-se e satisfazer ao outro. Esse sentimento que deveria ser preservado num mausoléu ou nas profundezas do mar. O querer satisfazer ao outro é o sentimento que dignifica as pessoas, pois enobreçe ambas almas. Assim surge a saudade. A saudade poderia ser explicada pela perda ou afastamento de alguma coisa que muito gostamos. Essa perda gera um sentimento de querer lembrar aquilo e querer fazer aquilo estar presente a qualquer preço. A saudade é um sentimento intenso e puramente emocional. Foi assim que surgiu beijos de saudade, qual agora transcrevo. Beijos de saudade Oh! sereno vento que no céu é feito, e que em meus aposentos me acalma faça um favor a esta pobre alma que não descansa sobre este leito. Socorre este homem que vive perdido... Procure sua amada que vaga na vida e lhe entregue, onde estiver acolhida, os versos que há tempo anda esquecido. 'Por este vento de pura ingenuidade, Qual foi confidente de amor, mandei meus beijos secretos de paixão e lealdade... Para que guardes, amor, como guardei os teus lábios molhados de saudade... Nos beijos de amor que lhe agora enviei.' Obs.: O vento ainda não entregou meu beijo, mas sei que o fará. Como sempre o faz quando lhe peço. O vento é leal e antes de você receber o meu beijo eu recebi o vosso por ele. As palavras que compõem o poema vão junto ao beijo, como se fossem únicos. Quanto de pensamento tenho depositado neste poema e há quanto tempo tenho isso feito. Contudo, escrever sobre saudade e beijo é relembrar o passado molhado e adulcicado que meus lábios não podem esquecer. Não podem.

sábado, 16 de agosto de 2008

Flogose XX

Ando pela calçada que transpassa nua, por toda minha saudade. E cada passo que nela passa Passará para a Eternidade! Como um canto de beija-flor, perdido no bosque da vida aquele prado, de parda cor que dava para a rua esquecida. Atravesso o percurso sorridente sem medo; Só e alegremente. A vida para traz vai ficando na calçada, desenhada e perdida que é de lembranças preenchida; que no horizonte se vai guardando. Acordei com vontade de escrever este soneto, apenas este soneto.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Flogose XIX

O preludio de um outro dia. O sol queima o chão como faz sempre, nesta região maltratada. Até as árvores, que já foram robusta e fartamente verdes, já não possuem o vigor de outrora, pois o marrom e palidez de seus corpos diz que estão tristes. Caminho até a margem do rio e lá me deixo por horas na esperança de observar algo além do sadismo natural, mas volto aos meus aposentos sem que a tristeza tenha ido. No rio as coisas não são muito diferentes. Lá encontro a vida subaquatica lutando com seu habitat. Encontro algumas vezes outras vidas saindo de seu universo para buscar saúde acima dele. Caminho pelo cinza, mas não vou tão longe. Acosto-me sobre alguma árvore e vejo a vida transuente. O barulho e o movimento. O som e a agitação exacerbada. Hoje isso é praticamente tudo que se encontra aos arredores, com exceção das madrugadas que espantam, as vezes, pela falta de ruídos grotescos e inexpressíveis. Se há algo que defina a vida urbana é, com certeza, o barulho. Este, talvez, é diferencial mais nítido. Mesmo porque a falta de natureza já tem se espalhou por todos os cantos como uma epidemia. Espero que venha logo outra estação e leve consigo esta natureza morta que há por toda parte. Assim, quem sabe, o céu resolva florir-se também.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Flogose XVIII

Olhei-a nos olhos e disse: "Eu te garanto que teremos dificuldades. Eu te garanto que um dia um de nós ou os dois vão querer pular fora, mas eu te garanto, acima de tudo, que se eu não te pedir pra ser minha eu vou me arrepender pelo resto da minha vida, pois em meu coração você é única pra mim..." Ela sorriu e me abraçou. O que falta à gente? Corremos o risco de nos arrependermos por medo, de modo que as oportunidades vem e vão a medida, algumas refletem em outras, e mesmo assim não agimos. As palavras queimam a garganta em algumas vezes, mas é nessa vezes que elas precisam sair de dentro de nós. E elas normalmente saem, contudo não encontram os ouvidos certos. O que nos faz mover? o que nos fazer sentir? o que nos faz querer ir além de tudo que já fomos? Realmente não sei! Sei apenas que não devemos parar e esperar as coisas mudarem, pois elas não mudaram. Se quiseres ser abraçado procure alguém que lhe possa abraçar. Se quiser ouvir palavras reconfortantes procure-as. O lema da felicidade deveria começar com algo do tipo: Nunca pare ou atravesse tudo... Assim deveriam ser as coisas que falam sobre felicidade. Eu quis que algo... Eu quis ouvir... Eu quis sentir... Eu quis... tudo parece passado, sempre usamos, de algum modo, o passado para falar sobre coisas e isso não deveria fazer parte do cotidiano, pois deveriamos sempre estar em ação. É triste dizer "eu quis", pois parece que perdemos alguma coisa ou deixamos de lutar por ela.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Flogose XVII

"Receio vem em tudo que é forma e tamanho. Algumas são pequenas, quando fazemos algo ruim por uma boa razão. Algumas são grandes, como quando decepcionamos uma amiga. Alguns de nós fugimos da dor do receio, fazendo a escolha certa. Alguns de nós temos pouco tempo para receio, pois estamos esperando o futuro. Algumas vezes temos que lutar pra entrar de acordo com o que passou. E algumas vezes enterramos nossos receios, prometendo mudanças. Mas nossos maiores receios não são por coisas que fizemos. São pelas coisas que não conseguimos fazer. Coisas que não conseguimos dizer que poderiam salvar alguém que gostamos." Escolhas. As escolhas tem tomado grande parte de meus pensamentos. Não por orientarem, de certa forma, o cotidiano, mas por dizer quem realmente somos. Escolher não é coisa fácil. Há um temor que cobre nossos pensamentos quando temos que escolher por uma ou outra coisa. O pior não é escolher, mas o ressentimento que pode haver nela. Além da escolha temos que suportar o receio, mas algo diz que isso nos faz sermos maiores. As vezes gostariamos de ter feito coisas que não fizemos, e esse sentimento consome tanto que começamos a duvidar das coisas que fizemos. No fim descobrimos que não são as escolhas que nos move, mas o receio de nada escolher.

Flogose XVI

"Te amo, mas escolhi as trevas" As vezes não queremos falar de amor. As vezes é dificil falar de amor. Falar de amor é sempre complicado, pois remete a um sentimento tão profundo e particular que dá medo. Gostaria de entender como o amor funciona, assim talvez conseguiria amar melhor alguém. Lembrei-me hoje: "A primeira mulher que amei plenamente, com toda a força do meu corpo e a alegria de meu coração, revelou-me os risonhos segredos do universo. Aprendi com ela as respostas para as únicas quatro perguntas que merecem ser formuladas: O que é sagrado? De que substância é feito o espírito? Pelo que vale a pena viver? E pelo que, tudo dito e feito, vale a pena morrer? A resposta a todas essas indagações é a mesma. A resposta é o Amor. Apenas o Amor." Há alguns que não partilham minhas percepções, sem dúvida. Quando digo que todas as minhas mulheres são beldades deslumbrantes, há quem proteste. Não, não, dizem eles, o nariz desta mulher é muito grande, a outra tem quadris largos demais, os seios de uma terceira são muito pequenos... Vejo essas mulheres como são de fato... Gloriosas, radiantes, espetaculares, impecáveis... porque não sou limitado por minha vista. As mulheres reagem a mim como o fazem porque sentem que procuro a beleza que habita dentro delas, até que prevaleça sobre todo o resto. E depois... as mulheres não podem resistir a seu próprio desejo de liberar essa beleza e me envolver nela. Talvez o amor esteja nisto. Nesta falta de limitação que em mim habita. A beleza é bem mais bela do que jamais poderiam imaginar. Limitar-se é perder o direito de gozar a beleza natural das mulheres, isso, sem dúvida, não me farei. Amaríamos se nunca tivéssemos ouvido falar do Amor? Se a palavra 'Amor' nunca tivesse sido pronunciada por ninguém? É tudo imitação da arte, inclusive o Amor? O que você pode saber sobre o grande amor?

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Flogose XV

How we operate Gomez Calm down And get straight It's not our eyes (?) It's how we operate You're true You are I'd apologize but it won't go very far Please come here Come right on over And when we collide we'll see what gets left over A little joy A little sorrow And a little pride so we won't have to borrow Wherever you lead, I'll follow (...) Como funcionam? Outra hora explico!

Flogose XII - Parte II

"O céu colabora na nossa vida íntima, vive connosco, acompanha-nos na mudança do nosso ser; é um confidente, é um consolador; invoca-se, fala-se-lhe. Olhar o céu é, nos nossos climas, uma ocasião de viver: instintivamente, voltamos para ele os nossos olhos. O poeta meridional, cheio de imagens e de cores, contempla-o; o burguês trivial, admira-o; pela manhã, abre-se a janela e vai-se ver o céu! É um íntimo sempre presente na nossa vida; o nosso estado depende dele: enevoado, entristece-nos; claro e lúcido, alegra-nos; cheio de nuvens eléctricas, enerva-nos. É no Céu que vemos Deus... E mesmo despovoado de deuses, é ainda para o homem o lugar donde ele tira força, consolação e esperança. A paisagem é feita por ele, a arte imita-o, os poetas cantam-no." Eça de Queirós, in O Egipto. O céu é uma das especialidades - talvez apenas a palavras - dos seres humanos. Gostamos de pensar no céu. É de lá que vem nossas inspirações e para lá que vão nossos desejos, nossos sonhos e nossas esperanças. O céu é como uma caixa mágica onde ficam todos os nossos pertences. As vezes quando precisamos de fé nos sentamos deixado dele (do céu) e esperamos até que ela caia. E ela cai. Do céu cai muita coisas. As vezes anjos descem de lá para visitar-nos. Anjos dos mais sapiêntes para nos consolar e mais, nos ajudar com alguns obstáculos. O céu é as vezes um rio negro que fica em cima de nós, onde nos banhamos sempre que estamos sozinhos. Poderia inventar milhares de teorias sobre o que o céu representa e a mais tentadora seria de que o céu é a salvação. Essa é a melhor de todas. Há lenda que conta - ninguém me disse, mas eu sei - que existe uma escada que sai daqui da terra e vai direto para o céu. Esta escada é por onde algumas pessoas sobem e outras descem. E eu tenho quase certeza que a família vem por essa escada e... O céu é porta por onde os sentimentos mais notáveis passam todos os dias, basta nós sorrirmos para eles. O céu é um para cada pessoa. Cada pessoa deve saber bem o que fazer com o seu céu, sua caixa mágica. Gosto de lembrar, as vezes, que o céu é para todos, e disso só não sabe quem não quer. E na caixa mágica guardarei agradecimentos e desculpas, pois o dia de hoje é, memso para o céu, único.

domingo, 10 de agosto de 2008

Flogose XIV

"Ser racional não é senão a abertura permanente à discussão pública e esta abertura é necessária porque somos falíveis. A liberdade de discussão pública não é meramente uma opção política; é a única maneira que temos de descobrir a verdade, porque essa é a nossa condição humana." Desidério Murcho. Nem a racionalidade é a mesma. Desidério ficaria desapontado com racionalidade atual. A discussão é parte de uma parte remota da perspectiva de racionalização dos seres humanos, e digo isso porque os discursos são hoje demasiados vazios. Sim que há muita discussão, mas de toda a discussão, inclusive a pública, pouco se colhe e relação ao muito plantado. A racionalização tem se tornado, como tantas outras coisas, um conceito tecnológico. Vários são os motivos para que isso tenha ocorrido, um deles é a evolução desarmônica dos meios de produção em detrimento do meio ambiente. De mais a mais a globalização (que já estrapola seus próprios conceitos) explica o porquê de a racionalização estar diretamente ligada ao mundo tecnológico, e não é uma explicação saudável. Sinto apenas pelos sentimentos que jazem enrijecidos neste covil torpo e sem cor.

sábado, 9 de agosto de 2008

Flogose XIII

"O mundo mudou Posso sentir na água, Posso sentir na terra, Posso sentir no ar. Muito do que havia está perdido pois nenhum dos que se lembram está vivo." Realmente, realmente muito do havia do mundo antigo já existe. E digo que não existe, inclusive quem se lembre o que houve no mundo antigo. Hoje a percepção está ofuscada pela avalanche de informações que depositam em nossos olhos segundo a segundo. Quem? Quem imaginarei assistir - como se fosse uma luta de boxe - Guerra em outros cantos do mundo, em tempo real? O mundo realmente mudou. Posso sentir na tela de cristal líquido. As coisas estão tão mudadas que se alguém "perdeu" um evento - no momento em que aconteceu - é só procurar no oraculo que encontrará fotos ou videos daquele evento citado. A teoria do caos faz maior sentido nos dias de hoje. E eu que só queria olhar o céu, as vezes, já tenho perdido o entusiasmo, pois a tecnologia me mostra galáxias que meus olhos jamais poderão alcançar e isso transforma meu corpo em praticamente nada. Isso sim é uma mudança e tanto! Em todo caso continuarei minha investigação celestial... O modo antigo como faziamos as coisas ainda dão gosto a algumas pessoas e eu, como sempre, sou uma delas. Saborear o céu não é pra qualquer pessoa, e muito sabem disso. Assim já evitam-no sem maiores detalhes. O mundo mudou. A vida que era passageira já nem fala por si. Era dos pilotos automáticos (medo!). Que bom que ainda posso controlar meu cérebro.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Flogose XII - Parte I

Era um dia de sol. A luz entrou pelas frestas da janela de um quarto de pisos brancos e de coloração rósea. Havia um silêncio habitual, que minutos depois seria quebrado por um choro magnífico e doce. A voz aguda balançou a harmonia do silêncio, mas a felicidade que o choro trouxe acompanhou-se de lágrimas, que desciam pelos olhos de um senhor – que ansioso – esperava o prêmio em seus rijos braços. O sol criava nuances junto ao choro jovial. Um brilho inexplicável atingia o piso mádido daquele quarto fausto. Aquele sol emprestava, sem cerimônias, seu brilho fulgural àquela alma gentil e doce que agradecia com lágrimas estreiantes a divindade de ver o mundo colorido, como nunca houvera sido. Era o primeiro dia. O primeiro choro. A primeira vez que a estrela de luz magnificente sentia os braços quentes e acolhedores do mundo. Anos se passaram depois disso, alguns anos. O brilho que o sol emprestou, agora era invejado por este astro solitário, que não conseguiu, nem em seu próprio nascimento, ter um brilhantismo tão alentado e deleitoso. Hoje aquele pequenino astro brilha o dia em que o mundo lhe conheceu e ofusca profusamente todas as outras luzes do universo. Como se esperado fosse, assim como o dia do primeiro desabrochar desta rosa de sublimes pétalas – aquele dia de inverno ensolarado e choroso –, chega o dia da saudade. E lhes digo que não é esta uma saudade normal ou tardia, mas uma saudade que nasce antes e cresce antes, antes do querer crescer ou nascer. É uma saudade agradável, que convalida o sentimento de grandeza deste astro que nasceu para brilhar tão mais intenso que qualquer outro existente.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Flogose XI

Que dia é hoje? Estou perdido. O calor corrompeu meu sistema de processamento de dados. :falha no sistema. :falha no sistema. - Não hoje não é dia. (digo a mim mesmo). Hoje é o prelúdio do renascimento. Não vou antecipar nada. As falhas serão corrigidas. O sistema voltara a funcionar, tem que funcionar. Começa a pornograma politíca. Não sei como será este ano e não quero descobrir cedo. Ao menos há gente querendo - não sei das intensões - mostrar o lado sujo. Há muita gente mostrando a sujeira que há tempos estava guardade debaixo dos milhares de tapetes. Já é um passo. A poluição auditiva e visual já está por toda parte. Há um cansaço anormal por toda parte, e uma corrida - até agora legitima e legal - por uma cadeira executiva. Os procedimentos e os ritmos vitais estão normalizados para quase todos os corredores, mas a lista suja implantará obstáculos para alguns corredores. E se algum deles cair durante o processo é porque não tinha adquirido a capacidade para sentar-se na cadeira, assim como não possuem a mesma capacidade os sujos. Até agora o silêncio é maior. Não sei quanto tempo irá durar, mas de qualquer forma gostaria que durasse o máximo possível. É tempo de acordar. De oportunizar-se. De lutar, vencer e entererrar a sujeira fora das nossas vidas. Cuidado com as "Electioneering"!

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Flogose X

Deito no chão frio - depois de ter ligado o som e colocado uma música de letra profunda - e ouço uma música triste e melódica tocar. sinto-me como o chão pálido. Sinto-me condensado a ele. Vou subir ao céu pela escada que hei construir, e continuarei em terra. Aqui serei minha ligação de alma e carne. Subirei e chegarei ao céu e tão logo estarei de volta para reerguer os prédios que jazem caidos sob meus pés. Reeguer estes escombros. Voltarei. Quando voltar - estou certo - de que as coisas não serão como são hoje. Nada será igual.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Flogose IX

Não vou falar muito. Há dias que não deveriamos ter aberto os olhos, e esses é, sem dúvidas, um desses dias. O dia começa e termina sem uma necessidade de ter nascido. Esse é o tipo de vazio que as pessoas deveriam rejeitar na hora, mas ninguém rejeita. Talvez, porque existam necessidades a serem alimentadas ou "sei lá o quê"! É apenas um dia de outros tantos vazios que temos. Nem o espelho resolve nessas horas. Tudo fica comprometido, parece que somos tão frágeis que o conceito de fragilidade se perdem quando nos encontra. Chegamos a ser, como dizem, o cúmulo da fragilidade. A lembrança da chuva de ontem ainda está intacta dentro de meus pensamentos atuais, talvez apenas ela seja o que me faz parar frente a esta tela e escrever, sobre o não querer escrever... A vida poderia ser mais fácil. Já me imaginei acordando um dia e controlando meus sentimentos. - Hoje serei entusiasta! (e eu fui - na útopia). Eu conseguia sentir o que queria sentir. Acordava e sentia-me totalmente aberto a escrever muitas páginas. No entanto, isso não ocorre. Infelizmente! Não podemos controlar, apenas tentas nos dispor da melhor maneira possível. E por isso gosto da chuva. Com ela tudo é mais maleável. Já tenho saudades dela.

Flogose VIII

Enfim a chuva cai. E cai por todo um dia. Tudo parece mais vivo depois do banho desse soro natural. Junto a chuva um vento frio corre pelo ar e faz o corpo tremer como as varas verdes estendidas ao vento. Além da naturalidade destes dias de chuva, em que tudo é mais limpo, mais puro há outros fenomenos que admiro com igual intensidade (a chuva em si é o fenomeno mais belo, talvez, de todos que eu possa descrever). Todavia, gosto tanto mais do reflexo dos objetos nas poças d'água que da propria chuva (é impossível mensurar, mas gosto minimamente mais das poças). Há uma beleza incontestável na água que resta nas poças. Até o céu, este imenso ser, cabe nelas. É ali - nas poças - que o ser e a alma se perdem junto ao céu, escuro e misterioso, de uma noite sem lua e de nuvens laranja-cinzenta. Solidão (não no sentido ruim) é o que a chuva me recorda. É um sentimento que alimenta a alma com prazeres únicos, singulares e que só podem individualmente serem sentidos. Tudo isso é efeito da água mágica.

domingo, 3 de agosto de 2008

Flogose VII

Não somos iguais. Deveriamos dizer isso sempre, mas de algum modo há um querer ser igual, de uma forma diferente - é claro - no entando igual. Há tantas coisas nestas desigualdade de igual, que sempre me perco nestes conceitos. Não é algo fácil de se lidar, nem, tampouco, complexo.É uma tentativa de se encaixar num espaço que não foi feito pra você. Como naqueles casos de quebra-cabeça que alguma peças não se encaixam, mas insistimos - as vezes quebrando-as - para que se encaixem. Pois, enganadamente, acreditamos que estamos colocando a peça no lugar certo. Não somos iguais. Ainda que a desigualdade iguale as coisas as vezes.

sábado, 2 de agosto de 2008

Flogose VI

01 de agosto de 2008. (20:43) Já quase me acostumei ao som natural do blues. Ando e o ouço em passadas e nos barulhentos carros. Isso parece reconfortante, mas não o é na realidade. A cidade tem crescido e amontoado-se, e vê-se isso muito bem na música urbana de péssima qualidade que há por todos os cantos. Antigamente o problema de barulho deveria ser com procissões e as carroças que as acompanhavam. Imagine duzentas e cinquenta mil carroças passeando sobre as pedras... Agora podemos imaginar o inferno que é uma vida urbana, numa capital pequena. Isso me importunou o dia todo. Por isso quis falar. Sair de casa não é uma opção. Não sinto mais essa necessidade, senão nas madrugadas onde as ruas são abandonas e apenas os espiritos valentes ficam e os fantasmas da noite. Dizem que é na noite que tudo que há de ruim sai. Talvez seja mesmo, pois o dom que a noite tem de esconder e aguçar coisas é muito superior ao do dia. E eu que só queria ficar um pouco sozinho, andando pelas ruas sem som (de preferência na companhia da chuva) já não tenho isso. As maquinas dominam, com seus motores e suas baterias. Vou admirar o céu e as estrelas a calmaria que há neles me deixa igualmente calmo. (22:01) Impressionante como o céu as vezes cabe no olho gente. E como deixamos de pensar repentinamente quando isso acontece. As vezes fico olhando para o céu tentando lembrar das vezes em que estive em uma roda gigante. A roda gigante sempre foi meu brinquedo favorito, não sei bem porque mas era. Não havia muita diversão em ficar rodando numa velocidade baixa por alugns minutos. avia o vento que despenteava o cabelo. Ah! a roda gigante. Parece que a gente fica mais velho e esquece das coisas maravilhosas que fizemos no passado. E volto ao céu constante e negro na esperança de enxergar a roda gigante. As vezes quendo eu estava no apice da roda gigante eu abria os braços crente de eu poderia voar.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Flogose V (parte 2)

31 de julho de 2008. Parte II. Ah! Sartre. Era noite e, ainda sem café, peguei meu exemplar “Esboço para uma teoria das emoções”, gostaria de dizer que está é uma leitura divertida ou cômica, mas não é. Por outro lado, é totalmente mecânica e cientifica. Acendo um cigarro, como fazia Sartre, e tento destrinchar a pergunta o que é uma emoção. Todavia, faltariam cigarros até que eu chegasse a uma conclusão meramente sensata. É preferível andar sem rumo e procurar entender porque o fez, do que ler uma teoria (ressalto que não é uma teoria qualquer, nem inovadora. Mas, ao contrário, é um estudo sobre estudos de emoções) da qual pouco se entenderá – a menos que já tenha lidos outras teorias no mesmo contexto – sobre o que explana. Enfim, a emoção é o ponto de partida para um estudo sobre o comportamento humano, comportamento, diga-se de passagem, sensorial e somático de cada ser, imagino eu que não sou cientista. Vamos partir do pressuposto de que a emoção é um fenômeno. Ao enquadrarmos a emoção nesse conjunto podemos concluir que a emoção, em tese – da minha cabeça é claro – é uma expressão do interno ao externo do ser humano, uma vez que levamos por base que a emoção é um fenômeno relativamente involuntário do ser humano, no ambiente ou na situação em que vive. A emoção, qual poderíamos traduzir em abalo moral, estende-se amplamente podendo ser vista com raiva, alegria, felicidade dentre outros exemplos. Quando penso em emoção vem a minha mente a idéia contrária, aquela: Como seria a vida sem ela? E logo em seguida vem a resposta: É como imaginar o céu sem seu negrume habitual. Ou seja, a vida será monótona. Realmente seria! O fogo inicial já é agora brando, e nesse ponto de fervura é melhor deixar o composto se formar antes de adicionar outros elementos. A emoção sempre será tema de alguma coisa, pois é um tema inesgotável. Agora só quero fumar o último cigarro do dia e me absorver nos pensamentos sociais que me encharcam. Andarei em círculos e tomarei do café recém preparado, justamente para essa ocasião. Deixarei também o pensamento refratar da mente para o espaço físico, e assim, talvez, eu veja melhoras nos entendimentos... Tenho fé que verei, pelo menos o café me dá essa esperança. Último dia julhino. Poucos minutos. O tempo se evapora como água em alta ebulição. A mingua de pensamentos, dou-me por satisfeito com as sensações que tenho sentido. Fecho os olhos e posso voar, como nunca o fiz antes. E talvez só o possa fazer por não estar pensando tanto. Não que haja um interruptor entre os pensamentos e as sensações, que quando um liga o outro desliga, mas ambos estão separados e agindo de forma infinitamente melhor. Um violino soa tranquilamente pelo ar e reverbera em todos os ambientes deste invólucro vazio, fazendo-o encher de fusas e semi-fusas. A música contrasta o ambiente em tons cinzas. O café é o único ponto negro do recinto, pois até o vapor que lhe sai é cinza doce. Um violino soa enquanto as horas passam desapercebidas. Uma música triste inunda os restos de emoções que por todos os lados se vê. Emoções hibridas, quebradas, refeitas... Emoções e sentimentos. Um violino soa... e dorme com seu próprio som sorumbático. E o julho de emoções e sensação esta por acabar.