quinta-feira, 31 de julho de 2008

Flogose V (parte 1)

31 de julho (madrugada) Quando a água morna caiu sobre meu corpo arrefecido pelo tempo gélido da madrugada, veio-me a lembrança de um alguém especial, que possui palavras mais especiais ainda. Sabe quando se destrai e aparece uma mensagem mental... (não foi assim que aconteceu) mas poderia ter sido. Foi mais ou menos o contrário. Quando a água depositou-se sobre meu corpo eu já pensava nela e água ajudou-me a lembrar o que eu realmente queria ter lembrado... Na realidade a idéia do "hoje não quero falar de amor" passou tão efemeramente que tive tempo para não pensar, ainda que eu continue sem querer falar. De modo que pensei em escrever, já que falar não resolveria (ou melhor não era uma opção). Vasculhei minha memória de Florbela e encontrei, bem no fundo, um poema inspiradores Dela de nome "Escreve-me". Eu diria que, se fosse um filme, seria um dos mais conhecidos do autor, mas como é um poema (uma rosa) no enorme jardim plantado por Florbela, não ouso rotular. De qualquer forma, quero começar a primeira parte da minha quinta flogose com este poema de nome e autor já citado. Escreve-me ... Escreve-me! Ainda que seja só Uma palavra, uma palavra apenas, Suave como o teu nome e casta Como um perfume casto d'açucenas! Escreve-me!Há tanto,há tanto tempo Que te não vejo, amor!Meu coração Morreu já,e no mundo aos pobres mortos Ninguém nega uma frase d'oração! "Amo-te!"Cinco letras pequeninas, Folhas leves e tenras de boninas, Um poema d'amor e felicidade! Não queres mandar-me esta palavra apenas? Olha, manda então...brandas...serenas... Cinco pétalas roxas de saudade... Florbela Espanca Ainda não quero falar de amor, o tema pesa em minha mente como se pedra em água doce. O próposito, no entanto, já foi atingido... O préludio, que a noite e o banho, souberam tão bem avivar, já está pronto. Gostaria de plantar outros pensamentos e colhe-los logo após o plantiu, entretanto essa idéia me incomoda, tanto pela prematuridade da colheita, quanto pela falsa sensação de conseguimento. As vezes preciso abastecer-me de palavras e conceitos para enfrentar esta tela. Talvez isso justifique a leitura de Sartre e outros autores conceituados. Ou talvez não. Contudo, isso ao menos justifica as madrugadas, que já duram horas e horas... Da qual só sinto pela falta de café!

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Flogose IV

30 de julho de 2008. Começarei dizendo que Hoje não quero falar de amor. Principalmente por que este assunto tem tomado muito do meu tempo, não ativamente e sim passiva e omissivamente. Tenho me tomado de sentimentos que desconheço – quando digo desconheço é porque realmente não sei quais são – e isso tem me deixado um tanto desconcertado. Já que eu disse que não quero falar de amor é porque não quero mesmo e me justifico. O amor é um sentimento nobre e cruel ao mesmo tempo. Ele é o tipo de sentimento que dá e tira, sem motivos aparentes. E isso deve bastar, por hora. Não tenho problemas com este sentimento, e acredito que ele também não tenha comigo. De qualquer forma falar de amor é duvidoso no estado em que me encontro – não falarei deste estado porque não convêm falar – assim prefiro silenciar. Escrevi algo sobre isso agora pouco, antes de querer me dilacerar nesta folha digital de papel branco e dei o nome: Hoje não quero falar de amor. É um soneto. Não tão poético como outros que já andei escrevendo, nem tão romântico, pois o tema já sugere coisas alheias ao romantismo, acredito... Entretanto tentei resumir esses pensamentos que passavam em minha mente. E advirto, inclusive a mim mesmo, que o poema não tende a ser racional ou lógico, caso não for. Eis o poema: Hoje não quero falar de amor. Hoje não quero falar de amor... Nem, contudo, hei ser ouvinte Testemunha do seu requinte Carrasco da sua leal e cruel dor. Hoje não quero falar de amor... Pois seriam palavras vazias Chamas esgotadas, chamas frias... Numa boca suja e indolor... Hoje não quero falar de amor... Não quero falar de nada... Não quero... Não quero, somente! Hoje não quero falar de amor... Quero toda palavra silenciada Como o silêncio do amor silente. Encerro o assunto com o poema, e não haverei, por enquanto, tocar nesse tema principalmente por haver muitas outras coisas a serem ditas, afinal sempre há o que ser dito, mesmo quando não está a fim de dizer. Pensei em falar sobre o código absoluto hoje, mas não sei se é hora. Quer dizer, talvez seja a hora, mas estou sem paciência para escrever sobre coisas absolutas hoje. Gostaria de estar tranqüilo com minha consciência para abrir os poros deste novo rumo de prosas, no entanto, não estou. Hoje tudo poderia parar no espaço e no tempo, que não sentiria diferença. Não falo como um tipo de caos particular – parece até um tema de MPB – mas como uma forma de observar que as coisas passaram e não me dei conta disso. “Isso” acontece e germina outros fatos correlatos, a exemplo a falta de lembrança de um dia assim. O ponto crucial disso tudo é que a explicação sobre o código absoluto ficará pra outro dia, assim como resto de tudo que tenho pensado agora.

Flogose III

29 de julho de 2008. Que dia! Que dia! Se alguém me perguntasse porque assim estou, diria, sem sombra de duvidas, que por ti meu sol de cada dia, ainda que teu brilho não tenha sido o mesmo de sempre. Oh! Sol como brilhaste lindamente hoje. E como sua companhia foi fabulosa. As flores pareciam chorar de alegria à sua presença. Queria eu poder ter ouvido “uns versos” enquanto te fazia companhia... E como se não bastasse o dia, que de tão lindo chegou a enojar, crepúsculo soube tão magnificamente, senão apoteoticamente, fechar as paginas de uma pulcra poesia natural. Mas não foi o dia, mas a noite que aguçou os instintos romanescos que habitavam o corpo... A lua, Oh! Belíssima Lua mostrou-se divina. Que contraste havia entre o preto e o branco. Que circulo perfeito. Que perfeição. Um sorriso perdeu-se em meus lábios por horas, e eu apenas a admirar aquela lua que, de modo audaz, soube me tirar todas as palavras... Gloriosa seria o mínimo que poderia dizer desta estrela brilhante de sorriso lindo e alvo. O manto negro que lhe cobria parte do corpo não poderia ser mais excitante. A lua numa pequena parte cintilava, como louça nova. Uma beleza nunca vista, nem sentida... Tal foi a cena que, senão pela distância, haveria agarrado-a e despido-a do manto negro, pois havia uma paixão entre meu cosmo e o brilho da lua. As horas passam e voam. E ainda vejo a lua suspensa. Quero-a e como a quero. Será ela um dia minha, só minha? Penso. Espero que seja! Espero. 20 h. Uma tempestade noturna. Não apenas são sórdidos os pensamentos, mas chegam a ser cruéis e nefastos. Voltando para dezesseis horas antes. Meu entendimento sobre paixão e ódio já é melhor do que foi. Já entendo também que há possibilidade de coexistirem estes sentimentos num só coração ou mente. Talvez pelo fato de alguém ter dito que a vida é melhor quando vivida, e que as vezes as pessoas se comportam estranhamente, mas só as vezes, como se não buscassem a felicidade. Em partes é aceitável o pronunciamento, mas não sei se é conclusivo. Pois todos, em algum ponto, vivem para/por algum propósitos, uns no campo ativo outros no campo omissivo, mas os propósitos são incontestáveis. Há muito tempo atrás fiz uns olhos brilharem, como um piso branco recém polido. Havia graça nos olhos conversadores e simpatia, alguém disse – e isso é o que todo mundo quer dizer e sentir. Adoráveis tardes, noites e madrugadas a fio... Um mundo depositado numa caixa branca e, em vezes, azulada. Nasciam os dias findavam as noites e tudo era o que deveria ter sido, uma especialidade da casa. Como se pudéssemos pedir a La Carte pelos tipos de sentimentos que queríamos sentir e na realidade os tínhamos todos os dias servidos à mesa, como numa utopia em que voamos sem asas e nadamos por horas sem respirar. Como em todo bom roteiro, a vida não seria menos bela, nem menos improvisada. E as utopias que antes eram mares de rosas vermelhas, agora já não o são. Um dito popular reza que “tudo que é bom dura o essencial” e não era pra menos nesse roteiro realista. Sem dar contas do que aconteceu, outrora, fui perdendo tudo o que havia construído. Edifícios de pensamentos construídos agora caem sob meus pés e eu – quem sou eu nisso tudo – apenas observava admirado os escombros. De inicio pareceu um teste, um árduo e passageiro teste. Contudo, o tempo desgastou tudo. Não havia teste. Era uma atuação autêntica, um astro e uma estrela, ambos na mesma cena – uma contracena magnífica, digna de tragédias gregas – discutindo sobre o peso do tempo nos ombros. Paixão e ódio. Esse era o enredo. E a peça – que não tinha público – era aplaudida, sabe-se Deus por quem. Paixão e ódio, sim! Eu os conheci aquele depois este. Os dois flamejantes. Bebi de ambos e de ambos gostei... Ninguém dirá que não há semelhanças entre a paixão e o ódio, pois ambos aproximam as pessoas... Ambos fisgam os pensamentos e faz-nos pensar perdidamente por horas e horas, cada qual na sua trama particular. Ainda que não seja segredo que todo sentimento crie uma ligação entre os protagonistas. Um discurso sobre a paixão seria perfeito para complementar um discurso sobre o ódio. Um discurso curto, tipo: a paixão é o ódio sem raiva, cuja criação dependente de um fogo brando onde os elementos pessoais possam se misturar e ligar-se inseparavelmente. Dependo sua estabilidade da manutenção dos estados físicos iniciais. (Ou coisas do tipo. Axiomas sem um profundo estudo sobre os temas). Não estou preparado para isso, realmente não estou. 22 horas e 49 minutos. Volto a pensar na madrugada... Vem a mente uma coisa (um pensamento), escrevo: Era madrugada quando as palavras ásperas começaram a jorrar das mãos longínquas e arrefecidas pelo clima noturno – os pensamentos sobre paixão e ódio parecem grudados em minhas falanges agora – havia uma estranheza no ar, uma estranheza anormal, muito anormal, no ambiente. A lua suspensa no céu (esconde-se novamente) e o céu suspenso em meus olhos pétreos. E como as estações e as mudanças lunares são estas fases de ódio e paixão. Repentinamente muda-se a fase. Uma termina outra começa. Novamente um ar de paixão, mas muito mais frio que o d’antanho. Paro de escrever. Já não há espaço para pensamentos passionais. Redijo um outro pensamento, a contra-senso da consciência, que desperta, de uma hibernação longa, idéias empoeiradas, cujo teor é incerto. Todavia, o tempo escasso já o é também. Assim como qualquer pensamento passional... - Para onde fui? Para onde? Fiquei muito tempo aqui e aqui e aqui e aqui também... E ainda é inverno, me diz a noite.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Flogose II

Entre 27 e 28 de junho de 2008. Volto ao antigo papel. Volto ao hábito antigo na esperança de encontrar nele as palavras que hei perdendo. Aquelas que vinham perdendo na constância do tempo, junto ao formato das minhas letras de rabisco. Outro hábito que venho perdendo é o que querer escrever, talvez pela falta de prática, talvez pela falta do que escrever. Minhas perspectivas nas atuais conjunturas já não são as melhores... Nem o céu, que coadunava com as palavras de outrora, tem ajudado a inspiração. Se fosse eu pintor, não haveria quadros há tempos. Saiu do meu quarto e vou brincar de jogar estrelas no céu, felizmente está dando certo, pois elas voltam a aparecer. E melhor que brincar de jogá-las, é vê-las brilhar com intensidade tal de um sol gigantesco. Continuo a brincadeira, saudoso dos tempos em que elas me eram inspirações. Sinto um frio sair do solo e percorrer meu corpo. Esse frio que atravessa as costas e chega ao estomago é solicito e bondoso, permanecendo por um tempo valioso dentro do meu corpo, tempo que me faz lembrar dedos paralisados e cólicas neurais... Volto a brincar de jogar estrelas no céu. Brincando milhões de estrelas aparecem naquele céu negro de antes. E continuar brincando é um mal, e sem dúvida, um prejuízo para as memórias das navegações em alto espaço, de quando as estrelas eram meus guias pelas correntes espaciais e pelas nebulosas explosivas. Oh! como fazem falta aqueles buracos de verme. A metafísica era uma companheira inseparável de aventuras mil e de viagens pitorescas pelo universo em expansão. Navegar naquele mar negro era com o andar por labaredas frias, e nadar no mar gélido de fogo, pois achava ali uns sentidos nunca antes experimentados, cujos olhos não descreveriam com pericia e autenticidade. Hoje o céu – que aparenta ser de gelo – atravessa o vidro da janela e os ferros que sustentam a janela suspensa da porta, que se encontra aberta, e junto ao céu um arrefecido vento se anexa ao quarto sorumbático, da qual me aposento. Tudo, que jamais foi cáustico, é agora mais frígido. Meus olhos fisgam a friagem e dá a ela minhas pupilas como sectárias, crente de que assim terá fechado os olhos para um mundo e aberto para um microcosmo mais audacioso e mais produtivo, ledo engano. Já faltam poucos minutos para o próximo dia e a noite não tem nada de soporífera, ao contrário, é anti-soporífera. E é nesta noite que o sono resiste, e é tal a resistência que vejo inutilidade na tentativa precocemente fracassada de lutar contra ele. O outro dia chega com uma suavidade mortífera e amável. A suavidade é tamanha que não restam lembranças do dia anterior, senão aquelas enfadonhas palavras. A letalidade do dia é tão simpática que, ainda que carrasco, seria um privilégio beijar-lhe a mão, como honra por desferir-me um dolente soco na face. E não haveria no dorido hematoma sinais de contrição pelo beijo dado. Outro dia. Outra hora. A lua aparece ligeiramente alegre e estampa uma sorridente alvo-negrura (combinadas e arredadas, por uma linha curva) que contrasta com o negrume do céu, assolando todo o espaço sideral, juntamente aos pontos cintilantes que circundam a alvo-negrura. Este sim é um céu! O infinito dentro de uns pontos longínquos que hoje cabem nos olhos marrons meus. A quarta hora está prestes a badalar num quadrado e antes que ela protagonize este dia por três mil e seiscentos segundos, meus pesadelos já protagonizarão minha mente, meus sonhos... mas não por muito tempo, pois um peça preta protuberante falará em meus sonhos, pois é promessa. E falará!

domingo, 27 de julho de 2008

Flogose I

27 de julho de 2008. (original do papel) Hoje a noite é coberta por um manto negro. As luzes ou pingos delas falham aos olhos, que projetam-se numa imensidão estranha e convulsante. Mais estranho que isso só as músicas atípicas que já tocam por horas e horas, sem que os espectadores as queiram tirar. Um tom selvagem toma conta do dia ou da noite. A lua sumiu, e [ao que vislumbro] nem pensa em mostrar sua face, por hora. (talvez, penso eu, que esteja magoada com as coisas do mundo, ou apenas com o mundo.) O que resta são sons de caixas batidas e trovões de sapatos colidindo com o inconspícuo solo sujo. Já não vejo o sol e nem ele me vê. Opção nossa! E, ao passo, dos tempos, as coisas continuam sem excitação. Hoje me deparei com um nada. Escrevi e li, confesso, mas não me resta nada além dessas palavras acabas e solitárias. E elas muitas vezes se perdem dentro desse mar branco e frio. A vida parece normal, tanto normal que as arvores, qual fiquei admirando, movimentaram-se tão docemente que por pouco não me ousei dançar com elas, mesmo naquela rua abarrotada de buzinas e freadas. E não que eu seja um bom dançarino, mas que a dança era convidativa. Quando fugi disso, que tentei não rotular de loucura, voltei aos meus antigos hábitos, o que observar é o mais protuberante. Observar, sim observar. Parece até um momento trágico da vida, e talvez seja, mas não vejo motivo para não observar as coisas. Voltando para a noite, ela não é agradável. Nela tudo parece imóvel e sem vida, como se um beijo, mas não daqueles que damos nas janelas molhadas suavemente pela chuva torrencial, cuja marca fica muito tempo depois dela... Um beijo daqueles que forcosamente oferecemos ao chão, sem querer, depois de ter a consciência perdida. Hoje, neste dia lamacento, poderia sentir sentimento nenhum, senão este nada, este vazio insípido, inodoro e incolor. As vezes eu gostaria que existisse um controle, daqueles do tipo que você pega e controla tudo o que quiser controlar, de modo que poderia afastar todos estes sentimentos do corpo, assim como esta falta de cor do céu ou fazer aparecer a lua no céu ou, ainda, criar uma chuva do nada... Como seria bom criar chuvas! Acordei! Não existe chuva... Existe! Mas ela se recusa em aparecer. Eu poderia implorar, invés disso espero. Esperar é um dom. É um tipo de arte que aprendemos. Uma tela branca e tinta preta. Uns riscos e outros rabiscos. Só preto e branco. Uma linha horizontal e alguns poucos círculos. Isso é a espera. E ninguém melhor que a tinta preta para ilustrar as circunstâncias. Uma tela: Um círculo preenchido, no meio da folha branca. Uma linha vertical que começa da parte inferior do círculo. Pouco abaixo do circulo, de começo na linha, do lado esquerdo, uma linha curta e reta, e outra, de igual tamanho, do lado direito. No fim da linha vertical duas linhas diagonais de igual tamanho. No fim das linhas diagonais uma linha horizontal. Bem acima do primeiro círculo outras linhas onduladas, que se completam e se fecham em si, em forma de uma elipse, deformada. Alguns riscos, sem sentido. Rabiscos finos e curtos. E uma espera. Um microcosmo. Um universo descimento. É o que há por toda a parte. E as soluções espalham-se sobre os cantos negros deste universo, soluções de nuvens, soluções de luzes que piscam argênteas. Soluções de sentimentos perdidos, perdidos como os pensamentos que se evaporam, como água em fogo bravo. Nuvens de vapor, estrelas invisíveis e sentimentos aquosos. Soturnamente a noite continua sem batimentos. Amordaçada a lua chora escondida, num lugar onde só ela se encontra, só ela se acha. Lugar este que queria eu para mim! Espero por minhas asas e invejo os pássaros raros que aparecem. Um dia eu encontro-os num céu claro, de chuva fina e sentimentos brandos. Um dia...

sábado, 26 de julho de 2008

Primeiro Contato...

Acabo de acender meu primeiro-último cigarro ou último-primeiro (já que a ordem dos produtos não altera os fatores) e nessa magma cinza que flutua - cinzenta em frente aos meus olhos - castos - e marrons, senti vontade de lhe responder... Daqui [desse mundo fechado... como as conveniências desta cidade amarga e trágica] doente os pensamentos são meros produtos de um meio verde e verde claro, escuro e triste e bom... As andanças - quem dera tê-las ao meu poder para melhor lhes dar importância - são aquelas de sempre... Aquelas, qual não me recordo... Aquelas que são cores paralelas, a qual deveríamos chamar listras ou escalas... Continuo (ou Contínuo) neste estado de querer voar sem asas e ir tão distante e velozmente como se em uma Ferrari desta fórmula televisiva... Meu primeiro-último cigarro acaba e ainda penso... - O que devo escrever (e a interrogação não sai) assim como não saem os pensamentos presos nesse cubículo... Quando dou por mim, minhas interrogações me transferem o olhar ao teto... Este teto branco – de uma madidez sórdida – cujo ventilador, acostado nele, é meu único sectário... Nesses meus acessos de loucura, mantenho um dialogo com o ventilador, que sopra com as mesmas palavras... Como se repetisse mantras, por toda a noite. Todavia, é nele que me apego e no teto! As vezes me pego olhando ao teto esperando que nele apareça uma boca vermelha, de vermelho batom, com palavras vermelhas a proferir-me. E quando me dou conta de que o teto ainda esta mádido, sinto que podemos ser novamente confidentes, de modo que o ouço através do sopro apoteótico do ventilador de teto, que, com suas rotações por minuto, repete inúmeras vezes, a mesma palavra... Envolve-me, neste instante, a vontade insuportável de queimar o meu segundo-último cigarro, e como a vontade fumígera outras veleidades protuberam... Começo a queimar o cigarro, que lentamente descarrega sua morte em meus lábios e é esta o tipo de morte que gosto de observar, que é uma morte natural, lenta e torpe... E como o enregelado fumo, de ponta laranja e cinza, são os pensamentos em minha mente, pois eles deleitam-se quando se queimam e queimam-se no teto mádido do ventilador de teto conversador. Essa névoa cinzenta ronda o ambiente frio e aquele cheiro de morte, que lhe disse, entope as narinas minhas como um bálsamo Frances de qualidades notáveis... Esquecer o teto é fácil quando acompanho a morte de meu produto fumígero, uma vez que somos – eu e ele – homogêneos, contudo diferimos por ser eu o carrasco. Quem dera ter eu uma mente poluta ou casta. Meus pensamentos são a mim, agora, como remédios paliativos que me melhoram, mas não curam. Pensamentos confusos vão e vem e vão, como ondas de um mar revolto, numa noite de maremoto. E em vão me tento dispersar nas ondas deste mar, cujas ondas eu mesmo produzo – e outra morte acontece. Há já outro mádido corpo depositado neste circulo de bronze, junto a suas cinzas – que eu mesmo encerro. Tudo transforma-se novamente em cinzas e o que me vem a mente é Camões, como uma antítese ao quadro de atividades neurais. Camões fala alto em minha mente, fechada, e grita: Quero achar paz em um confuso Inferno; na noite, do Sol puro a claridade; e o suave Verão no duro Inverno. Busco em luzente Olimpo escuridade e o desejado bem no mal eterno, buscando amor em vossa crueldade. E me pergunto, ainda sem interrogação, por que o Nobre Camões haveria de depositar seu inferno em minha mente, porque haveria de depositar a crueldade que deram a ele em mim... E não sei responder a mim mesmo, nem o ventilador eloqüente o sabe, tampouco o mádido e mudo teto. Um último-último cigarro me resta, mas não resta nada além do cinza. E, por fim, as perguntas sem interrogações começam a serem respondidas, com uma única resposta... Não há compreensão, não há... Só fumaça.